23/12/2007

Natalis Invicti



Lá no início, nos seus primeiros quatro séculos de existência, a Igreja Católica preferia comemorar a morte ao invés do nascimento. Afinal, morte e culpa eram coisas sérias e lucrativas naqueles bons tempos, onde a venda de indulgências (perdão católico) garantia o vinho de boa safra aos bons padres. Com o tempo a coisa foi virando bagunça e o preço absurdo do garrafão de tinto obrigou a Igreja, muito a contragosto, a comemorar também a vida e o nascimento das pessoas. Ok, eu sei que foi uma grande derrota para os sombrios e taciturnos monges que, esfregando as mãos umas nas outras e sorrindo nervosamente, dedicavam toda a vida estudando e reverenciando a morte e a culpa. Mas a pressão dos pagãos e dos camelôs da Uruguaiana tornou inevitável a aceitação do Natal pela Igreja. O Natal nada mais é que uma ficção histórica rendosa, dado que ninguém sabe de fato quando Cristo nasceu. Alguns dizem que teria sido no dia 6 de janeiro. Mas não há nada nas escrituras sobre isso e o mais provável é mesmo que Jesus não tenha nascido em dezembro. Mas quem se importa? O dia 25 de dezembro foi escolhido apenas porque era a data de uma grande festa pagã (Natalis Invicti) que comemorava o nascimento do Sol. Era uma festa alegre e cheia de comes e bebes. Sendo assim, Constantino e o alto escalão da Igreja viram na data idólatra uma ótima oportunidade para se angariar devotos e, por conseqüência, vender indulgências e coxinhas de galinha. Foi nessa época que surgiu a famosa promoção de Natal: pague 3 e leve 2. Com aquela coisa de presentearem-se uns aos outros, nem mesmo os judeus reclamaram muito da festa, exceto os mais ortodoxos (quando eram obrigados a comprar algum presente sem a certeza de receber outro). Não seria mau se a Igreja Católica adotasse o jazz em suas celebrações natalinas. Talvez até rolasse a eleição de um Papa negro para animar o Vaticano. Aí, então, a festa estaria completa. Eu pagaria satisfeito para ouvir Miles Davis tocando dingo bel, dingo bel, acabou o papel...

19 comentários:

ReAl disse...

Gosto da parte da festa pagã. Um brinde à sua saúde, Lester. Longa vida ao seu blog. Já rolou o solstício?
Dê uma passada no santo sepulcro, digo, jazzigo, para ler mais uma estorieta.

Anônimo disse...

Do jazz já temos um santo: São João Coltrane(John Coltrane). Se realmente se concretizasse a eleição de um papa negro, seria uma festa! Talvez a sua profecia, sr.Lester, tornar-se-ia realidade: jazz no Vaticano p'ra todo lado.(O português está correto, professor Grijó ?)

Anônimo disse...

meu papa negro seria armstrong, até por uma questao de primazia
e viva o jazz!

Anônimo disse...

Esse é o Lester que eu conheço: iconoclasta até o sabugo da unha. Os slides estão ótimos.

John Lester disse...

Mr. Salsa, peço apenas que seu amigo Gésus Nonato altere o nome. Ele escreve bem e merece um mais bonitinho.

Grande abraço, JL.

Anônimo disse...

Surrupiado ,e imediatamente devolvido, do bilhete da meia, de pé 41, do pedido de presente de natal afixada em determinada janela de Vitória."Caro Papai Noel, quero um exemplar do livro A Love Supreme – A Criação do Álbum Clássico de John Coltrane,autoria de Ashley Kahn, Editora Barracuda".Impossível identificar assinatura do remetente.Edú

Anônimo disse...

Edú, parabéns p´rá vc...é hoje ou amanhã? Desejo felicidades e plena recuperação! Feliz Natal também!

Anônimo disse...

Cara Maria Augusta, ainda tem uns dias pra ficar mais velho.Já tirei meu gesso e estou locomovendo-me de bengala e fazendo fisioterapia.Amanhã, apenas pretendo tornar o dia de minha filha de dois anos, o mais alegre possível.Como bom judeu , aprendi com meu avô, q um natal feliz é uma experiência inesquecível pra uma criança.Que essa experiência seja extensiva aos seus e em seu lar.Edú

Anônimo disse...

valeu lester, feliz natal!

Tenencio disse...

Feliz Natal ,Lester ! Que esse blog continue com toda a força e irreverencia ,que são sua marca registrada. Em 2008 estarei lendo os seus constantes e contumazes vacilos ,mas sempre de bom humor pois sei que é de boa intenção . E espero voce ir la no CJUB pegar no meu pé ,estou mesmo ficando velho e chato e é bom ser cobrado ,faz o cerebro funcionar e evita demencias senis.
Abraços calorosos

Anônimo disse...

Sr. Lester,
lá pros lados das barrancas do São francisco todo mundo chama Nonato. Conseguir sobreviver ao parto, naquela região, é da ordem do miraculoso, por isso todos fazem homenagem ao santo que ajudou no parto da virgem (Raimundo Nonato). Dizem que é pecado chamar os filhos de Jesus, por isso ficou Gésus. O meu nome torto é indício do meu torto destino.
Assim está, assim fica.
PS - Vixi, olha que pensamento você semeou na minha turva cabeça: Será que foi por isso (por causa do nome) que eu nunca publiquei nada através de editoras?

Anônimo disse...

Lester, o natal é uma festa espiritual. Um raro momento para refletirmos sobre nossas atitudes e talvez, quem sabe, fazer diferente.
Permita-se ser contagiado por esse momento de amor.
Feliz natal para todos do Jazzseen.

Anônimo disse...

O contículo está bom, não importa o nome. Parabéns e continue escrevendo!
Feliz Natal.

Anônimo disse...

Esse comentário acima é para o Gésus, ok?

John Lester disse...

Prezados amigos, creio que não preciso de uma data específica para amar. Quanto a refletir e aprender, reflito e aprendo todo dia, a cada instante, seja pela persuasão racional dos mestres, seja pela persuasão irracional dos poetas, seja pelo olhar remelento de uma criança, seja pelo gesto trêmulo do ancião. Só não tolero a ignorância, a falsidade e a força bruta.

E não são raros os momentos em que reflito sobre tudo isso: amor, atitudes, relacionamentos, opções, estratégias de venda, velocidade nas curvas e gorduras localizadas. Para quem quer ser aceito no elenco da novela da Globo, a cirurgia plástica é condição sine qua non. Eu já decidi: vou morrer repleto de rugas, solitário, reclamando pelos cantos, lendo e ouvindo jazz.

Agora, para mim, o Natal não passa mesmo de uma grande jogada de marketing, com grande repercussão comercial. E, notem, não disse nada contra o comércio, nem contra o marketing. Se alguém se sentiu ofendido, creio que são por motivos alheios ao meu texto. Meu texto tinha motivação apenas histórica, de modo apenas a fazer notar que estamos festejando uma coisa que não existe, uma data fictícia, um aniversário sem aniversariante. Só isso.

Entendo válido, nessas datas fictícias, refletir sobre porque a Igreja torturava, porque os judeus fazem com os palestinos a mesma coisa que os nazistas fizeram com os judeus, porque o nacionalismo é visto ora como algo nobre e romântico (Inglaterra, França, EUA) ora como algo diabólico e racista (Alemanha, Itália, Japão). Matar latinos nas fronteiras é obra de Hitler ou de Bush? E não me venham com questões étnicas ou religiosas: a questão é, e sempre foi, pague 3 e leve 2. Quem está no poder, vende. Nós compramos.

Calma, calma, eu sei que quem vence a guerra escreve a História. Mas isso nunca fará com que 2+2 sejam, para mim, 5. Nem que a maioria democrática assim decida. O voto popular não torna a Lua quadrada. Não vejo nenhuma correlação entre 'melhor escolha' e 'escolha democrática'. São apenas as regras de um jogo e, quando se trata de política, ainda concordo que a 'melhor escolha' seja a tal 'escolha da maioria', a menos pior quando o assunto é poder.

E viva a liberdade de pensamento, a liberdade de expressão e a queda dos preços dos vinhos!

Grande abraço a todos, JL.

Anônimo disse...

Mesmo porque Jesus nasceu em março do ano IV. E, o seu nascimento é comemorado em 25 de dezembro? Why?

ReAl disse...

Tô com Lester.

Anônimo disse...

Predador,Lester explica o porquê na resenha!
Eu tb. estou com Mr. Lester.

Anônimo disse...

Desculpem-me se não me fiz entender. Realmente, o sr. Lester explica de uma maneira clara e objetiva, que não deixa qualquer margem de dúvida. Valeu!