30/10/2007

Tim 2007 - Fast & Strange

A velocidade impressionante, associada às cascatas infindáveis de semifusas, nos dá a impressão de estarmos diante de um Art Tatum moderno. Ainda incapaz de dominar os tempos médios, Eldar Djangirov constrói sua performance intercalando momentos de inacreditável rapidez com sutis frases lentas dotadas de poucas notas. Com isso, fica a sensação de que só ouvimos o início e o final de uma estória que tinha tudo para ser linda, mas na qual, infelizmente, a emoção se perde esmagada por um virtuosismo avassalador e ainda não totalmente dominado pelas jovens mãos do pianista. Mas o que podemos esperar de um simpático e genial garoto de apenas 20 anos que, num rápido bate-papo após o show, mostrou-se bastante tímido e atencioso? Eldar (o sobrenome foi retirado por conselho de seu empresário) começou a tocar aos 3 anos, bastante influenciado, segundo ele mesmo afirmou, por Chopin e Oscar Peterson. Ainda bem jovem, segue com a família para Kansas City e, mais tarde, para New York, onde vive. Compreensível, então, a inexistência de aroma russo em sua música, caracterizada por um misto de Art Tatum, Oscar Peterson, McCoy Tyner e Kenny Kirkland.
Pilotando o insolente piano da UFES (que estava razoavelmente afinado esta noite) e acompanhado de um discreto Rhodes, utilizado com bastante moderação, o trio era formado pelo excepcional baterista Aaron Lowe McLendon e pelo competente contrabaixista indiano Harish Raghavan. Eldar demonstrou seu talento extraordinário brincando com o stride, o bebop, o boogie e, gentilmente e de improviso, com a mpb, numa noite que, se não foi memorável, foi indicativa de que o jazz está prestes a ganhar mais um grande pianista. Depois do jazz, tivemos uma delicada e saborosa sessão de cabaré com a cantora sueca Lisa Ekdahl – só faltaram cigarro e vodka, coisas ruins que mamãe e a direção do Tim proíbem. Injustamente massacrada pela crítica como esganiçada e pouco convincente, é claro que ela não tem a extensão vocal de uma Sarah Vaughan, que vai do soprano ao barítono sorrindo, nem possui aquele hipnotismo sedutor de uma Billie Holiday, mas a moça deu o seu recado de forma agradável e despretensiosa, desfiando temas infalíveis do great american songbook, além de algumas canções em sua língua natal. A banda, montada às pressas para o Festival, não tem nada de incompetente e ridícula como a maioria da crítica afirmou. Houve bons momentos sim, em sua maioria discretos e sutis, com destaque para o tranqüilo e aconchegante trompete, sempre coerente com os apelos da voz misteriosa e indecifrável de Lisa. Foi uma noite bastante agradável. Só senti falta de Stefano Di Battista em Vitória. Numa próxima, quem sabe?

John Lester & Eldar - Vitória 2007

17 comentários:

Anônimo disse...

nocivo esse eldar!!!

Anônimo disse...

OI...

Anônimo disse...

oi linda...

Anônimo disse...

esse tal de eldar nao toca nada, parece um robô com defeito

ReAl disse...

Compartilho algumas impressões com jazzseen. Meus senões ficam para a Elisa.

Anônimo disse...

Depois dos comentários acima, não preciso dizer mais nada sobre o malfadado festival, dito de jazz, da tim.

Anônimo disse...

Quando o jornalista João Marcos Coelho (um dos três melhores textos em atividade sobre jazz e musica erudita no pais), numa entrevista, indagou a excelente cantora Betty Carter qual o resultado da revolução de Charlie Parker no bebop, recebeu uma enfezada careta.A resposta veio num “knock- down”.Ele não fez a revolução, afirmou ela, ele é a própria revolução,disse em forma quase raivosa ,mirando os olhos do critico, a precocemente falecida cantora(1998).Das republicas federativas q compõem a antiga União Soviética se espera tudo.E tb de um jovem Quirquistanês(suponho os nascidos no Quirsquistão), mais precisamente Bishkek, a capital.Se na antiga Rússia, em 1917, os “bolcheviques” dizimaram a familía do Czar e nem fizeram calçar as botas e galochas a algumas outras ,“abastadas”, ultimando-as a saírem com os pés “flutuando” ou afundando na neve, a Sony providenciou a imigração regular desse jovem, aos 16 anos, e família.Eldar saiu da primeira classe na passagem da barreira alfandegária do aeroporto JFK em NY.A razão dessa expectativa era a descoberta do novo talento pianistíco do século XXI.Assim se criou o suspense e minha própria expectativa pessoal ao comprar seu primeiro cd, há três anos.De titulo simplesmente Eldar, colocava na capa a frágil figura do jovem q tateava um teclado de madeira, em posição contemplativa.O repertorio era quase na totalidade de standarts e tinha a participação do baixista John Patitucci (a quem conheci pessoalmente, de enorme simpatia, há mais de 15 anos, numa apresentação do Chick Corea Akoustic Trio em Boston) e o baterista Todd Strait.A primeira faixa do cd e uma quase cavalgada em disparada sonora.Um “Sweet Geórgia Brown”, acelerado e não “swingado”,quase a velocidade da barreira do som(sic).A segunda, a balada interpretada de forma previsível “Nature Boy” , assim prosseguindo,sem surpresas, rupturas e clima caudaloso e incendiário q se provoca num processo revolucionário , findando o restante do disco.A faixa mais próxima a minha preferência pessoal, “Point of View” , quase um prenuncio, conforme o titulo ,tem a participação do sax-tenor Michael Brecker, outro precocemente morto em (2006). Parecia q o tenor de Brecker queria provoca-lo a mostrar o motivo a considerar as estepes asiáticas pequenas demais pra aprisionar seu juvenil talento.Disciplinado, no método soviético de estudo, q se compõe de três etapas:1-prática,2ªpratica,3ªpratica, num total de 8 a 10 horas por dia, Eldar demonstra fabuloso domínio técnico nos encadeamentos e na assombrosa velocidade.Porém falta-lhe o calor da entrega a atmosfera inspiradora do jazz, particularmente um dos seus elementos o “swing”.Quando exercita esse elemento, parece q ainda habita a sua “dacha” em Bishek e não seu, quem sabe, “loft” em Manhattan.Seus dois discos(Live at Blue Note e Re-Imagination ) posteriores, e o ultimo em q flerta com teclados eletrônicos, lançado no Brasil, são apenas regulares. O critico Ira Gitler, do Walt Street Journal, foi extremamente enérgico com Eldar, num artigo q li.O chamou de pianista robótico do século XXI.Não o coloco dessa forma, talvez um jovem q ainda seja incapaz de entender as expectativas depositadas, de maneira super ou subestimadas em seus ombros, ou no caso, “mãos”. Com direito natural a um tempo necessário e paixão pra escolher e fazer realmente o q gosta e quer , independente da ingerência familiar ou empresarial.Edú

Cinéfilo disse...

JL, sentimos sua falta hoje, no Clube.
Tudo sob controle?
Abraço

John Lester disse...

Estamos de plantão caro amigo. Terça que vem.

JL.

Anônimo disse...

Esse tal de Predador foi ao Tim? Ouviu Stefano di Battista? Ouviu Joe Lovano? Então não fale besteiras!

Anônimo disse...

Besteiras fazem voces, que vão a certos festivais encobertos com a sigla "jazz", pagam caro, e encontram de tudo, mas jazz que é bom, nada. Parabéns, continuem se empolgando com Stefano di Battista, Joe Lovano, Eldar, Cecil Taylor, Conrad Herwig, Neneh Cherry, Cat Power, Paulo Moura e samba de latada, Lisa Ekdahl, para ouvir "besame mucho", forró, rock-fusion, música experimental, bossa nova, etc... Paciência! Tem bobo p'ra tudo.

Anônimo disse...

afranio

eu assino em baixo

vinicius

Anônimo disse...

"Embaixo" é escrito junto.

Anônimo disse...

Quanto ódio, quanta ignorância...

Anônimo disse...

Esperem o menino crescer, gente exigente...

Anônimo disse...

obrigado professor predascoale, "mala" é tudo junto.

vinicius

Anônimo disse...

No dia 7 de novembro se comemora, não naturalmente aqui(no blog ou no país,esclarecendo) , os 90 anos da Revolução Soviética, mas há 33 anos , um musico já provocava a revolução q o virtuose quirquistanês, Eldar ,aos 21 anos,demonstra insegurança e hesitação em tentar.Oscar Peterson, em sentido geograficamente inverso invadiu em forma de exuberância de talento, técnica e sensibilidade a Rússia, não demonstrando nenhum “traço”de insegurança ou ansiedade com essa atitude ,aos 49 anos, no registro de 1974, “Oscar Peterson in Rússia” (2PACD-2625-711).Gravado na cidade Tallinn(Ex-URSS),hoje Republica da Estônia.O cd duplo é destaque relevante na discografia do pianista e certamente um dos mais belos q fez pra etiqueta Pablo, de Norman Granz. A situação geopolítica, realização de um Congresso de “boa vontade” mundial entre blocos ideológicos adversários, colocou o pianista canadense diante de uma desconhecida platéia, no dia 17 de novembro, dez dias após o aniversário da Revolução Russa. Peterson fez três diferentes sets.O primeiro, solo ,o segundo e o terceiro, adicionando um musico de cada vez ,culminando na parte final, ultimo set, com o trio.A audição dos dois cds, 17 faixas, em quase uma hora e quarenta minutos de deslumbrante música, revela q a peça inicial escolhida, pra abrir a noite foi I Got it Bad(Ellington/Webster)recebida nada mais em respeitoso aplauso na entrada.De forma suave , em solo, base do primeiro set,Peterson desenvolveu-a de forma contida, ate mesmo pra sua volúpia, emoldurando a delicadeza da melodia no deslizar dos dedos nas teclas e provocando a sonoridade ressonante do Bossendorfer(Rolls Royce dos pianos).A canção seguinte foi “I Concentrate on You(C.Porter) “standart” de amplo apelo popular,mas definitivamente, não, na terra, a época, dos cossacos.Place St.Henri(Peterson), de sua “Suíte Canadense”, adotada tb pelo repertório de Eldar ,um “spiritual” inicialmente lento, finalizado num crescendo, como a sensação eloqüente de um sermão ao púlpito.E integrante da mesma peça mencionada, Hogtown Blues(Peterson). On Green Doplphin Street (Brown-Kahn),é escolhida para inicio dos duetos ,do segundo set, com o auxilio do musico q produziu o mais belo som de baixo acústico da historia do jazz, Niels Orsted Pedersen..O q fazia resistir a platéia a uma acolhida mais intíma ,no inicio do concerto parece desmanchar-se no ar pela intensidade dos aplausos mais calorosos.Wave (Jobim) inicia-se,de forma comovente , com o transbordar lento das notas,uma a uma, em mensagens praticamente “telepáticas” desses dois companheiros e no dialogo, em forma de musica, entre piano e baixo acústico.Inspirando a evocação da “onda q se ergueu no mar” em plena imensidão polar do Mar de Wedell .E ao final ,citando os acordes da introdução original gravada por Tom.O baterista Jake Hanna, no epílogo do set ,passa a completar a trinca, já solando e promovendo nas baquetas o ritmo “locomotivo” e vibrante de “Take The A Train(Strayhorn).A balada Summertime ,de Porgy and Bess é despojada de maior dramaticidade na interpretação do trio,com harmonizações menos “acinzentadas” e liberdade de improvisação a base rítmica.A despretensiosa e resignada canção Just Friends(Lewis/Klenner), leva novo vigor, tornando-se praticamente uma nova “obra”.O “standart”, na voz de Louis. Armstrong, Do You Know What It Means to Miss New Orleans(Alter/De Lange), coloca Pedersen em destaque, solando a melodia em quase a plenitude da canção.I Love You Porgy(Gershwin) e Geórgia On My Mind(Carmichael) formaram unidas mesmo medley.A parte inicial, a balada de Gershwin ,e apresentada em trio, depois, desamparada na segunda parte ,quase abruptamente, na canção de Carmichael, em solo , com farto recurso do “stride piano”.Os acordes iniciais de Lil Darlin(Hefti) “jingle” clássico da big band de Count Basie foi presenteada com novos desenhos harmônicos, recriando- a, num determinado instante como spiritual.Watch What Happens(Legrand),recebe na introdução uma abordagem “impressionista” clássica.Uma linha de acordes é retirada e meticulosamente desenvolvida.Numa perversa demonstração “a primeira vista “ de simplicidade.Halleljujah Trail (Peterson) um blues ,executado em forma de “stride” como um tributo a James P. Johnson coloca a platéia eufórica a eclodir em palmas na pontuação do ritmo.Someone to Watch Over Me(I & G.Gershwin) encerrou, em solo novamente,como o inicio da apresentação, numa lembrança afetiva as origens familiares de seus autores(filhos de imigrantes russos, como tantos e de tantas origens q tentaram a vida nos EUA).O disco, q não ouvia há mais de sete anos, provocado pela indecisão do talentoso jovem pianista Eldar em prosseguir com genuína paixão sua carreira no jazz,pelas informações dos blogs de Vitória, ainda provoca , revelando sua atemporal idade, enorme prazer.Momentos, estimulados por uma lembrança,sugestão ou informação q renova a idéia q a imensa riqueza produzida pelo jazz supera ,de longe,a nossa mais otimista expectativa.(Edú, dois cds a resenha é mais longa).