19/11/2007

Crítica: A longa história

Quem já leu, sabe. Quem ainda não leu, certamente ficará curioso depois de ler a crítica feita por Paulo Bentancur ao livro A longa história, de Reinaldo Santos Neves. Segue a introdução: "Mais de 600 páginas. O século é o 13. O cenário, ou melhor, os cenários são mosteiros, florestas remotas no tempo, habitadas por figuras (homens e animais) que a época, mítica, evoca (com um realismo invejável, com um humor e psicologias convincentes). Você imagina estar diante daqueles catataus escritos por medievalistas europeus ou por um norte-americano que, para variar, fez muito bem o dever de casa: conquistar o público pela hipnose de um gênero literário insuperável - a saga épica com pano de fundo constituído de um mundo que recém se revelava para todos, mágico em cada detalhe porque ainda ignorado. (Estávamos longe do Iluminismo.) Pois A longa história, de Reinaldo Santos Neves, é uma glosa de toda uma literatura - e suas inumeráveis variantes -, literatura que com O senhor dos anéis, de J. R. R. Tolkien, de 1954 (é, pessoal, o livrão já completou 53 anos de existência e êxito), fatiou a modernidade nas letras. É popular sem ser popularesco. Como, trinta anos depois, Umberto Eco mostraria que era possível fazer, em O nome da rosa. Espere aí, volte o filme, editor: Reinaldo Santos Neves? Sim. Bem-nascido em 1946, em Vitória, no Espírito Santo. Capixaba, vejam só. O espírito santo baixou no homem e ele foi a alturas que nosso beletrismo de apartamento classe média não vai. Nariz erguido, não topamos (na verdade, nos faltam fôlego e cultura) contar sagas intermináveis. Exceção, claro, às narrativas embebidas na História nacional, tipo Canudos, Revolução Farroupilha, Guerra do Contestado. Crônica ficcional de conflitos beligerantes e oficializados por papéis carimbados e museus localizáveis ali na esquina. Um pouco de pesquisa, um tanto de paciência - e deu! Porém, encarar o mundo, sobretudo o Primeiro Mundo, distante geográfica e temporalmente, não com o servilismo de quem os imita em sua imaginação e memória, mas com a audácia (em A longa história, eficácia) de um epígono que soube costurar material reciclado, ah, isso é muito raro. É uma aventura literária e editorial isolada nos trópicos." Para ler a crítica na íntegra, vá até o site Rascunho, um jornal virtual de literatura brasileira. Querendo comprar o livro, clique aqui.

7 comentários:

Anônimo disse...

já comprei o meu!

Anônimo disse...

A quem interessar possa:EPÍGONO
Termo do grego epigon ("nascido depois"; o antônimo diz-se prógono) normalmente utilizado pela crítica alemã para designar aqueles escritores cuja obra é considerada uma continuação dos seus predecessores, de quem nunca conseguem verdadeiramente libertar-se. À literatura produzida por estes escritores chama-se, em alemão, Epigonendichtung, que pressupõe também que os predecessores sejam genialmente criativos ao ponto de os que deles descendem serem meros imitadores. Originalmente, epigon foi o termo utilizado por Ésquilo para se referir aos sete heróis que vingaram os seus pais mortos em Tebas. A vulgarização do termo na crítica alemã deve-se sobretudo à publicação de Die Epigonen (1836), de Karl Immermann, cujo principal tema é "a má sorte de ter nascido depois". A teoria poética de Harold Bloom (The Anxiety of Influence, 1973) parte do mesmo princípio. Fonte :dicionário de Termos Literários de Carlos Ceia.Edú

Cinéfilo disse...

Um livro impressionantemente bem escrito. Metalinguagem e intertexto levados às conseqüências últimas, JL. Reinaldo já havia mostrado do que é capaz em textos tão distintos entre si como "As Mãos no Fogo" e "Kitty aos 22: divertimento" (sobre este último já postei no Ipsis Litteris). Mas o tour de force dele é, antes de A Longa História, o espetacular "A Crônica de Malemort", que li em fins dos 80. Reinaldo é daqueles escritores essenciais, sobre cuja obra se deve debruçar com cautela e muita dedicação. Nunca foi um escritor superficial e, por isso, descarta leitores superficiais. Como Joyce, Eco e Pynchon (também distintos entre si), Reinaldo contou histórias já contadas, recontou-as de forma aparentemente simples (não é, definitivamente), usando e - por que não? - abusando do referencial folclórico, mitológico, histórico e, claro, literário. As histórias estão todas postas à nossa frente, como disse Edmund Wilson. Só falta alguém, como Reinaldo, para contá-las.
Valeu a postagem.
Santos Neves merece. Ele nos concedeu uma obra-prima que precisa ser lida. Temos sorte de ele ser membro do clube.

Anônimo disse...

A mínima expectativa, ou requisito, conforme a interpretação, q se aguarda numa leitura e q seja bem escrita, não?Edú

Cinéfilo disse...

JL, caríssimo.
Postei sobre A Longa História tb. Reinaldo merece - muito mais até. Vemo-nos amanhã, no clube.

Grande abraço.

John Lester disse...

Bem, primeiro gostaria de agradecer ao Frederico pela resenha. Enviei o livro de Reinaldo para ele, em Madri, e, pelo visto, o espanhol mais brasileiro que conheço aprovou.

Depois quero agradecer a Mr. Edú e Mr. Grijó pelas admoestações de apreço. Eu, como velho amigo de Reinaldo, prefiro não me repetir em elogios.

Grande abraço a todos e até Terça (dessa vez eu vou ao Clube rs), JL.

cd disse...

Pois eu comecei a leitura aqui em Brasília. É bastante envolvente e, como disse o comentarista, a robustez do corpo (600 p) esconde uma leveza exemplar