05/12/2008

Lenda viva

De vez em quando, o baterista Roy Haynes reúne um seleto grupo de amigos bateristas em sua casa em Long Island. Lá permanecem confortavelmente acomodados em seu estúdio doméstico. Bebem champagne e celebram a memória do homem que aparece retratado no pôster colado numa das paredes - enquanto ouvem suas gravações. O homem é Jo Jo Jones (1911/1985), o mais "refinado" baterista da era do swing e membro da big band de Count Basie por mais de doze anos. Haynes jamais se cansa de repetir nas reuniões: "ele é o cara !". Para os apreciadores do jazz e da própria música em si,no entanto, essa afirmação - banalizada e vulgarizada à exaustão, serve da mesma forma ao autor da reverência.Medindo não mais que um metro e sessenta e aos 83 anos de idade, Roy Haynes "rejuvenesce" dia-a-dia produzindo música arrebatadora junto ao seu grupo formado por talentosos jovens que mal alcançam os trinta anos de idade. Parece "sugar" litros do "elixir" que dá nome ao grupo: Founth of Youth (tradução livre: Fonte da Juventude). Na experiência de espectador em suas apresentações - situação duas vezes vividas por esse escriba - fica-se verdadeiramente comovido pela energia e entusiasmo do quarteto (piano, baixo ac, bateria e, na maioria das vezes, saxofone). Os jovens integrantes formalizam cumplicidade com o veterano músico, testemunha ocular e partícipe, em certos períodos, da evolução e revolução do próprio jazz há mais de seis décadas. O repertório das apresentações é composto por standards (canções do repertorio popular tradicional americano dos anos 20 até inicio dos 60 e alguns temas de jazz ,na maior parte) com abordagens dinâmicas e intervenções revigorantes. Dotado de miraculosa coordenação motora e capacidade criativa de preenchimento polirrítmico, Haynes torna-se gigante munido de baquetas, entre os pratos percussivos, tambores e pedais. Se uma das melhores virtudes da experiência humana é a sua capacidade de utilizar o passado em benefício do presente, Roy tem imprescindíveis lições a ensinar. Trabalhou com as três grandes cantoras do jazz (Billie, Ella e Sarah). Billie Holiday em 1959, seu último ano de vida. Ella, por dois meses e Sarah por cinco anos (53-58). Sarah Vaughan, inclusive, tem responsabilidade por seu primeiro "porre" na vida, depois de uma "esticada" na Filadélfia em 53. Haynes - no período de 49-50 - estava no quinteto de Charlie Parker e na histórica gravação de "My Little Suede Shoes". Participou da primeira sessão de Sonny Rollins como líder em 1951,com Miles Davis abandonando temporariamente o trompete e aventurando-se no piano "naquele take".E da primeira gravação de Bud Powell, em 49, pro selo Blue Note. Roy grava seu primeiro disco solo em 58 com Phineas Newborn(p) e Paul Chambers (b ac).Nos anos sessenta associa-se musicalmente,em diversas fases, com Lennie Tristano, George Shearing, Stan Getz e Kenny Burrell(guit).Foi integrante da históric a temporada de John Coltrane e Thelonius Monk no Five Spot no Harlem em 1958. Depois da saída de Elvin Jones, entra no grupo de John Coltrane onde fica por 3 anos. Se uma das alegadas razões da saída de Elvin foi a vontade de Coltrane em colocar mais uma bateria ao célebre quarteto, o saxofonista "arquivou" essa idéia durante seu estágio com Haynes.

Nos anos 70 e 80 fez parte do trio de Chick Corea com o baixista Miroslav Vitous. Nos anos 90, ajuda a guitarra do cabeludo Pat Metheny soar um pouco mais próxima ao jazz. Os quinze anos recentes tem sido extremamente prósperos e produtivos pra Haynes. Sendo genuinamente músico de jazz, excursiona com regularidade e tem "escritura lavrada" de três residências pra seu conforto nos EUA. Uma delas em Las Vegas, maior parque temático adulto do mundo. Coleciona automóveis clássicos e veste-se com roupas dispendiosas de grifes internacionais. Garantindo, anteriormente, sua eleição como o músico mais elegante da América ao lado de Miles Davis pela revista Esquire, nos anos 60. Um final aparentemente feliz para um indivíduo que a mera passagem do tempo se revela apenas nas "amareladas" páginas rabiscadas do calendário. Para os amigos deixo a faixa Dear Old Stockholm , com Danilo Perez (p) e John Patitucci (b), em mais uma das tantas excelentes formações em trio do mestre das baquetas. O nome do álbum é, como tantos outros, The Roy Haynes Trio, gravado em 1999 e lançado em 2000 pela Verve. Um abraço a todos e até breve!

19 comentários:

John Lester disse...

Prezado Edù, obrigado por mais uma excelente resenha. Vou correndo relembrar o álbum The Sound of Sonny, com Haynes é claro.

Grande abraço, JL.

Anônimo disse...

Prezado amigo Lester,obrigado pela generosidade e tornar possível o sonho de todo apaixonado pelo jazz:participar e ,principalmente, compartilhar informações no espaço de melhor conteúdo sobre o assunto – associado a literatura , vinhos e erudição - dos domínios da Internet brasileira. Aproveito para oferecer essa resenha ao nosso amigo, o eminente baterista André Tandeta.Abraço.Edú.

Tenencio disse...

Grande Edú! Muito obrigado, continuo me esforçando cada dia mais.
Roy Haynes é certamente isso tudo que voce tão bem escreveu . Um dos tres bateristas fundamentais do jazz moderno ,do bebop pra ca,ao lado de Art Blakey e Max Roach. Quem toca jazz na bateria(ou tem essa pretensão como eu) sabe disso.
Mr.Haynes mexeu com minha cabeça ao ve-lo no extinto Free Jazz aqui no Rio em 1999. Foi um dos melhores shows de jazz que ja vi em toda a vida. E o homem estava com "a macaca", ou "o diabo no corpo",como quiserem.
E voce vem me dando total razão qundo digo que voce é ,sim!!!,um conhecedor de jazz. Pelo menos não assume o ar professoral e vaidoso desses que a turma do CJUB chama de mestres(sic). Prefiro o que voce escreve pois é despretensioso,uma visão pessoal mas repleto de observções muito interessantes. Escreva mais que estarei sempre lendo .
Mr.Lester ,meus respeitos por ter entre as fileiras do jazzseen esse valoroso e excelente escriba . E em otimo texto na lingua patria, simples, direto ,pelo visto, abandonou certos cacoetes modernos.
Parabens ,Edú.
Abraços

John Lester disse...

É sempre assim Mr. Tandeta: quando o indivíduo tem tudo para ser pretensioso, é empurrado pela sabedoria em direção à sobriedade e ao bom gosto. Parece ser esse o maior predicado de M. Edù: a sabedoria.

Um grande abraço aos dois, JL.

Salsa disse...

É vero, Edú, seus comentários são recheados de boas informações. Quem sabe, um dia, você não aparece para o "feijão do Lester"?
Quanto ao Haynes, eu adoro o disco com Newborn.

Anônimo disse...

Aos amigos visitantes esclareço:o grande baterista André Tandeta assume o codinome Tenencio(apelido concedido a ele e homenagem ao seu saudoso "chapa" Márcio Montarroyos).Portanto, algumas de suas afirmações tem o peso favorável de nossa considerada amizade.Tandeta é dos grandes músicos brasileiros q obstinadamente defendem a nobre causa do jazz.Como também o Jazzseen.Edú.

John Lester disse...

Prezado Edú, bom iluminar aos iniciantes sobre André Tandeta, músico, e sobretudo pessoa, excepcional. Não digo mais sobre bateristas como ele e Haynes por questões que não cabem aqui iluminar.

Haverá dia em que a vaidade dos homens recrudescerão e, confio, poderei escrever com mais vagar sobre amigos virtuais que merecem toda nossa atenção.

E viva o jazz, e a amizade.

John Lester.

Anônimo disse...

E viva a Internet q permite em extremidades geográficas distintas como : Vitória ,Rio de Janeiro e São Paulo amigos possam construir uma amizade movida pela paixão ao jazz.Aproveito para agradecer ,inicialmente em caráter público, ás exageradas palavras recebidas ontem.Forte abraço.Edú.

Tenencio disse...

Espero algum dia ,em breve, conhece-los todos pessoalmente:Edú,Mr.Lester e Salsa.
Só pra voces saberem:bebo em geral cerveja ou chopp. Vinho ,as vezes mas sem bochechar ou ficar balançando o copo.
Muito bacana trocar ideias sobre musica com voces.
Abraços

Anônimo disse...

Tandeta, me contento com água da bica( já bebi hectolitros de tudo até certo período de minha vida) e a honrosa companhia dos amigos citados.Vamos promover pra breve um encontro.Uma dica aos visitantes do blog que se encontram na cidade do Rio de Janeiro: nosso amigo André Tandeta se apresenta com seu trio (bat/teclado/baixo) todas ás quintas no Barril 1800 – Avenida Vieira Souto 110 em Ipanema.Programa de primeira para quem curte o bom jazz e a bossa-nova num de seus territórios de origem.Edú.

Anônimo disse...

Nesta quinta estarei no Rio e é quase certa uma ida ao Barril...
Edú, é um prazer acompanhar suas participações no Jazzseen( assim como no CJUB, no blog do Salsa, até ,se não me engano, no Sérgio Sônico), sempre repletas de informações, num estilo quase coloquial... De Jazz e Bossa Nova, vc conhece tudo, é impressionante!
Acho que seu estilo de escrever tb. se modificou, no começo vc. era um pouco enrolado, sei lá,agora sinto mais clareza no texto, se bem que as informações sempre foram de 1ª!
Parabéns à todos nós, que podemos acessar o Jazzseen e aproveitar tudo de bom que vcs. nos proporcionam...

Anônimo disse...

Muita rasgação de seda mas, jazz que é bom, nada!

Tenencio disse...

Em primeiro lugar quero agradecer ao meu camarada Edú pela divulgação das quintas feiras no Barril 1800,aqui no Rio.Todos serão super bem vindos.
Até voce ,Predador. Sim concordo que somos chegados a rasgar seda uns aos outros mas estamos convictos que o jazz nos uniu,ainda que virtualmente,numa muito saudavel amizade. Claro que temos divergencias como sempre acontece onde existam seres humanos inteligentes.
Caso voce queira aprofundar algum assunto jazzistico gostaria que voce lesse com atenção o texto do Edú. Quantos discos com Roy Haynes voce conhece? Provavelmente muitos. Então que tal mostrar para nos sua opinião sobre o assunto, que é puro jazz , com certeza seria interessante saber seu ponto de vista sobre Roy Haynes.
E ,Predador, não se acanhe, aqui todos somos "crescidinhos" e aceitamos criticas e discordancias.
Apareça mais aqui e la no CJUB(charutojazz.blogspot.com), que é meu blog "de origem".Se voce mora no Rio ou estiver numa quinta feira por aqui va ao Barril ver o Tandeta Trio tocar.
Abraços a todos

Anônimo disse...

Sr.Tenencio: o predador, que acima escreveu ... rasgação de seda..., não sou eu. É falso este predador. Tenho alguns discos de Roy Haynes, atuando como sideman, e aprecio muito este baterista. Então, acho que não cabe abrir polêmica sobre o assunto abordado por você, pois parece que temos os mesmos pontos de vista.Quando me proponho a criticar ou elogiar, faço baseado no longo tempo de "convivência" que tenho com o jazz, ouvindo e pesquisando. Além do mais não faço intervenções curtas e grosseiras como fez acima o falso predador, que possivelmente está a fim de tumultuar. Não sou carioca, resido na terceira constelação do Planeta Orion, mas, agradeço seu convite e quando estiver no Rio de Janeiro, terei o maior prazer de assistí-lo no Barril.

Tenencio disse...

Então ta.
Esse que voce,o verdadeiro ,chama de falso não chegou a tumultuar,ele demonstrou sua insatisfação com uma pequena "mudança de rumo " da conversa.Eu apenas o convidei para que mostrasse o que pensa do assunto "Roy Haynes". Voce ,que é o verdadeiro ,poderia dar sua opinião tambem . Não importa se coincide com a minha, voce como pesquisador deve ter um ponto de vista bastante interessante.Porque não dividi-lo conosco?
Abraço

Anônimo disse...

A questão, sr.Tenencio, não é que eu queira me imputar como verdadeiro. O que ocorre é que fui o criador inicial do pseudonimo Predador, assim como seu planeta de origem Orion, para dar mais autenticiade ao personagem e criar alguns detalhes de originalidade tentando evitar que outros usassem o mesmo pseudonimo, dando opiniões que não as minhas, como foi o caso do "insatisfeito predador rasgador de seda", e outros predadores mais mal educados em várias outras intervenções.Os falsos predadores invariavelmente não entendem nada de jazz e suas curtas intervenções geralmente são descabidas com o único intuito de tumultuar. Mas, isso tudo não importa, pois, o impotante é o Jazz: e estou a sua disposição para discutir, expressando meu ponto de vista, abrangendo os anos 20 até os dias de hoje. Não négo, sou bastante radical, não me permitindo misturas expúrias no jazz. Neste ponto não faço concessões, mas sei respeitar o ponto de vista dos outros. Forte abraço!

Anônimo disse...

Por partes:
1)a partir de agora usarei meu nome verdadeiro sempre que quiser dar meus pitacos nesse espaço tão bacana,generoso e de altissimo astral que é o jazzseen.
2)Eu não estou nem ai sobre quem é o verdadeiro ou o falso Predador.O fato é que nem o verdadeiro nem o falso atenderam meu convite de comentar sobre Roy Haynes. Essas outras bobagens interplanetarias são totalmente fora de meu interesse, deve haver quem as aprecie . Se o senhor,o verdadeiro Predador, tem essa autopropalada experiencia ouvindo e pesquisando jazz que passe do blabla bla para a ação e nos brinde com sua opinião sobre Roy Haynes , o personagem do texto desse post muito bem escrito pelo meu "cumpadi" Edú. Até agora o senhor não falou uma linha sobre jazz ,só sobre o senhor mesmo ,assunto que pode ser interessante mas em outra ocasião.
Abraços a todos

Roberto Scardua disse...

Tandeta foi frio como aço com nosso petulante alienígena, mas foi correto. O Jazzseen não trata de aberrações nem de astronomia, mas tão somente de jazz, vinho e livros finos. Com letras grandes, é claro.

Que venha a resenha de nosso desdenhoso alien sobre o maior baterista do jazz, segundo sua abalizada opinião.

Anônimo disse...

Tem gosto para tudo. Uns gostam de Roy Haynes, eu prefiro Shelly Manne, Joe Morello, Phily Joe Jones, Arthur Taylor....e de resto, sem comentários!