Difícil a tarefa solicitada por Mr. Lester: escolher um músico para a primeira resenha do ano. Falaremos, então, de mais um tributo, oportunidade para falarmos de dois músicos de uma só vez: Cecil Payne Performing Charlie Parker Music, álbum gravado em 1961, com o grande saxofonista barítono Cecil Payne, Clark Terry (t), Duke Jordan (p), Ron Carter (b) e Charlie Persip (d). Foi o primeiro álbum gravado ao vivo lançado pelo selo de Bird. Apesar de respeitar bastante e quase sempre concordar com as opiniões do crítico Scott Yanow, um dos responsáveis pelo All Music Guide, discordo de sua avaliação desse álbum, que recebe apenas três estrelas. Eu daria, no mínimo, quatro estrelas para esse tributo que Payne presta a Parker. Não apenas pelo seu próprio desempenho ao barítono, mas também pelos deliciosos diálogos travados com o trompete de Clark Terry, além da excelência da seção rítmica, realçada pelos solos precisos de Duke Jordan. Tudo isso por míseros US$5.00, na Oldies. Cecil Payne nasceu no Brooklyn, New York, em 1922. Começou estudando violino, guitarra e voz. Depois de ouvir um solo de Lester Young, aos treze anos, consegue persuadir os pais a comprar um sax alto de US$15.00, passando a ter aulas com Pete Brown, que morava no mesmo quarteirão. Entre 1943 e 1946 toca clarinete em bandas do exército. Passa para o barítono em 1946, na banda de Clarence Briggs, ano em que realiza sua última gravação tocando sax alto, ao lado de J.J. Johnson. Após trabalhar algum tempo com Roy Eldridge, é com Dizzy Gillespie (1946-1949) que se afirma como o pioneiro e o melhor saxofonista barítono do bebop, embora sempre tenha ficado em segundo ou terceiro nos rankings especializados. Apesar de suas excelentes atuações com James Moody, Tadd Dameron, Illinois Jacquet, Duke Jordan e Randy Weston (que escreve o texto do encarte que acompanha o álbum em tela), Cecil abandona a música temporariamente. Na década de ’60 retorna à ativa, trabalhando ao lado de músicos como Lucky Thompson e Lionel Hampton. Depois de novo sumiço, volta à cena com antigos companheiros, como Dizzy e Weston. Sua sonoridade, originalmente volumosa e pesada, torna-se mais discreta e leve, por vezes quase adocicada, principalmente no período em que trabalha num ambiente mais swing com Count Basie. Sempre indo e vindo, Cecil aparece na década de ’80 ao lado de Nick Brignola, Bill Hardman e Richard Wyands e, na de 90’, apesar de gravar excelentes álbuns para a Delmark, Cecil é encontrado doente e sozinho em seu apartamento bastante simples no Brooklyn. Orgulhoso e consciente de seu valor como músico, a muito custo concorda em receber ajuda financeira da Jazz Foundation of America. Restabelecida a saúde, volta a tocar no século XXI, até sua morte em novembro de 2007, um mês antes de completar os 85 anos. Com vocês a faixa Relaxin’ at Camarillo, título composto por Charlie Parker durante seu breve repouso para desintoxição em Camarillo. Infelizmente, o resultado, sabemos bem, não foi tão bom quanto o tratamento de Joe Pass na Synanon.
10 comentários:
Tarefa cumprida com louvor.Edú
Obrigado Roberto.
Grande abraço, JL.
Boa resenha, como sempre, som do jeito que eu gosto! Bom 2008, Mr. Scardua.
nocivo!
Ótimo álbum, por um bom preço, valeu.
Convido o sr. Lester e seus colaboradores para conhecerem a coxinha e mocotó na cuia, do cochicho da penha, na lama. Petiscos sublimes. Seu colesterol agradecerá.
Espetacular!
Grande Payne. Enormíssimo, como disse sobre ele Julio Cortázar. E olhe que o argentino havia usado o adjetivo para Armstrong.
Para muitos, Payne era maior que Mulligan. Como não gosto desse tipo de comparação, fico com os dois.
Belo texto, Scardua.
bom demais, começou bem o ano Beto
Me rendi.(completamente encantada com todos os posts).
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