Foi grande a surpresa entre os participantes do último blindtest realizado pelo Clube das Terças, o mais longevo clube de jazz do Espírito Santo, que deve seu nome ao dia em que ocorrem nossas reuniões, sempre por volta das 18h, no Centro da Praia Shopping, em Vitória. O cd, contendo dois álbuns do grupo, um gravado em 1959 e o outro em 1960, começou a tocar e o primeiro a acertar o nome de qualquer um dos músicos que tocavam, receberia prêmio condigno: o excelente álbum Interferências, do pianista Turi Collura. A batalha se concentrou no ágil e nítido saxofone, perfeitamente integrado às contribuições deixadas por Charlie Parker. Foram desferidos os seguintes disparos, todos fora do alvo: Cannonball Adderley, Jackie McLean, Art Pepper, Sonny Stitt, Gigi Gryce, Phil Woods, Sonny Criss, Charlie Mariano, Eric Dolphy, Lee Konitz, Charles McPherson. Nada. Um dos sócios chegou a balbuciar o nome de Bobby Watson, no que foi prontamente advertido pelo presidente do clube: Bobby Watson nasceu em 1953 e, portanto, não poderia ter realizado estes solos com apenas três anos de idade. E as apostas continuaram, todas mal sucedidas: Roland Kirk, Arthur Blythe, Ken McIntyre, Lou Donaldson, Charles Lloyd, Gene Quill, John Handy, Eric Kloss, Gary Bartz, Joe Maini, Sonny Red, Herb Geller, Oliver Nelson, Donald Harrisson. Terminado o cd, foi com tristeza que John Lester anunciou o final do teste, sem vencedores. Curiosos, descobriram os consortes que acabavam de ouvir o The Modern Jazz Disciples, quinteto formado em Cincinnati, Ohio, em 1958 pelo saxofonista Curtis Peagler, proprietário de um sopro veloz, agressivo e repleto de swing, embora totalmente imerso na linguagem do hard bop. Conforme nos relata Bob Snead nas notas do primeiro álbum, The Modern Jazz Disciples, os integrantes do grupo confessam que o apoio de Eddie “Lockjaw” Davis foi fundamental para a gravação de seu primeiro álbum. Após ouvi-los tocando no Babe Baker’s Jazz Corner, em Cincinnat, Eddie sugeriu que gravassem um tape, o que foi feito. Foi o prórpio Eddie quem levou o demo à Prestige, do que resultou a estréia do quinteto em lp da New Jazz.
Os demais membros do The Modern Jazz Disciples são William Kelly, trompetista de Cincinnat que se dedicou com sucesso a dois estranhos instrumentos raramente utilizados no jazz: o euphonium (instrumento de sopro com extensão entre o trombone e a trompa) e o normaphone (um trombone de válvulas construído na forma de um saxofone). William Brown, pianista do Harlen, Kentucky, recebeu influências dos pianistas Art Tatum, Bud Powell e Thelonious Monk, além de respeitar as contribuições de Charlie Parker, Dizzy Gillespie e John Coltrane. Lee Tucker, também nascido em Cincinnat, é um autodidata que começou ao trompete, passando mais tarde para o contrabaixo, seu primeiro instrumento. As influências de Jimmy Blanton e Oscar Pettiford são notórias. Ronald McCurdy, baterista irlandês que integrou a famosa Belfast Bag Pipe Band. Chegando aos EUA, passa a estudar na University of Cincinnat, onde conhece os demais integrantes do quinteto. No segundo, e infelizmente último, álbum do quinteto, McCurdy é substituído por Wilbur “Slim” Jackson, o que não altera o som incisivo e honesto do grupo que, como afirma Nat Hentoff, não se permite utilizar frases inúteis, fazendo um jazz repleto de entusiasmo e bom gosto. Para os amigos fica a faixa After You’ve Gone. Para detalhes, clique nas fotos para amplia-las. Até!
9 comentários:
boa dica lester, valeu!
Esse Lester descobre cada coisa...
O cara conhece muito!
E das trevas se fez a luz... Ou melhor, o Jazz Disciples.Edú.
Realmente um saxofonista muito conhecido o tal de Curtis Peagler, ele e todo seu grupo. E, os orelhudos do Clube das Terças-feiras não acertaram o blindtest! Ora mr.Lester, convenhamos: o músico em questão é completamente desconhecido, ele e seu grupo, ninguém nunca ouviu falar, a não ser a gravadora. Se todo test fodesse, digo, for desse quilate, continuaremos sem acertar.
Bem, nem entrarei no mérito de ser ou não conhecido o MJD. O fato é que seus músicos merecem não só o blindtest como também a resenha em tela. Parabéns ao Jazzseen por mais uma iniciativa inédita sobre jazz na internet.
Excelente.
Muito bom...Amei!
Disco-aço. Supimpa! Pastamos e repastamos ouvindo o som do camarada. Só falta a cópia. Aliás, tristeza geral, perdi uns 40 gigas de música por causa de um vírus. Choro.
QUASE 100.000 VISITAS!!!
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