29/12/2007

Arco-íris

Após várias semanas tentando convencer Mr. Lester de que Michael Brecker é um saxofonista de jazz, obtive como resposta a seguinte assertiva: “O jazz não deve ser pensado, deve ser percebido. Se você precisa pensar uma música, essa música não é jazz. O jazz acontece e se organiza diante de nós.” Mr. Lester chegou inclusive a desmentir a afirmação de Goethe, segundo a qual ninguém suportaria olhar um arco-íris por mais de 15 minutos. Segundo Mr. Lester, arco-íris como Orange Was the Color of Her Dress, Then Blue Silk (com 20 minutos) ou A Love Supreme (com 40) podem ser observados durante dias, semanas ou por toda a vida, sem perder o colorido. Desistindo do embate sobre Brecker, consegui ao menos fazer com que Mr. Lester ouvisse o álbum New York Cool: Live at The Blue Note, gravado em 2005. Curiosamente, Lester aprovou o trabalho, chegando mesmo a dizer que Donald Harrison é um saxofonista de jazz. Feliz, resolvi escrever sobre o álbum, gravado em trio com Ron Carter (b) e Billy Cobham (d), reunindo três gerações distintas do jazz numa espécie de retomada ou reavaliação do trabalho desenvolvido na década de ’50 por Sonny Rollins no Village Vanguard, com os baixistas Wilbur Ware e Donald Bailey e com os bateristas Elvin Jones e Pete LaRoca. Embora a linguagem de Harrison seja muito mais complexa e refinada que a de Rollins, seu fundamento está no velho e arisco sopro de Charlie Parker. Embora não venda muitos discos, não tenha sido agraciado com nenhum prêmio famoso, nem eleito por qualquer dessas revistas especializadas, Donald Harrison é o tipo de instrumentista que recomendo e, sem dúvida, um dos melhores saxofonistas da atualidade. Harrison já trabalhou com Art Blakey no Jazz Messenger, montou seu quinteto com Terence Blanchard e, desde 2002, tem desenvolvido esses trabalhos notáveis em duo e trio com Carter e Cobham. Para análise dos amigos navegantes, fica a faixa Easy Living. E feliz 2008!

Donald Harrison - ...

9 comentários:

John Lester disse...

Prezado Mr. Bravante, obrigado por mais uma colorida resenha.

A questão é simples: cada vez mais as pessoas se afastam do jazz e se aproximam de Miles Davis.

Grande abraço, JL.

ReAl disse...

Esse eu não conheço. Depois ouvirei.

Anônimo disse...

É a formação que eu mais admiro.

Anônimo disse...

trio sinistro

Anônimo disse...

Mr. Lester, sentiu falta do álbum duplo de Oscar Peterson THE WILL TO SWING ( VERVE RECORDS )?
Está comigo...

Anônimo disse...

Muito, muito bom! Linda faixa, formação legal,bateria discretinha, como eu gosto...
Feliz 2008 para vc. também, Mr.Bravante.

Anônimo disse...

E o "resenhado", Donald Harrison, excelente saxofonista!

Anônimo disse...

modernoso demais pro meu gosto

Anônimo disse...

E quem disse que no Jazzseen só tem velharia? Exclente dica Fred.