25/12/2007

Oscar Peterson (1925-2007)

Poliana tinha razão: até a tuberculose tem o seu lado bom. Foi essa doença que afastou Oscar Peterson do trompete, aproximando-o do piano. Aos 14 anos já ganhava concursos de auditório para crianças prodígio e, aos 19, já fazia sucesso no Canadá, onde nasceu. De origem humilde, aprendeu com o pai o amor pelo jazz, amor registrado em mais de 60 álbuns para a Verve, 30 para a Pablo, 15 para a Clef, 15 para a Telarc, 4 para a Mercury, além de outros tantos para a Victor, Mobile Fidelity, MPS, Limelight, Prestige, Can-Am, Columbia, EmArcy, Jazz Band, Philology, Fantasy e Trolley Car. A imensidão de suas gravações – que, acredito, ultrapassem os 200 álbuns como líder e mais algumas centenas como sideman – é proporcional ao seu virtuosismo que, em certas passagens, nos faz lembrar de Art Tatum e Milt Buckner (com seus block chords). Os generosos rocamboles de notas, arranjadas como que num gigantesco e aromático buquê, nos remetem a Errol Garner, verdadeiro pote de mel do jazz. Contudo, Oscar estava um passo adiante desses dois mestres, sabendo administrar com maestria a profusão de idéias musicais que lhe passavam pela cabeça, economizando inteligentemente a emissão de notas e utilizando com mais simpatia o silêncio, embora sempre com a velocidade alucinante de uma pantera negra que se lança à caça. Não sendo nada fácil classificá-lo, posso dizer que Oscar está mais bem alocado na estante do swing, embora sua originalidade e capacidade inventiva possam, em alguns momentos, nos levar a classificá-lo como pianista do bebop ou, até mesmo, do stride ou do hard bop (ele conhecia e dominava as linguagens tanto de um James P. Johnson quanto a de um Bill Evans). Mas as praias de Oscar Peterson e, digamos, Bud Powell, não são exatamente as mesmas. Enquanto a praia de Oscar tem areia clara, mar azul e muito sol, a de Bud é abrupta falésia em dia de nevoeiro e chuva.

Começando ao piano com seis anos, Oscar nasceu em Montreal, em 1925. Seu entusiasmo pelo jazz traduzia-se em benéficas e longas horas de prática, o que resultou numa técnica praticamente insuperável entre os pianistas de jazz de sua geração. Nos anos ’40 já tocava em rádios canadenses e, em 1944, passa a integrar a bem sucedida orquestra de Johnny Holmes para, logo em seguida, liderar seu próprio trio. Em mais de 60 anos de carreira, apresenta-se ou grava com figuras diversas e estilisticamente bastante distintas entre si, como Lester Young, Charlie Parker, Ben Webster, Stan Getz, Benny Carter, Zoot Sims, Louis Armstrong, Count Basie, Billie Holiday, Ella Fitzgerald e muitos, muitos outros. Alguns de seus encontros mais memoráveis foram registrados durante as apresentações do JATP, Jazz At The Philharmonic, criado por Norman Granz e responsável por sua estréia nos EUA, em setembro de 1949, no Carnegie Hall. Mantendo excelentes trios durante toda sua carreira – muitos deles com o guitarrista Herb Ellis, Oscar registra uma série de álbuns com songbooks de Cole Porter, Duke Ellington e vários outros, além de tentar a composição (Canadian Suite). Mas é como um gigante do piano que Oscar vai ficar em nossa memória e nos inumeráveis registros que ele nos deixou ao longo de uma carreira praticamente sem apelo ao fácil e ao comercial. Em 1993 um derrame tentou retirá-lo da música mas, alguns meses depois, lá estava Oscar, brincando com o teclado, ainda que sua mão esquerda já não fosse tão faceira quanto antes. Para os amigos deixo a faixa Topsy, com Herb Ellis (g), Ray Brown (b) e Buddy Rich (d), gravada em Los Angeles, em dezembro de 1955. Essa faixa aparece em dois álbuns: Oscar Peterson Plays Count Basie, lançado pela Clef (MGC 708) e The Golden Striker, lançado pela Verve (MGV 8092).

Oscar Peterson - T...

13 comentários:

Anônimo disse...

Acabei de acordar e não há melhor sensação que uma bela caneca de café acompanhada de um pãozinho estalando de quente com uma bela manteiga , aos escrúpulos com o colesterol, e a leitura dessa bela resenha.Valeu,Lester.Edú

Anônimo disse...

Eu me preparando para o jantar e esse tal de Edú tomando café. Espero que, com o fim da CPMF, essa festa acabe!!!

Anônimo disse...

Também tomei meu café ha poucos minutos, só que sem o dito cujo (café), mas com panetone do Natal.
E Mr. Lester nos brindando com primorosa resenha, muito bom!

Anônimo disse...

PS. E com Topsy, e Oscar Peterson, como fundo musical !!

Anônimo disse...

Bela homenagem Lester. O negão vai fazer falta!

Cinéfilo disse...

Eu ia escrever sobre o pianista, mas depois dessa resenha nada mais há a dizer.
Vou recomendar a meus leitores que visitem o blog.

É isso, JL.

John Lester disse...

Mr. Grijó, parece que nossa próxima reunião do CT é amanhã (27/12). Apareça!

Anônimo disse...

11 coisas sobre Oscar Peterson:

1 – Excluindo-se os dias de espetáculos e das viagens em turnês , antes do derrame, exercitava-se 4 horas ao dia no piano.
2 – Sua entrada no mercado musical americano não se deu pela forma de trio , sim, pela de duo, com seu melhor amigo , o contra baixista Ray Brown,em setembro de 1949.
3 – Seu primeiro trio formal a ingressar no cenário americano de jazz era composto , sob a influencia da formação do Nat King Cole Trio, por Peterson ao piano, Ray Brown, no baixo, e Barney Kessel ,na guitarra, e durou menos de um ano, em 1952.
4 – Antes de sua vinda pra participar do JATP( Jazz at the Philarmonic)no Carnegie Hall , em 1949, esteve dois anos antes em NY.Tinha 22 anos e entrou num clube pra ver Art Tatum.Quando se apresentou ao pianista cego , foi pedido que tocasse um trecho de algo.Tatum ouviu e depois reproduziu nota por nota, numa demonstração de virtuosismo.Peterson retornou, confinando-se, no Canadá por mais dois anos.
5 – Apesar de ter tocado de forma consecutiva por 14 anos com Ray Brown, e alternada mais de 25, quando indagavam qual o melhor baixista com quem tinha dividido o palco e os estúdios, não tergiversava em afirmar:NHOP (Niels Henning Orsted- Perdersen).
6 – Considerava Barbra Streisand a maior cantora viva de jazz.(sic)Mandou várias indiretas de que gostaria de gravar um disco em duo , nos moldes dos que fez com Ella Fitzgerald(voz e piano).Barbra preferiu continuar cantando “Papa, did you hear me”.
7 – Um dia encontrou-se com o pianista erudito canadense Glenn Gold nos estúdios da televisão estatal.Gold sugeriu que fossem a uma das salas de gravação , colocassem dois pianos e fizessem uma improvisação , cada qual com seu estilo e linguagem, pra registro da posteridade.Peterson saiu do prédio e da sugestão mais rápido que o velocista ,naturalizado, canadense, Ben Johnson.
8 – Formalizou como seu sucessor o ótimo pianista branco , Benny Green.A curiosidade fica que:ouvindo os discos de Green, a influencia mais visível sofrida e do pianista Bobby Timmons.
9 – Sua descoberta pelo produtor,de quase toda a sua vida ,Norman Granz ,se deu via ondas radiofônicas.Granz encontrava-se num táxi em Montreal indo em direção ao aeroporto,em 1949.Quando sua audição captou na estação de rádio do carro, um quarteto com especial destaque do pianista que se apresentava no auditório Alberta Lounge .Desviou o táxi até lá e assim se fez história.
10 – Sua gravação predileta nem o tinha na liderança do grupo.É de um disco do vibrafonista Milt Jackson chamado “Ain´t But a Few Of Us Left” (Pablo OJC 785), de 81, com o restante do “time” formado por Ray Brown(contra baixo) e Grady Tate(bateria).
11 – Descoberta quando escrevia esse texto: quando Duke Ellington encontrava Peterson, mencionava que a primeira lição que sua professora de piano havia lhe ensinado na vida e que: nunca deveria sentar-se ao piano em público depois de Oscar.Edú

Anônimo disse...

É sempre bom passar por aqui,e às 3 da matina, encontrar novas informações e ouvir som de 1ª...

Anônimo disse...

nojeeeeento!

Cinéfilo disse...

Sem falta, JL.

Sergio disse...

Caro Lester, encontrei, de uma amiga querida, esta solicitação (hoje - 18/01/08) na postagem do Sergio Sônico referente a morte de Oscar Peterson:

"Sergio,
Quando morei na Inglaterra, na década de 70, tive o prazer de assistir a dois shows de Oscar Peterson. Em um deles, ele cantou e depois consegui um LP onde ele cantava, o que não era comum. Só que este LP se perdeu ao longo da vida e... vc poderia descobri-lo para os fãs do grande Oscar Peterson? Me lembro que era de uma suavidade linda, a sua voz... Obrigada. Beijos."

Por acaso conheces esse álbum? Há alguma possibilidade de me ajudar?
Grato,
Sergio.

Sergio disse...

Em tempo: se puderes responder lá na origem, no S.S./Oscar Peterson, agradeceria muitíssimo mais.
Abraço.