01/10/2008

Dizzy for President

Em face do triste quadro eleitoral que se agiganta diante de nossos olhos, confirmando a História da democracia, só nos resta mesmo o bom humor. E bom humor Dizzy Gillespie, o genial trompetista que infligiu severas sunfas em Miles Davis, tinha de sobra. Foi assim que, ainda no início de sua carreira, é expulso da banda de Cab Caloway por lançar bolinhas de papel nas costas do líder. O atrevimento de Dizzy desconhecia limites, o que o levou a candidatar-se duas vezes à presidência dos EUA. A primeira delas, e a que causou maior impacto, foi divulgada na capa da Down Beat de 5 de novembro de 1964: lá estava Dizzy, de fraque e cartola, jurando sua candidatura diante de Chris White, Rudy Collins, James Moody e Shelly Manne. Estava lançada a dúvida: seria mais uma inacreditável brincadeira de Dizzy ou estaria ele se candidatando mesmo à presidência? O texto da Down Beat não esclarecia, limitando-se a informar que “o trompetista de 47 anos, nascido em Cheraw, N.C., prossegue em sua campanha política, baseada em sólidos princípios, tais como: inteligência e humor perante a vida, dedicação à defesa dos direitos dos negros e muito jazz. Na entrevista concedida à revista, Dizzy comenta que “o verdadeiro problema dos direitos civis nos EUA não é a discriminação em si mesma, mas o sistema que leva a ela. Nas escolas, por exemplo, não se ensina que todos os homens são iguais. A discriminação gerada pela escravidão teve motivação essencialmente econômica e, ainda hoje, temos discriminação gerada por motivação econômica.” Gillespie defende também a maior tributação das grandes fortunas e a menor tributação da classe média, além da legalização do jogo clandestino, tributando-o. Algumas de suas primeiras providências, caso eleito, seriam: 1) mudar o nome da Casa Branca (White House) para Casa Azul (Blues House); 2) fechar o FBI (a Polícia Federal de lá) e criar uma CPI do Senado para investigar as atividades de todos aqueles que andam cobertos por lençóis brancos (clara alusão aos integrantes da Ku-Klux-Klan); 3) todos os juízes e advogados do sul do país passariam a ser negros, de modo a recuperar um pouco do tempo perdido; 4) fazer com que o Congresso retire a nacionalidade de George Wallace (célebre e racista governador do Alabama), que será deportado para o Vietnã; 5) retirar as tropas do Vietnã; 6) eliminar o termo “Secretary”, substituindo-o por “Ministers”, uma vez que se trata de palavra de origem feminina e Dizzy não queria nenhum afeminado em seu governo (talvez hoje Dizzy tivesse sérios problemas nesse ponto de sua plataforma). Alguns deles seriam: Duke Ellington para Ministro de Negócios Estrangeiros, por sua elegância natural e sua capacidade de enganar qualquer pessoa; Charles Mingus para Ministro da Paz; Louis Armstrong para Ministro da Agricultura, pois nasceu em New Orleans e sabe tudo acerca de plantar e colher produtos do campo; Miles Davis seria o Diretor da CIA e Ray Charles o Diretor da Biblioteca do Congresso. Sobre os temas mais polêmicos da política internacional, Dizzy defendia que Cuba, como qualquer outro país, precisa ser respeitada e qualquer diferença com a Ilha deveria ser resolvida de forma diplomática. Quanto à China, também comunista, Dizzy afirmava que não há como ignorar um mercado de 700 milhões de pessoas. O ideal seria promover o maior número possível de festivais de jazz na China, onde os músicos de jazz poderiam passar uns dez anos tocando sem parar. Sem falar nas vendas de discos! Para os amigos fica a faixa ( ) retirada do álbum Sonny Side Up, com Dizzy Gillespie (t, v), Sonny Rollins (ts), Sonny Stitt (as), Ray Bryant (p), Tommy Bryant (b) e Charlie Persip (d), gravado em 1957.

15 comentários:

Anônimo disse...

...


kkkk foi mesmo uma verdade ou é mais uma das anedotas fabulosas do mundo do jazz?


quer dizer que o nosso querido trompetista Dizzy superou o famigerado roqueiro Frank Zappa?


kkkkkk...


Abraços do Blog Farofa Moderna!!!!


...

Anônimo disse...

Veridíca,F. Zappa "plagiuou" a idéia do trompetista de bochechas infladas.Edú.

Anônimo disse...

Estive no Balacobaco, JL, como vc sabe.
Causou-me emoção profunda ver e ouvir Salsa, Afonso e Pedrinho Alcântara em noite tão inspirada. On Green Doplhin Street e Goodbye Pork Pie Hat de forma gloriosa, refulgente. São esses momentos, com vcs (Osvaldo, João L., Achiamé) e com a boa música, que mke fazem ainda acreditar que algo vale a pena.
Saravá!

John Lester disse...

Vero!

Anônimo disse...

Peço licença para lamentar a morte do eminente fotográfo William Claxton no dia 11/10.Claxton obteve considerável relevo ao colocar na frente de suas lentes personalidades do jazz em estupendas fotos em p/b.O fruto desse trabalho foi reproduzido em 12 magníficos livros. Outra dica diz respeito as transmissões da NPR(Rádio Pública Americana) no link
http://www.npr.org/templates/story/story.php?storyId=95409237
Trata-se de um precioso cardápio de registros recentes em áudio de excepcional qualidade das apresentações do lendário Village Vanguard em NY.Como por exemplo o concorrido set do trio do pianista Bill Charlap na semana passada.Essa inestimável dica tem crédito do luminar do CJUB ,Mário. Edú.

Anônimo disse...

Grijó e Lester tem razão. Poucos puderam curtir o som formidável de 3 músicos da pesada: Salsa, Afonso Abreu e Pedrinho Alcântara. Sim amigos, aqui em Vitória! No Balacobaco. Repertório muito bom, mesclado de jazz e bossa nova. Comida excelente e a cachaça "segredo do patriarca" estava "persistente e floral" como sempre. Muito bons também os vinhos (cortesia de mr.Lester) que foram degustados pela turma do Clube. Uma beleza!!
Quanto a candidatura de Gillespie a presidência dos EEUU foi realmente uma piada. Semelhante a candidatura de Collor aqui no Brasil. Só que por aqui "Elle" ganhou.

Anônimo disse...

Dizzy deveria ressuscitar e substituir o insosso Barack Obama. Seria facilmente eleito pelos norteamericanos confiáveis.

Olmiro Müller

Anônimo disse...

Bem colocada, ou relembrada, a candidatura de Dizzy. Se fosse por aqui, votaria nele.

figbatera disse...

Muito bom, JL, vc precisa "aparecer" mais por aqui...

Paula Nadler disse...

Querido Lester, que saudade grande eu senti. Beijos...

Anônimo disse...

E a escolha de Duke Ellington para Ministro de Negócios Estrangeiros, era muito bem abalizada...os predicados,irrepreensíveis..., assim como o restante do "staf"...
Muito bom, Mr. Lester!

Salsa disse...

Beleza de candidatura.
Conte Candoli com meu voto. E paulinha, hein, sempre bela....
Qual ministério seria reservado para nossa musa?

Anônimo disse...

poucas coisas me fazem rir muito atualmente,obrigada e parabens pela resenha.Quem poderia ser o nosso "Dizzy", em 2010? Proponho ama votação neste blog...

Digirammy disse...

I am doing my part to spread the word for Gordin Goodwin. My friends little brother had me listen to 1 of his songs because they played it in the Jazz Group at school and wow! It is available for free download here, just click away and you can hear for yourself.

http://www.amazon.com/gp/product/B001GLHC6M/ref=cm_cr_thx_view

Sergio disse...

E aí (clap clap clap), quando é que esse ócio insalubre se dissipa? Dois mesi e tal já, moçada! Vamo trabalhá!

Ô, Edu, pede a chave na portaria e repluga o blog!...