O período de uma década parece ter sido insuficiente para aqueles que viveram intensamente os anos setenta. Nunca, em igual período da história recente tantas regras, normas e hábitos foram modificados, substituídos ou mesmo rompidos de forma tão brusca. Na moda, o homem recebeu coleções especificas das grandes grifes a custa da "barra boca de sino na calça xadrez" ou dos horripilantes paletós jeans. Assumiu - sem constrangimento de sua masculinidade - a bolsa a tiracolo como acessório diário repousando-a sobre o ombro ou presa ao pulso numa versão que se convencionou chamar de "capanga". A mulher, diante da variedade de métodos contraceptivos pactuou convivência intima com seu parceiro pelo espaço de horas apenas sem vestígio de culpa alguma ou obrigação de prolongar esse afeto pelo dia seguinte. Nova Iorque sofre blecaute de mais de 12 horas e transformava a longa noite de 12 de julho de 1977 numa sucessão interminável de atos de selvageria e vandalismo que à aproximaram da era pré-histórica onde inexistia - de fato - a luz. Na música se jorrava dinheiro de forma perdulária. Músicos de rock - num exercício de megalomania - compravam jatos comerciais e cruzavam o território americano em turnês de mais 365 dias. Por seu lado, o jazz vivia a melancólica experiência Fusion. Pela primeira vez o estilo definido nas enciclopédias como original e transformador sofria a submissão na mistura com algo que ninguém com pleno uso de sua capacidade mental poderia classificar. Afinal, era um excesso de artifícios eletrônicos, percussivos , teclados , sopros e pedais distorcivos onde até mesmo a voz humana era mecanicamente modificada. Provocando mais surpresas, ruídos e sustos do que simplesmente a sensação de bem-estar. Imerso nessa controversa corrente fusion "até o pescoço" - seja por oportunismo comercial ou por atender um lado mais "experimentalista" - Herbie Hancock (p) sente necessidade em auxiliar o jazz a retomar um "bom caminho", levando seu grandioso legado às novas gerações. Recruta para essa tarefa seus companheiros Ron Carter (b ac), Tony Williams (bat), Wayne Shorter(saxes) e Freddie Hubbard (tromp e flughel) pra formarem um quinteto de nome bem apropriado nessa verdadeira cruzada combativa em 1977. V.S.O.P. (very special old product - tradução livre: produto muito especial envelhecido). Essa abreviação de letras, identificável nos rótulos dos melhores conhaques, endossa procedência e origem num produto de absoluta qualidade. Poderia soar algo como bastante esnobe tamanha ousadia. Porém, os cinco eram músicos devidamente experimentados sendo o mais "caçula" deles - Tony Williams - com 31 anos na época - e Shorter o mais "sênior", com 43 anos. Examinando de forma breve seus currículos se percebia que eles não estavam pra brincadeira. Todos, excetuando Hubbard - por motivos óbvios, fizeram parte do segundo quinteto destacado de Miles Davis em meados dos anos sessenta. Williams, moleque de 17 anos na entrada do grupo, atreveu-se afirmar ainda - quando o grupo foi "desmontado" - que: "Miles aprendeu que não deveria atrapalhar demais as performances dos colegas". Hubbard , definido pelo também trompetista Dave Douglas - por ocasião de sua morte no final de dezembro de 2008 - como um desafiador da lei da física na facilidade e velocidade como alterava e desenvolvia os tempos melódicos e dos próprios limites da harmonia pela simplicidade com que brincava com as notas, já tinha passado pelo teste admissional prévio na melhor formação do Art Blakey and The Jazz Messengers na companhia do próprio Shorter em 1961. Dessa combinação de talentos e virtuosidade formou-se uma entidade coletiva sem espaço para uma batalha de egos ou reinvidicação por maiores cachês individuais. Era apenas o empenho e esforço de músicos extraordinários cientes que dando o melhor de si nessa causa quem ganharia - antes de tudo - era a própria sobrevida do jazz. O resultado dessa, infelizmente, curta experiência pode ser avaliado em dois lps duplos ( The Quintet e Tempest in the Colosseum ambos de 1977 pelo selo Columbia) que saíram em forma de cds em anos distintos. O primeiro, em 1989 e o segundo somente em 2004 para o mercado americano. São dois registros quase brutos (sem praticamente uso ou alteração de efeitos ou correções de estúdio) de concertos gravados ao vivo - para o primeiro disco - respectivamente no auditório da Universidade de Berkeley e no Centro Cívico de São Francisco. O segundo álbum, durante o Festival de Jazz de Tókio, para uma platéia quase contemplativa de mais 10 000 espectadores "hipnotizados" pela exuberância da sonoridade acústica. Se uma corrente de economistas brasileiros defende a tese que a década de 80 foi a desperdiçada, nos anos setenta - por interferência, em parte, desses músicos - no que se refere ao jazz se evitou igual destino. Para os visitantes fica a faixa Byrdlike , do primeiro cd. msn orkut facebook
40 comentários:
Musicos talentosos, eximios nos seus instrumentos...mas o resultado nao me agrada!
E a bateria...!
Padrão Jazzseen, sempre em crescendo. E me desculpe a internauta véia mas o som é de primeiríssima. Muito bem Edú!
Essa foi uma reunião de “bambas” q impediu , do seu jeito e meio , o jazz de contrair matrimônio com a discoteca nos anos 70.Byrdlike é de autoria de Freddie Hubbard.Valeu JL.
Grande,meu "cumpadi"Edú!
Maravilhosa performance de um grupo de musicos que ajudaram a escrever o livro do jazz. Todos eles. Palavras, pra que palavras? Ta tudo ai,é só ouvir.
Abraço
Como sempre, mais uma excelente resenha de nosso amigo Edù.
Duas coisas boas na postagem do sr.Edú: 1) relembrar-nos dos acontecimentos dos anos 70; 2) a frase "Miles aprendeu que não deveria atrapalhar a performance dos colegas" dita por Tony Williams. Quanto ao disco VSOP, Internauta veia tem toda razão, não agrada. E digo mais: disco experimentalista sim, recheado de composições atonais, mistura de free jazz com fusion, um "troço" de dificil assimilação. Ainda bem que, embora acústica, foi de pouca duração estas experiências. Graças a Deus! Salvam-se a múcia Lawra e a atuação de Freddie Hubbard.
No post acima, onde se le múcia, por favor leiam música.
Miles era bom de pose mas quando assoprava aquele trompete vermelho, Deus nos livre!
Foi um quinteto fantástico que já prenunciava o que estava por vir: a revalorização do jazz acústico e reformulação da linguagem bop em detrimento das tantas sonoridades artificiais que, naturalmente, deturparam o jazz na década de 70, como bem salientou Edú. Mas eu ainda acho que Art Blakey foi o grande homem que deu a maior contribuição para que o jazz saísse da fase controversa do Fusion, pois, fiel ao Hard Bop, ele revelou a maioria dos chamados "Young Lions" entre o final da década de 70 e o início da década de 80: Terence Blanchard, Wynton Marsalis e Branford Marsalis (que chegaram a tocar com o VSOP por um curto período), Charles Fambroug, Benny Green, Vincent Herring...enfim, uma pá dos chamados "jovens leões" saiu da escola de Art Blakey. O VSOP foi importante para o início dessa fase porque foi de onde Wynton Marsalis (ainda com cabelo power, magrelinho, com 19 anos e de bigode)tirou a idéia de começar a trabalhar a partir de onde o segundo quinteto de Miles tinha parado: o resultado foi a reformulação do jazz baseado a partir da influência daqueles membros do VSOP (que tbm eram os mebros do segundo quinteto de Miles), só que a partir de composições originais, com mais energia, mais polirritmia, mais carregado de arranjos, diálogos, modalismos, mudanças rítmicas e cheio de temáticas - características essas que começaram a ficar evidente nos primeiros arranjos e composições originais de Wynton Marsalis, resultando num estilo que os críticos chamariam de Neo-Bop. O sucesso dessa abordagem foi tão grande que deu um novo ânimo ao jazz acústico, de modo que os críticos tbm chamaram essa época de "Renascimento do Jazz".
Depois que os membros do VSOP forneceram subsídios para Wynton (inclusive, colaborando em seu primeiro disco em 1981), eles seguiram seus caminhos, alguns ainda com o Fusion: Freddie Hubbard, que já tinha sido substituído por Wynton no VSOP em 1982, trabalharia no quinteto do veterano Benny Golson até parar de trabalhar após complicações com o lábio...Ron Carter trabalharia em alguns discos de Wynton e em outros trabalhos paralelos com outros "Young Lions"... Tonny Williams gravou dois álbuns com o grupo Fuse One em 1982, seguindo com outros álbuns solos pela Blue Note...e Herbie Hancock lançou um disco chamado Future Shock em 1983, um disco bem elétro-funk, seguindo nessa linha década de 80 adentro...
Um excelente texto, esse do Edu.
Abraços.
Prezado Vagner, seu comentário - ou poderíamos chamá-lo de tratado? - veio em boa hora. Apesar de muito criticado, o trabalho desenvolvido por Wynton é importantíssimo, não somente por tudo que você comentou mas principalmente, em minha opinião, pelo retorno às origens, pelo respeito ao legado erguido por grandes músicos do passado. Wynton resgatou o velho blues, tão abandonado pelo jazz da década de 70.
E Wynton fez mais: mergulhou na compreensão ampla e no domínio profundo da herança musical jazzística, não permitindo que músicos de segunda categoria se aproximassem do Lincoln Center. Como querer fazer jazz moderno, em pleno século XXI, se você não consegue nem repetir um solo de Parker, Gillespie ou Tatum?
Wynton fez a garotada estudar, praticar e, ao mesmo tempo, colocar o pé na terra, na lama, na plantação de algodão. Compreendendo, assim, quanta dor gerou o jazz.
Grande abraço e viva o neo-tradicionalismo, acústico é claro.
JL.
legal, uma sábia compreensão e observação, Lester! Gostei da indagação: "Como querer fazer jazz moderno, em pleno século XXI, se você não consegue nem repetir um solo de Parker, Gillespie ou Tatum?" e eu tbm acho que é realmente essas indagações que Wynton esfregou na cara dos seus contemporâneos...
O interessante é que se vc ouvir os primeiros discos de Wynton verá que suas abordagens parecem estar dentro de um caminho progressista: a composição Knozz Moe King por exmplo é totalmente cheio de modos (aquelas escalas gregas) e mudanças rítimicas... alí vê-se uma abordagem atonal onde arranjo é trabalhado de forma tão apurada que é capaz de confundir nossos ouvidos no distinguir entre o que é composição escrita e o que é improvisação, uma característica das composições de Wynton. Mas, em relação às estruturas rítmicas, por exemplo, ele não seguiu à frente com aquela abordagem polirrítimica e complexa dos seus primeiros discos. A partir de 1987 ele voltou-se ao blues com um jazz mais compassado, como vc bem disse: é nessa época que ele lança o album The Magesty of Blues e mais três álbuns que compõe a série Soul Gestures in Southern Blue. Aí a impressão que se tem é que Wynton foi ficando cada vez mais tradicional, mas não foi bem assim: essa segunda fase de Wynton é um estudo profundo das tradicões, bem como é caracterizada por uma escrita jazzíetica muito apurada, ou seja, wynton passou a escrever grandes composições recheadas de arranjos que exigiam grande atenção na leitura musical e uniformidade dos membros do seu conjunto...o improviso, por sua vez, era apenas mais uma ferramenta entre os arranjos escritos. Isso não foi algo inédito porque Duke Ellington já tinha iniciado algo perto disso e Charles Mingus foi um mestre nessa abordagem. Mas Wynton Marsalis, com seu septeto, foi o único que soube evoluir a partir de Ellington e Mingus, e o fez de forma muito rica e peculiar.
numa matéria recente, o crítico João Marcos Coelho chegou a dizer que Wynton Marsalis é o principal compositor da atualidade a revolucionar a escrita do Jazz - leia-se a composição escrita em pauta musical, como os grandes mestres eruditos escreviam seus concertos. Deixo o link para quem quiser ler:
http://farofamoderna.blogspot.com/2008/10/dinastia-marsalis-wynton-revoluciona.html
Abraços.
Com todo o respeito,Mr.Lester,meu "cumpadi" Edú e Vagner ,
é facil falar mal do fusion, basta repetir o que os criticos de musica diziam naquela epoca. Os jornalistas da epoca não entendiam nada de musica,igualzinho aos de hoje. Alias jornalista não entende de nenhum assunto e da palpite em todos e tem gente que vai atras.
Muitos musicos,muitos mesmo, descobriram o jazz atraves do fusion. Isso nunca é dito.O fusion estimulou muito mais gente a estudar seriamente musica do que Winton Marsalis ,por exemplo.Só pra constar quero dizer que sou grande admirador de Winton Marsalis .Sou musico profissional ha 33 anos, peguei o auge do fusion e afirmo que eu e muitos outros fomos estimulados a nos dedicar ao estudo porque queriamos entender da onde vinha aquilo.Isso nos levou ao jazz.Claro que tem muita porcaria eletronica e bate -estaca mas se não houver preconceito ou atitudes do tipo"maria vai com as outras"(excessivo respeito a um tipo de jornalista pseudo conhecedor de musica)ha muita coisa boa no fusion. O jazz ,do tipo "puro"tambem tem uma quantidade de coisas ruins,algumas muito ruins,como em tudo.Mas tem que pixar o fusion pelo uso da eletronica e dos ritmos de rock,acho que até por reflexo condicionado e mostrando que ser puro é que é bom. Mas as novas maneiras de compor e tocar que vieram com o fusion ninguem fala,claro, pois ninguem percebeu afogados em preconceitos e seguindo os "mestres"(sic ao quadrado)que sabem muito sobre datas e nomes mas zero de musica. Winton Marsalis deve sempre ser elogiado e louvado pela musica que faz ,que é de altissimo nivel. Ele tambem é um educador e com certeza exerceu, e exerce, excelente influencia nos jovens. Mas uma coisa não exclui a outra.
Pra terminar:
se não gostam de fusion pra que falar nele? Porque para elogiar alguma coisa é preciso pixar outra?
Uma autocritica:esse comentario tem uma redação que com muito boa vontade pode ser chamada de sofrivel,tenho o chamado "simancol".
Abraços a todos
Eu também passei por aí - o som fusion me tirou do rock'n'roll. Depois que eu fui entender que aquelas musiquinhas dos desenhos animados de minha infância eram o bom e velho jaz
O V.S.O .P - com essa nomenclatura - foi o grupo composto pelos músicos mencionados e terminou após uma breve experiência q durou menos de 24 meses.Após isso, todos voltaram atenção aos seus projetos pessoais.O resultado dessa extemporânea reunião se produziu em forma de uma turnê pelos EUA levando um publico pagante de mais de 100 mil pessoas -predominantemente universitários - em pouco mais de dois meses.Partes do registro dessa turnê foi colocada no lp duplo – depois lançado em cd e relançado agora novamente em nosso mercado doméstico. Herbie Hancock tinha feito um disco com Carter e Williams chamado Third Plane (tema de Hancock até mesmo abordado pelo quinteto e composto em homenagem a Miles) em forma de trio e não usou a nomenclatura em 1977 mesmo.O segundo álbum do grupo foi registrado em Tókio como menciona a resenha.Foi utilizado um dos primeiros gravadores digitais existentes no mundo na época , fornecido pela Sony q levou desespero aos técnicos e engenheiros de som nipônicos com medo da chuva q imprevisivelmente surgiu durante o concerto danificasse o aparelho.Mais de 10 mil espectadores permaneceram na tempestade e silenciosamente apreciaram o espetacular concerto.Ruídos dos pingos sobre a tampa do piano é audível aos aficionados mais dedicados dessa gravação lançada em lp duplo e somente em cd para o mercado americano em 2004.Em função da imensa popularidade do grupo no Japão, Hancock recebia continuas propostas por “anos a fio” para reuni-los de novo.Quando Wynton Marsalis foi adotado por alguns membros do grupo foi recrutado para participar da excursão japonesa.No entanto, tiveram o cuidado de não repetir o nome.Hubbard não estava presente.De estilo mais incendiário q Marsalis, era autor de diversas peças abordadas pelo grupo como Red Clay e Byrdlike.Quando Miles morreu em 1991, Hancock novamente reuniu o grupo –sem o registro V.S. O .P e não incluiu Marsalis por ser uma heresia a Miles q o detestava e adorava o irmão Branford.Fizeram o Miles Davis Tribute q esteve no Brasil em 1992 para um Free Jazz com Walace Rooney ao trompete( degraus inferior a Wynton e Hubbard).Esse escriba teve a chance de ver esse grupo de uma distancia central de 3m.Tornando-se uma das maiores experiências musicais q presenciei em vida.Portanto, V.S. O. P foi somente com a presença desses músicos e pelo período de 1976/1977.
(...quem nunca ouviu rock e Funk que jogue a primeira pedra...) rs
Eu adoro Stevie Wonder, Cream (Clapton, Baker, Bruce) e Zappa (esse roqueiro doido que gostava de jazz e foi, de certa forma, fusionista, jazzista e experimentalista)...rs
Acredito que no Funk, no Fusion, no Rock e na Música Eletrônica há não só bons músicos como há bons ingredientes que quando usados de forma elaboradamente artística surtem em bons resultados.
O trompetista Marcio Montarroyos, por exemplo, usou de vários recursos eletrônicos em seus álbuns, mas com arranjos geniais. E o fusion do Joe Zawinul Syndicate é tão genial que até Wynton Marsalis fez um programa dedicado a Joe Zawinul, um pouco antes dele morrer (tem um post no Farofa Moderna, onde eu deixei o link do programa pra quem quiser ouvir)
A minha crítica ao Fusion não é porque ele não faz parte da minhas preferências, mas pelo inquestionável fato de que, em um determinado período, os arranjos elaborados para soarem jazzísticos deu lugar a superproduções com intuito de soar pop: Miles Davis, por exemplo, começou a tocar teminhas de Prince e Ciny Lauper...o improviso jazzístico, a partir daí, deu lugar à entonações melódicas bem açucaradas para agradar o paladar das massas e a instrumentação passou a ficar cada vez mais artificial: nascia o smooth Jazz...e hoje os jazzistas falam mal do smooth culpando Kenny G, mas ninguém culpa Miles por alavancar essa onda lá no início...é fato ou não é? (rs)
...então, meus queridos, é uma questão de falar mal não dos gêneros musicais, mas de separar o joio do trigo dentro de cada um deles.
Abraços e boa noite!
...os primeiros discos fusionistas de Miles são todos bem compostos: escutem, por exemplo, Paraphernália gravado em Paris com um quinteto: Chic Corea no piano elétrico (no lugar de Hancock) e Dave Holland no baixo (no lugar de Ron Carter)...mó sonzeira!
Bem, não era exatamente essa a nossa intenção inicial - minha e de Mr. Salsa - quando criamos o Jazzseen, não. Nem sonhávamos que um dia teríanos comentários de tão alto nível - muitos deles redigidos por músicos profissionais e que podem, assim, dar a teoria para o que nossas orelhas observam.
Eu, como músico amador, só posso me gabar de ser um completo apaixonado pelo jazz, estilo que venho estudando e ouvindo há cerca de 30 anos. Observo ainda uma série de amigos ávidos por externar suas preferências, suas paixões e suas divergências, o que, no fim, acaba por transformar os "comentários do Jazzseen" em verdadeira apostila maceteada, capaz de aprovar qualquer candidato no vestibular do jazz.
Percebo exatamente o que cada um dos amigos quis dizer, defender e condenar. Só acho, e estou desse lado da cerca, que o jazz acústico é melhor. Mal comparando, é como se ouvíssemos uma orquestra sinfônica ao vivo, a 3 metros de distância como disse Edú. A primeira vez que ouvi uma osquestra sinfônica ao vivo, na Sala Cecília Meireles, na Lapa, chorei.
E por aí vai. Nada para mim substitui o som amadeirado de um contrabaixo acústico; nem toda a tecnologia japonesa e alemã reunidas podem fazer com que eu troque o som do velho piano de madeira, desafinado e com cupim, de um dos bares sujos de New Orleans, por um Roland última geração. Corea que me perdoe: eu não me ligo às claves, aos jogos harmônicos sobre a partitura - eu me ligo nos arrepios que percorrem minha nuca quando ouço a música.
Por fim, antes de agradecer a incrível participação de todos, gostaria de recomendar aos mais elétricos o espetacular álbum 101% acústico Wynton Marsalis Septet Live at the Village Vanguard (7CD gravados em 1999) num bar onde você fica a 100cm do trompete de Wynton.
Grande abraço, JL.
É, mas eu saí rapidinho dessa trilha. Esses discos do vsop foram doados. Não sinto saudades.
Acho que Vinyl ganhou todos - ele se amarra nesse lance.
Tô com lester.
Só para arrematar: quando Wynton Marsalis tocou com Hancock,Carter e Williams no Japão o grupo se denominou Quartet.O ano foi 1981 , lançando um álbum duplo, também, exclusivamente para o mercado japonês naquela oportunidade.Em 1990 foi lançado em cd – o resultados dos dois lps.Em 2008, a Sony (o selo original era Columbia) relançou nova versão remasterizada.
3 e tanto da manha e eu, como internauta veia que sou, perdi o sono e fui fazer o que? Futucar a internet, ler as ultimas noticias e...claro, visitar o Jazzseen...!
Li os comentarios, ouvi uma, duas, tres vezes, deixei mesmo como fundo musical a faixa Byrdlike,( nao conheço musica, nao leio coluna de critico musical, apenas me emociono ou nao, me agrada ou nao o que ouço)...como da 1ª vez, sei que sao musicos extraordinarios, de "primeirissima", muito talentosos, mas o resultado nao ME agrada! O que nao quer dizer nada, afinal!
Parabens a todos por seus requintados habitos auditivos e mais ainda pela atenção e importancia que a musica tem para cada um de voces.Como musico só posso dizer que é emocionante .
Creio que discordamos no varejo e concordamos no atacado. O que é otimo pois estimula a inteligencia debater e argumentar com pessoas tão interessantes como voces.
Vagner:era exatamente ao grande Zawinul que eu ,veladamente, me referia.Compositor que eu considero genial ,pianista de jazz com total dominio de varios estilos e pioneiro explorador de novas sonoridades e formas. Poucos,muito poucos podem se igualar a ele.
Tenho uma opinião que deixo aqui para debate,caso interesse. Zawinul conseguiu ,de fato,os discos dele e do Weather Report estão ai pra quem quiser ouvir,o que Miles tentou mas não chegou realmente la. Os discos de Miles a partir de "Bitches Brew" são confusos e sem muita direção,explorações em aguas turvas. Zawinul sempre foi um artista com uma estetica definida. Ele criou uma linguagem musical onde o jazz ,o blues,o rhythm&blues e varias musicas de todo o mundo(Africa,India,Brasil,Cuba etc) se fundem mas não numa massaroca sem sabor e sim num maravilhoso caldeirão sonoro, estimulante e inovador.
Ja na epoca do quinteto de Cannonball Adderley ele mostrava total dominio das diferentes linguagens da musica negra americana:jazz,blues e gospel(o verdadeiro,não isso que chamam gospel ,argh!!,no Brasil). Foi o musico que introduziu e explorou o Fender Rhodes no jazz,que foi pioneiramente usado por Ray Charles no classico "What'd I Say". Aliado a outro genio,Wayne Shorter,criou o Weather Report. O WR é uma verdadeira instituição musical . Sou fã de carteirinha tenho uns 12 discos ,considero uma referncia em termos de criatividade e performance musical de conjunto.
Viva a musica e viva o Jazzseen.Agora que aprendi o caminho não consigo deixar de vir aqui bagunçar a calma de voces com minhas opiniões de velho musico metido a sabichão. Na verdade gosto de aprender,morrerei tentando. Perdoem os evidentes exageros ,os erros de portugues e a veemencia que ,como ja falei,sempre gera mais calor que luz.
A todos um abraço com respeito,admiração e carinho.
Apenas a título informativo: Zawinul foi uma criança virtuose.Desde cedo foi encaminhado para estudo no Conservatório de Viena.Tocou e morou debaixo do mesmo teto q Ben Webster.Portanto, antes de dominar - com maestria - as sutilezas e os megawatts da “eletrificação sonora”, recebeu um considerável tratamento no território acústico.
É aquela coisa Edú: madeira é madeira, cabo elétrico é cabo elétrico.
E, ao vencedor, as batatas!
JL.
Prezado Lester, eu tinha perdido o trocadilho devendo escrever " considerável tratamento de choque no território acústico".Mas por uma questão de honestidade aos visitantes devo declarar q era admirador de Zawinul.Tenho uns 3 ou 4 cds (sujeito a conferir) do Weather Report - meu preferido é o 8:30.No final da vida Zawinul,consumido por um câncer raro de pele em menos de seis meses após diagnostico, estudava retorno ao caminho do acústico com peças escritas para a Filarmônica de Viena.
Acordei ,não sei porque,pensando nesse assunto acustico x eletronico ou jazz X fusion.
Me pareceu bem claramente agora que é uma discussão colocada em termos de uma falsa polarização.Os dois generos musicais não se excluem, podemos gostar dos dois,de um só ou ate de nenhum.
E tenho que discordar da tão bem apresentada tese do meu irmão mais novo Edú. Não creio que o jazz precise ou precisasse ser salvo. Ele nunca esteve ameaçado de morrer."Jazz is not dead ,it just smells funny" dizia Frank Zappa. O que em minha opinião aconteceu é que na decada de 50 havia um ambiente que estimulava o interesse das pessoas por arte e o jazz se inclui nisso. Por causas que alguem deve saber melhor que eu isso foi se modificando e as pessoas passaram a só se interessar por consumo,televisão e, hoje em dia, internet . Jazz, como toda arte digna desse nome, pressupõe contemplação, que não é minimamente valorizada nos tempos atuais. Para usufruir da experiencia artistica é preciso um tempo que nada tem a ver com o relogio,um tempo criado pela nossa cabeça e pela necessidade de buscar na arte alguma coisa que complemente e estimule nossas mentes e emoções. Ouvir o mesmo disco varias vezes seguidas,as vezes o mesmo solo, aquilo vai se entranhando na gente ate que podemos dizer que é nosso,como se tivessemos nascido com aquela musica dentro da nossa cabeça. Todos que aqui vem me parece que, em maior ou menor grau, cultivam esse espaço da contemplação que o jazz tanto precisa. Claro que podemos deixar o som ligado enquanto fazemos outras tarefas,tudo que faço em casa é com musica tocando seja jazz,classico,musica brasileira ou cubana mas se alguma coisa ,mesmo das ja conhecidas,me chama a atenção eu procuro um tempo pra uma audição intima ,digamos assim.
Enfim são divagações dominicais em portugues de segunda linha.
Abraços a todos
Prezado André (mano mais velho)
Nenhum ser humano vive dissociado de seu tempo e realidade social – a menos q habite uma caverna.O que a resenha pretendeu destacar é q cinco eminentes músicos abandonaram temporariamente suas atividades regulares com seus grupos e recorreram a linguagem acústica nos anos setenta para – contra a corrente da musica q se ouvia na época – garantir a perenidade de um jazz “mais elementar”. O curioso e q pelo menos quatro deles estavam profundamente envolvidos em trabalhos de técnica mais “eletrificada”.Vejamos :Herbie Hancock com o Headhunters,Tony Williams com seu Lifetime , Wayne Shorter com o Weather Report e Freddie Hubbard ( q colocava bastante piano elétrico, sintetizador e bateria eletrônica em seus trabalhos solo nos anos setenta).Quanto a superioridade da linguagem acústica sobre a elétrica prefiro colocar q “ o tempo foi senhor da razão”.
Prezado tandeta,
Esse lance do tempo é um fato. Fomos dominados por um movimento maquínico em que tudo é cronometrado, medido, pesado. Ouvir música no meu stereo é coisa rara, atualmente. Tenho aproveitado as minhas viagens ou as madrugadas para mergulhar na música - conecto-me em um fone de ouvido e deixo rolar. O lance de partilhar as impressões de minhas solitárias audições resume-se aos posts no blog e aos encontros com a rapaziada do club das terças.
Adorei Tandeta, disse tudo!
Vocês poderiam falar mais baixo? Estou tentando ouvir Bucky Pizzarelli aqui na minha vitrola. O álbum é Swing Live, gravado em modesta qualidade de dvd-audio.
Obrigado, JL.
Tenho esse cd e nem sabia q havia saído também a versão em forma de dvd-video(imagem e som) da mesma forma.Bom domingo e semana a todos.
Ate quinta la no Barril 1800 , para ver e ouvir o Sr. Tandeta!
o papo aqui tá bom !!
e lendo tudo isso aí eu também formo o time que ouviu, e ainda ouço, um bom fusion e compartilho da idéia que também foi a minha porta para ouvir jazz
aqui no RJ teve um movimento muito forte nos final dos anos 80 de música instrumental, todos os grandes músicos, grandes mesmos, e Tandeta vivenciou isso , estiveram em cena - Biglione, Nico Assumpcao, Ze Lourenço, Joao Batista, Marcos Ariel, Ricardo Silveira, Gandelman e uma infinidade de outros nomes, virtusos, que promoveram essa explosão cultural que estava adormecida em nossa terra. Tinhamos mais espaço para shows, e shows ao ar livre, e ainda tinhamos uma "forcinha" das rádios locais que tocavam música instrumental e tinha programas de jazz de verdade com o Arlindo Coutinho e o Luiz Carlos Antunes, nossos colegas lá do CJUB.
A música tá aí mesmo pra gente ouvir e não é porque Miles tocou Michael Jackson e Cindi Lauper que vou excluir do cardápio, até porquê ficou bom mesmo.
E cada vez mais vamos presenciar essa transição de temas mais populares no formato "mais jazz", é pra entortar mesmo !
Som na caixa !!
Abs,
Obrigado pelo visita Mr. Guzz.
Grande abraço, JL.
Isso aí, Edu, educa esse prelado.
Prelado é a autoridade eclesiástica que, na Igreja Católica, tem o encargo de governar ou dirigir uma Prelatura ou Prelazia. O Prelado é o "Ordinário" próprio da Prelatura.
Sérgio, nessa igreja tem vinho?
Grande abraço, JL.
Lester, não sei pq quando eu cehgo pra comungá, já bebi tanto q perco o interesse.
Abraços!
Que coincidência boa ! Comprei esse disco, há uns 15 dias. O disco mesmo, LP, vinil.
Tenho que admitir que a Internauta veia tem razão em não apreciar este VSOP. Isso, porque ela ouviu só uma música....rs.
Sou músico, adoro jazz e gosto de algumas coisas mais fusion. Mas, esse disco realmente é pesado. Não posso ouví-lo com minha mulher aqui em casa !
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