17/12/2007

Everybody Loves Ray

Sentir-se pretérito no dia de sua mudança de idade parece uma experiência comum aos que aniversariam no natal . Todos sofrem a consecutiva experiência da renúncia pessoal , forçados a “compartilhar” o dia mais importante do ano pra sí. O festivo bolo de velinhas reluzentes, é substituído pela dieta do perú com farofa e sidra e a curiosidade em adivinhar o conteúdo envolto no embrulho dos presentes embaixo da árvore. Já que nem todos eles, estarão destinados ao aniversariante daquele dia. Neste ano, o pianista Ray Bryant celebrará seu aniversário , 24 de dezembro, atingindo 77 anos. Os setenta e cinco extintos, geralmente prestigiados, a priori, em grande estilo, foram criminosamente ignorados pelas entidades formais de jazz, a exceção da Sociedade Ray Bryant , clube de mais 300 membros contribuintes, no Japão. Ray Bryant , nasceu Raphael Homer Bryant , na Filadélfia, no seio familiar em que o ensino e a prática da música era costumeiro, como o aprendizado do bê-á-bá na infância. Seu irmão, foi o baixista Tommy Bryant. Recebeu aulas de piano da mãe, organista dos cultos dominicais na igreja e de suas irmãs, uma delas,cantora gospel é mãe do trombonista Robin e do guitarrista Kevin Eubanks, músicos de jazz de grande destaque . Já tocava, aos 12, na banda local, Jimmy Jonhson´s, a mesma que iniciou carreira John Coltrane. Aos 18, era o pianista do Blue Note da Filadélfia , e, sem tremular as mãos , participava de “jams” com Charlie Parker , Miles Davis, Lester Young e Sonny Rollins. Em 55 , lançava um de seus primeiros discos dividindo com uma cantora iniciante chamada Betty Carter (que se tornaria uma das maiores do jazz, principalmente nas vocalizações de temas de bebop). Como renda adicional acompanhava ao piano outra cantora: Carmem Mc Rae (uma das cinco melhores da história). Então, presume-se, que Ray domina a arte de acompanhar, pois Carmem e Betty tinham, quando vivas, o piano como seu segundo instrumento, utilizando-o com freqüência nas escalas e exercícios pra aquecer suas cordas vocais. Isso é apenas uma partícula de sua vida, como pianista , sua presença era obrigatória em gravações a pedido de Max Roach, Dizzy Gillespie, Coleman Hawkins, Sonny Stitt. Por insistência do baterista Jo Jones, (dez anos na “cozinha” de Count Basie e o mais ágil e “classudo” baterista do “swing” ), formou um trio adicionando o irmão Tommy ao contrabaixo. Nem é necessário afirmar que o baterista viveu uma de suas melhores fases, após seu desligamento da banda de Count. O que diferencia, então, Bryant dos pianistas de sua geração? Simplesmente, a experiência de colocar uma venda sobre os olhos de seus colegas das 88 teclas, cegando-os temporariamente (blindfold test) e a resposta emerge a isso. Peça que reconheçam quem esta tocando. Bryant, será imediatamente identificado por seus pares. Ele é dos mais característicos, no melhor sentido, pianista de seu tempo, mesmo com as “interferências” reconhecidas na consolidação de seu estilo de Bud Powell(o maior pianista do bebop) e Teddy Wilson (o que colocou a delicadeza a serviço do “swing”). Ray é também um mestre do piano solo, técnica sofisticada e arriscada, porém, arrebatadora , numa comparação simplista, como a do equilibrista que percorre o tênue fio de arame sem desabar . Numa das mãos é preciso conciliar a harmonia desenvolvendo frases e evoluindo os tempos, a direita e na outra a melodia que parece costurar respostas sonoras, esquerda. Bryant tem destreza, em ambas as mãos e nos dez dedos, do blues e gospel (hinos sacros, ignorem a medonha expressão musical que estigmatiza essa corrente musical, hoje em dia). Aplicada a uma capacidade lírica e verdadeiramente sentimental quando aborda uma balada. Quando Ray faz uso do swing, não batemos apenas a sola do calçado no chão, marcando o ritmo , mas, por sua energia e vitalidade, balançamos, inconscientemente, o quadril e os ombros. Além disso, é compositor de temas inspirados como “Cubano Chant” e “Cold Turkey”, que deliciam seus executantes. Um dia indagaram ao baritonista Gerry Mulligan em que estilo do jazz ele se sentia mais confortável. “Sou, antes de tudo, um modernista”, foi sua resposta. Uma das conceituações de modernista, é a pessoa que age como ferramenta social e tem a extensão de sua racional idade . Acrescento, e o indivíduo que caminha de forma natural em sintonia com a doutrina de seu tempo. Ray Bryant esta nesse caso. Boas Festas a Todos e Happy Birthday Mr.Bryant.

13 comentários:

Anônimo disse...

Beleza!

Anônimo disse...

Prezado edú,
Saí procurando alguma coisa do Romano Mussolini, mas só achei um disco (com Patruno), que deixei lá no mpbjazz. Você tem mais informações sobre o camarada?

John Lester disse...

Obrigado Edú por mais uma gentil resenha. Feliz Natal para você.

Anônimo disse...

Linda essa versão de Georgia...

Anônimo disse...

Boa resenha Edú.

Cinéfilo disse...

JL, amigo, vc vai ao CT hoje?

Grande abraço

Anônimo disse...

nojento

Anônimo disse...

Georgia on my mind eu adoro, e é bela a interpretação de Bryant!
Goetei da resenha, bom ler vc. por aqui!

John Lester disse...

Hoje vou ao CT sim, Mr. Grijó. Inclusive devemos seguir até o Balacobaco para ouvir Mr. Salsa fechando sua turnê internacional.

Até lá, JL.

Anônimo disse...

Belo texto Mr. Edú.

Anônimo disse...

Prezados Mauro,Tony,Maria Augusta e Fragoso,obrigado pelo incentivo.Prezado Thiago,agradecido pela citação ao Tião Macalé.Prezada Bia,honrado por sua sensibilidade.Chefe,ás vezes acho q tú já foi adivinho em outras vidas , confere tua cx.Prezado Salsa, do clã Mussolini somente conheci o veio musical pela leitura de sua resenha no mpbjazz.blogspot.Tinha conhecimento de uma neta q é representante legislativa,apenas.Edú

Manuela Ferreira disse...

Ah o piano é o meu preferido, bem como os pianistas. Concordo com a Maria Augusta, Edú, e vai ficar cada vez melhor...

Mulecada, Boas Festas!

ps: essa versão tá muito gostosa de ouvir!!

Anônimo disse...

A quem interessar possa :a foto do cd, que originariamente era um LP, que ilustra essa resenha foi “atirado” em nosso mercado durante o ano que se finda.Esse titulo fazia parte de uma série da Atlantic de mais de uma dúzia.E encontravam-se disponíveis,nas lojas que pesquisei em São Paulo, por preços bem camaradas.Dica de um ponderado judeu.Edú