É com grande alegria que anunciamos a chegada do mais novo colaborador do Jazzseen, Dr. Eduardo Spikeasy, mais conhecido como Edú. Para os amigos, segue sua primeira resenha para nosso regalo e aprendizagem: "Durante anos classificou-se as regulares reuniões realizadas na sede da Federação da Indústria de São Paulo (FIESP) em seu suntuoso e estranho prédio, que lembra uma pirâmide , na Avenida Paulista, como a maior concentração, por metro quadrado, do PIB (produto interno bruto) nacional. Era a avaliação à importância financeira dos empresários, membros dessa elite, participantes das reuniões e conselhos.No entanto, a poucos metros dali, menos de um km, e no mesmo bairro, num discreto ambiente, séria impossível poder calcular algum índice para a enormidade de talentos de jazz que se concentraram num espaço , até certo ponto exíguo (no máximo comportava 350 pessoas) num período um pouco maior que meia década. O local era a Alameda Campinas, 150, era a senha, como nos bons filmes de gângsteres como Scarface, de Howard Hawks (o original), para a entrada ao melhor clube de jazz, que a cidade de São Paulo conheceu e do país, desde que Cabral pousou seus pés na areia da praia. A conclusão é obvia: citem , por favor, um outro endereço e local onde se concentraram: Tom Jobim, Michel Legrand, Joe Williams, Carmen Mc Rae, Lionel Hampton, Billy Eckstine, Paquito de Rivera, Anita O Day, o casal Toshiko Akiyoshi e Lew Tabackin, Bobby Short, mestres do blues como Buddy Guy, Junior Wells e Alberta Hunter. Tudo partiu do princípio de um engenheiro, a semelhança humana, quase fiel, do personagem de “cartoon” Mr.Magoo, Henry Macksoud, porém com uma voltagem de raciocínio e sagacidade dos vencedores. Com menos de 50 anos e um verdadeiro selfmade man (tradução livre de empreendedor milionário) , Macksoud , já dono de uma maiores empresas de engenharia hidráulica do mundo, fixou idéia que a cidade de São Paulo, na entrada dos anos 80, necessitava de um hotel na medida em que a qualidade de seus serviços e recursos se estendesse ao sorriso dos recepcionistas ao abrirem a porta de entrada do ambiente, até a saída, com a bagagem do hospede sendo depositada de maneira delicada no porta-malas do táxi. Não economizou dinheiro nessa causa. E colocar um clube de jazz foi um dos itens inseridos nessa ,literal, empreitada. Seguindo a recomendação de seu filho Roberto, então gerente geral (amante de jazz e cinema , com uma discoteca pessoal na casa de milhares de discos), foi contratado como coordenador da boate ,denominada 150 Night Club, Armando Aflalo.
Esse personagem mereceria um capitulo a parte,basta defini-lo , sem exagero, como um dos 5 maiores conhecedores que já existiram no pais sobre jazz. Aflalo não amava simplesmente o jazz, ele viveu pelo jazz (take it easy JL). Com sua assessoria, estabeleceu que se formaria uma orquestra pra casa de treze figuras, sob a regência do sax-alto argentino, o bandleader Hector (Besignani) Costita, lendário personagem do jazz latino americano. Seguindo os mesmos padrões e exigências de qualidade que estabeleceu nos minuciosos detalhes da construção e funcionamento do hotel, adotou-se , também, na constituição da banda. Vinicius Dorin, saxofonista, Olmir Stockler (Alemão, um dos maiores guitarristas brasileiros de todos os tempos), Nailor Proveta (líder e ogiva cerebral da Banda Mantiqueira, provavelmente o musico popular mais completo do país) só pra citar alguns, foram membros desse “dream team”. E tocavam, antes e após as entradas da atração principal, para os casais (homem e mulher, registre-se) dançarem agarradinhos na pista. Prática colocada de lado, hoje em dia, e só exercitada em bailes de formaturas, festas de debutantes e festividades da terceira idade. Aos poucos foram “seduzindo” os artistas que aguardavam sua entrada, começando a exigir que passassem à participar da apresentação de alguns de seus ídolos. Ir ao 150, era um das poucas ocasiões em q podia vestir calças compridas, tinha menos de 10 anos, naquela época. Fui duas vezes , na companhia de meus avós, ver Joe Williams e Michel Legrand. Da primeira vez, lembro do sorriso largo de Williams passando entre as mesas, pedindo coro a platéia em seu clássico “Every day I Have the Blues”. Mas meus inocentes olhos , e a maioria absoluta dos homens feitos, estava hipnotizado com a figura de Christiane Torloni, a menos de três metros, aos vinte e poucos anos, insuperável. Na de Legrand, impressionei-me como um músico, feito mágico e sua cartola, poderia retirar uma canção, mais inesquecível que a outra. E todas elas de sua autoria. É melhor parar por aqui. O 150 não existe mais e grande parte desse elenco esta fazendo música em outro “ pedaço”. Só pra não esquecer: Frank Sinatra se apresentou num dos salões de festas do hotel. O 150 era pequeno demais. E Mel Tormé assustou Roberto, quando negociavam seu cachê, colocando quem arcaria com o combustível de seu jatinho particular." (Foto: Bobby Short no 150 Night Club, Maksoud Plaza, 1983 - Fonte: Ovadia Saadia).
10 comentários:
Voltou ao velho formato, JL?
Cinza e laranja...bacana.
Abraço
Mr. Ed� come�ou, finalmente, sua colabora�o no Jazzseen. Acho que teremos muitos "peda�os da hist�ria" do jazz, narrados por este, que me parece, � um apaixonado e estudioso do assunto, e que teve a sorte de ter seus av�s a guia-lo neste mundo maravilhoso.
Bem vindo!!
Escreveu pouco o sr. Edu. Não chegou nem a l50 linhas. Se compararmos com seus "posts" quilométricos, estes seus comentários iniciais foram um verdadeiro "salário mínimo".
Lendo a biografia de Tim Maia por Nelsinho Motta, cheguei agora mesmo ao Club 150, no Maksoud Plaza, onde Frank Sinatra havia cantado e Tim fez uma temporada que de duas semanas teve que ser diminuida para quatro shows, de tão catastróficas que foram suas apresentações! Culpa de sua claustrofobia, uisque e talvez "bauretes" e "brilho" demais!!!
jazzseen, cada dia melhor!
Edu Spikeasy é o nome. 'Tamos aí, lendo e relendo. Abraços,
sabe pq se chamou 150 night club?(eu nãop sei, só fiquei curioso)
vinicius
Prezado Lester, obrigado mais uma vez, confirmo minhas palavras do e-mail.Prezado Grijó, respeito, sobretudo, seu saber.Fui inclusive indelicado com um membro de seu clã.Peço-lhe sinceras desculpas por isso.No entanto, naquele assunto,livre manifestação opinativa, não arredo o pé um milímetro.Prezada Maria Augusta,essas são impressões de meu meio e tempo.Apreciei suas considerações,elas são sempre bastante elogiosas, isso facilita...Porém, sei q tenho sua opinião mais sincera.E pra sua informação: meus avós eram como aqueles dos filmes juvenis da Disney, os mais adoráveis do mundo.Prezado Predador, meu acordo com o Lester foi receber por palavras então dei uma maneirada pra ele não precisar “hipotecar o blog”.Prezado Salsa, esse espaço anda órfão sem vc.Inclusive mencionei , num email ,ao Lester como tornei-me um leitor freqüente de suas resenhas.Espero ter a oportunidade,num momento oportuno, de ver seu grupo tocar em Vitória, conhecendo melhor sua atividade de por "a mão na massa".E o Speakeasy não e uma invenção, mas uma invencionice do nosso CEO.Vc sabe, melhor do que ninguém, como funciona essa usina de nomes , idéias e rótulos.Prezado Alberto, sempre um incentivo.E finalmente, prezado Vincius,150,e o "logradouro"(endereço, Alameda Campinas 150) do hotel Macksoud Plaza, onde ficava , dentro de suas instalações,o jazz clube .Obrigado a todos por suas opiniões.Edú
seja bem vindo edú!!!
Thanks, again.Edú
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