13/12/2007

Marcio

Conheci Marcio Montarroyos quando tinha 13 anos de idade e lá se vão quase 23 anos dessa experiência.Próximo a minha escola , no Museu de Arte de São Paulo, às sextas-feiras,ao meio dia e meia, havia apresentação gratuita de shows musicais, abaixo da estrutura arquitetônica. Saía da aula, sem cabular, e ia correndo alojar-me no lugar da frente.Numa dessas datas, apareceu aquele musico de voz rouca,rabo de cavalo curtinho e cavanhaque.Foi começar a soprar seu trompete e perceber o magnífico domínio q mantinha de um instrumento q imaginava servir apenas pra anunciar o toque de alvorada e “chamar a cavalaria”.Percebi que era tipo de musica q atendia a meu prazer: a com improvisação,pulsante, de forma vigorosa e q estimulava e alegrava os músicos em sua execução e a alma dos ouvintes .Cinco anos mais tarde, reencontrei-o numa das reuniões da Rio Jazz Orquestra, havia ficado amigo do baterista(onde anda vc, Ricardo?) e por motivos sentimentais por uma linda moça da faculdade ,com família no Rio de Janeiro, estava frequentemente por lá. Comparecendo aos encontros do grupo, como Fernando Sabino fazia, intruso, propondo assumir as baquetas na bateria.Com um pouco mais de rodagem de música e de idade ,era testemunha, naquele momento, do imenso respeito e carinho q seus companheiros devotavam por ele. E de seu timbre rascante q provocava furor pela facilidade com q atingia notas e subvertia as escalas musicais. Marcio não “atropelava” seus companheiros num grupo cuja maioria exercia outras atividades profissionais, apenas acrescentava mais densidade e coloria a tonalidade da musica. Ele não era um solista, naquela formação, mais um alicerce.Há cerca de 5 anos, meu amigo Michel Friedson, grande pianista de jazz brasileiro, conseguiu patrocínio pra gravar um disco ao vivo.E sendo um de seus melhores amigos e companheiro de grupo de longos anos o convidou a participar.Entrou em 4 faixas do disco, levando sempre em consideração não se destacar demais pra não retirar a oportunidade de Michel demonstrar seu exuberante talento. Uma demonstração da grandeza do ser humano q tem a noção exata de abdicar de sua atenção pessoal quando o momento lhe inspira. Se a vida e feita de instantes, e estes foram alguns deles, o melhor momento musical de Marcio são os minutos finais da gravação original do tema Bye Bye Brasil de C.Buarque e Roberto Menescal.Nele, percorre livre na improvisação sobre o tema, na trilha sonora, quando movimenta os letreiros da ficha técnica do filme.Colocando clima, sutileza, emotividade no enredo de uma realidade q escapa ao nosso olhar.Cara, dá uma trégua pra São Pedro e toca “Night in Tunisia”(seu tema favorito e de seu ídolo Dizzy Gillespie) só umas 5 vezes por dia. Leia mais no MPB Jazz ou no Blog do Grijó .

8 comentários:

Anônimo disse...

Excelente esse scat do Jazzseen. Parabéns ao blog, cada dia melhor.

Anônimo disse...

Pegou-me de surpresa, valeu JL.Edú

Anônimo disse...

Mais uma daquelas perdas irreparáveis...

Sergio disse...

Desta vez, o seu (o nosso) Edú, estava desinformado... O comentário foi pelo ineditismo do fato.

Pode crê, JL, a morte sempre vence. O mal é quando ela aplica técnicas de tortura antes.

JL, essa é pra você: em algum lugar - já até lembrei onde - vc diz que ouve de tudo. Por isso gostaria de convidá-lo a conhecer os "meus" africanos lá no sônico. Uma vez mandei um link do Tinariwen, via emeio, pro Salsa, mas ele nunca comentou/opinou sobre o que achou - provavelmente por gentileza. Não deve ser a praia do cara, é compreensível. Mas acho - e estou comprovando na prática - que as pessoas em geral ficam um tanto reticentes com a música não é produzida, principalmente, no circuito EUA, UK , BR. Daí que nunca tive uma opinião abalizada sobre os 3 artistas postados lá no meu blog. Daí que, se vc pudesse, no sentido da pesquisa, passar por cima de sua determinação de não baixar álbuns de graça, só pra tomar conhecimento e deixar comentário por lá, escolha, pelo texto/capa/cara dos sujeitos, um dos 3 artistas a disposição e me faça o favor de opinar, é possível?
Muito obrigado.

Anônimo disse...

Queremos mais resenhas do Edú!

ReAl disse...

Grande perda.

Anônimo disse...

Que pena, logo uma pessoa talentosíssima, ótimo caráter!
Descanse em paz..!

Anônimo disse...

Valeu Edú! Apareça mais no Jazzseen.