Ortega y Gasset disse certa feita que a cultura é como "um movimento de natação", um bracejar do homem no mar sem fundo de sua existência com o fim de não afundar, uma tábua de salvação pela qual a insegurança radical e constitutiva da existência pode transformar-se provisoriamente em firmeza e segurança. Tenho certo que o jazz faz parte dessa coisa, dessa produção humana menos agressiva e letal que é a cultura, o contraponto da guerra. E o jazz, com suas obras negras construídas a partir da desigualdade, do ódio, da tristeza e da rebeldia, contaminou a cultura branca de forma profunda e irreversível. A costa oeste dos EUA é prova irrevogável disso, com suas centenas de músicos esforçados em assimilar o jazz. Um dos músicos que muito me agradam nessa luta insana por um espaço na piscina do jazz é o trompetista Conte Candoli, nascido em Indiana, em 1927. Proprietário de um estilo ágil, quente e plenamente articulado ao idioma bop, era capaz de fazer os 100 metros com extrema facilidade. Já aos 13 anos Conte dominava seu instrumento com aquele virtuosismo adulto que Miles Davis nunca atingiu. Auxiliado pelo irmão mais velho, o também trompetista Pete, aos 16 já aprontava na banda de Woody Herman. Indo e vindo entre a universidade e o exército, Conte finalmente junta-se ao baixista Chubby Jackson para uma turnê à Escandinávia em 1947. Logo em seguida, trabalha em diversas bandas, entre elas as de Charlie Ventura e Stan Kenton, com quem permanece durante um longo e produtivo período, atuando inclusive na LA Neophonic Orchestra. Durante sua produtiva carreira Conte também realizou excelentes trabalhos em pequenos grupos, ao lado de mestres como Terry Gibbs e Shelly Manne. Foi também membro do grupo Supersax e atuou por mais de 20 anos com a The Tonight Show Orchestra de Johnny Carson. Para os amigos navegantes deixo a faixa Lover Come Back To Me, retirada do cd duplo Coast to Coast: Conte Candoli and Friends. Trata-se das gravações completas que Conte realizou em pequenos grupos entre 1954 e 1956, muitas delas fora de catálogo. O lançamento só poderia ser da Fresh Sound, reunindo as gravações de Conte para os selos Chance, Bethlehem e Atlantic. O número de grandes instrumentistas é formidável, incluindo Ira Sullivan, Claude Williamson, Leroy Vinnegar, Lou Levy e Bill Holman (numa das raras oportunidades de ouvi-lo solando no tenor antes de se dedicar exclusivamente aos arranjos). Quis Santa Claus que o álbum duplo fosse sorteado hoje, no Clube das Terças. E assim será, com ou sem salva-vidas!
Conte Candoli - Lo... |
18 comentários:
Belo texto, JL, apesar da alfinetada no maior dos trompetistas, Miles.
Conte Candoli não é de meus preferidos, mas o respeito ao trabalho dele é inevitável.
"Sincerely" e "Mucho Calor", com Art Pepper e Russ Freeman, são peças que ouço pouco, mas guardo com carinho. Sua resenha animou-me a cavoucar o baú.
Quanto ao brinde a algum componente do CT, espero estar no sorteio. Não poderei ir à reunião por conta de corrigir a prova de literatura do vest-Ufes, que acontecerá hoje.
Estarei lá, em alma. Lá, que eu digo, é no clube.
Êba! Mais um sorteio-marmelada do CT!!!
Êêê beleza!!!Muito bom o texto, Mister Lester, e o músico e a faixa, formidáveis!
esse eu tenho. Cinco estrelas.
Boa pedida de fim de ano Lester. Falando nisso, feliz natal e 2008 para você.
Prezado Lester,os irmãos Candoli deveriam ter recebido um titulo de nobreza pelos inestimáveis serviços prestados ao jazz.A banda do Tonight Show ,na maior parte em que Conte esteve na bancada, tinha a liderança do tb trumpetista Doc Sverinsen.Após a aposentadoria de Carson, a banda do talk show noturno foi entregue ao saxofonista Branford Marsalis.Com autonomia e um contrato de quatro anos,Marsalis formou seguramente a banda mais jazzística do “broadcasting” americano:com o baterista Jeff Tain Watts,os irmãos , trombonista Robin Eubanks , o guitarrista Kevin, o falecido pianista Kenny Kirkland entre outros.Não resistiu a um ano, devido a incompatibilidade dos horários rígidos e a necessidade de desenvolver sua carreira.A liderança da banda foi transferida para o guitarrista Kevin que manteve mais da metade dos membros que não quiserão sair.Edú
Favor considerar quiseram , em lugar do incorreto quiserão.Edú
Pelo nome, eu pensava que esse grande músico era italiano; com os mestres daqui (editores e alguns comentaristas) eu vou aprendendo e conhecendo a história do jazz, pq do SOM eu sempre gostei e me "amarro" cada vez mais...
ps.: um FELIZ NATAL a todos que fazem e que frequentam o Jazzseen!
Convidei Salsa para encarar a mesma proposta que ele fez ao Grijó: escrever contos tendo jazzistas como personagens. Ele topou e escreveu um pequeno conto tendo Phileas Newborn como personagem. Tá lá no Jazzigo.
Phineas, Phineas.
Lester, cheguei de viagem. Tenho novidades, depois leia seu e-mail. Até breve, Túlio.
Sinto-me honrado em convidá-los para lerem o conto "Monk no céu", escrito por Grijó e publicado lá no jazzigo.blogspot.com
Qualquer trumpetista dos anos 50/60era melhor do que Miles Davis, sr.Gijó, inclusive Conte Candoli. Ótima resenha sr.Lester e espero que você continue seguindo nesta trilha do "west coast" ou "cool jazz", que não tem nada de cool. Feliz Natal a todos!
Não profira semelhante blasfêmia, Predador!
Miles é a amplitude do jazz.
Feliz Natal a todos do Jazzseen!
Isso inclui vc, caro Predador!
Sr. Predador,
Convido-o formalmente para visitar meu jazzigo.
Sr. Vinyl, já tive a oportunidade de visitar o jazzigo, e, por incrível que possa parecer, a grande maioria dos discos postados e comentados por você, são de ótima qualidade. Reservei-me o direito de não intrometer-me no seu blog, mas brevemente, diante de seu convite, retornarei para também dar meus "pitacos". Prepare-se!
Para JL
Faltam no meu micro alguns caracteres e a escrita vai ficar prejudicada.
Comecei a ouvir o Candoli(Mambo Junior e Flamingo).
Cara, respeito o seu gosto musical e tambem de todos, mas para quem ha quarenta anos ouvia muito Rock and Roll, Candoli me pareceu saido de um programa chamado Musica para o seu almoco que era sintonizado na extinta AM Radio Difusora de Cariacica, de Romulo Conde. Nessa epoca eu comecava a frequentar a escola de Mauricio de Oliveira la no Alvares Cabral(Clube) que ficava no edificio de mesmo nome no centro de Vitoria. Sei la, nao tem nada a ver uma coisa com a outra, ou tem, mas lembrei-me de Durval, locutor da radio e de Peter Jarvis que tambem ja viveu aqui por essas bandas.
Bem, voltemos ao meu almoco, hoje sem vinho, pois esse tipo de jazz na cronologia vem antes do Fusion que e de onde eu comecei a me interessar pela musica instrumental.
Vou continuar a ouvir o Candoli, quem sabe depois a minha impressao muda para FM.
De qualquer maneira, como contribuicao, gostaria de deixar uma dica - JACK WILKINS.
Um abraco
Feliz Natal a todos
Diverti-me bastante com a celeuma entre Miles e Candoli... vocês não estão comparando "apples and apples", ambos eram excelentes trumpetistas de diferentes estilos e, sem essa de chamar Condoli de músico para almoço senão eu começo a chamart Miles de músico para drogado (o que também não é verdade).
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