10/02/2009

Elas também tocam jazz: Saori Yano

Era 25 de julho de 2005 e Roberto Scardua não conseguia esconder a excitação diante de sua primeira vez no Smoke Jazz Club, em New York. E não tirava os olhos da tatuagem da garçonete loura do Smoke - quem já foi ao club sabe de quem estamos falando - consumindo muito mais do que os apetites ordenavam, apenas para ver mais de perto as curvas e nuances do desenho sobre a pela branquíssima e com fortes indícios de tenra maciez. Eu por meu lado engolia lentamente minha Absolut sem gelo e lembrava de Ajax, obra de Sófocles onde podemos encontrar a lapidar máxima: "o silêncio embeleza todas as mulheres". Seria de fato verdade que a mulher virtuosa é aquela que não emite som? Por quais motivos Plauto teria dito que é sempre melhor a mulher silenciosa? Estaria aí o segredo do sucesso feminino? Bem, o show inicia e a pequena e delicada japonesa Saori Yano começa a nos contar estórias com seu pequeno e lépido saxofone. Instantaneamente Roberto desloca o pescoço em direção ao palco, percebendo que há outras formas de beleza no interior do Smoke. O fraseado da menina oriental remete imediatamente a Bird, o rei do bebop e fica evidente que a voz feminina pode dominar, em segundos, todo o ambiente do club. É claro, semre haverá quem o diga, que em certos trechos a sinuosa saxofonista ainda pontua com certa exitação seu discurso musical e quase vacila no vernáculo de Parker e Gillespie. Mas quase vacila de tal forma que não sabemos se é proposital, como um Guimarães Rosa inventando suas próprias palavras ou como um Machado de Assis realizando suas próprias concordâncias psicológicas. Afinal, quantos podem afirmar que gravaram seu primeiro álbum de jazz aos 16 anos? Saori descobriu o jazz através de um velho cd de Jaco Pastorius que pertencia a seu pai. É nesse álbum que a menina ouve Donna Lee, primeira vez que ouve Charlie Parker, abrindo os olhinhos e passando a ver as coisas de forma diferente. Aos 14 anos lê a biografia de Billie Holiday, que passa a ser sua segunda paixão no mundo do jazz, descobrindo que Lady Day, com apenas 14 anos, já cantava em clubs de jazz para sobreviver. Animada, Saori pega todos os telefones de clubs de jazz do Japão que consegue obter e se oferece como saxofonista. É claro que todos os clubs recusam a oferta da jovem desconhecida, exceto um, que a convida para uma audição. Daí por diante, seriam mais de 200 apresentações anuais em vários clubs que formariam a base musical de Saori, que nunca recebeu uma educação musical formal. É uma artista, como se diz, que aprendeu jazz "on the job". No meio do caminho, encontra músicos como Frank Wess, George Coleman, Toshiko Akiyoshi, Jimmy Cobb e sobretudo James Moody, saxofonista que influenciou a jovem menina não apenas musicalmente, mas também quanto ao caráter e à vida, além de sofrer horrores tentando lhe ensinar alguma teoria musical. 

Sua primeira apresentação fora do Japão foi no Smoke Jazz Club, a convite de Jimmy Cobb, onde conta com o suporte sólido de Moody, resultando no álbum Parker's Mood, onde se pode ouvir o aplauso caloroso de Roberto Scardua à tatuagem da garçonete loura que, no fim, venceu a atenção do jovem colega. E, mais uma vez lembrando Sófocles, fiquei chocado quando soube que Saori não atingiu a notoriedade falando jazz, mas com a boca fechada e os lábios repletos de batom. Foi gravando uma série de comerciais de cosméticos em Los Angeles - Asian Beauty Series - que, absolutamente calada, Saori Yano atingiu a fama. Para os amigos fica a faixa I Got Rhythm, gravada naquela noite inesquecível, em que Roberto viu as pernas mais longas de sua vida.
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31 comentários:

Anônimo disse...

voz nociva

figbatera disse...

Que deliciosa narrativa!
E vivam as mulheres que melhor se expressam tocando algum instrumento do que falando.

figbatera disse...

E, Lester, faltou dizer quem são os outros músicos que tocam neste vídeo.

Notícias Mundo Afora disse...

Nós mulheres...sempre revolucionando o mundo das artes :)
Abraços

Andrea Nestrea disse...

fig, que história é essa que as mulheres "melhor se expressam tocando algum instrumento do que falando"?
tsc tsc tsc....
linda a moça!!!

Paula Nadler disse...

Infelizmente ainda conquistamos mais rapidamente o sucesso mostrando um rosto bonito do que tocando um solo de Charlie Parker. Parabéns Saori, mais uma mulher mostrando do que somos capazes fora das camas e passarelas. Só você Lester, beijos!

Anônimo disse...

Muito bom o texto do sr. John Lester. Quanto ao som da Saori Yano, sai de baixo! É muito "chinfrin". Sou mais Kátia Rocha.

Vagner Pitta disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Vagner Pitta disse...

ual!!!...lindinha, mas precisa ser ela mesma...tipo como a Hiromi que aprendeu com Ahmad Jamal e Oscar Peterson e tem um estilo todo pessoal: tanto no piano como em composição.

...mas ela tem tempo e talento pra se descobrir.

No Farofa Moderna eu falei uma vez da violinista Miri Ben-Ari, uma isrraelense que estudou com Isaac Stern (um dos maiores violinistas eruditos do século XX) e mudou-se aos EUA pra tocar jazz. Recebeu a tutela de Wynton Marsalis ao mesmo tempo em que descobriu o gosto pelo Hip Hop. Até agora ela gravou dois dicos de Jazz e colaborou no disco de Ted Nash, liderando uma sessão de cordas. Também gravou um clip de hip hop em homenagem à Martin Luther King que é coisa linda.

bem, tomara que ela volte a gravar jazz, porque os solos dela no disco Rhyme and Reason, de Ted Nash, são originalíssimos e virtuosos. Até fico pensando se a Regina Carter não teve alguma inveja da mocinha judaica...ainda que por um lapso...rs

Anônimo disse...

Assim a gente confirma que tudo que a mulher põe na boca vira música. Delícia.
Esse Predador não é chegado .
Saori: estou Ynsano.
Lester, põe mais na roda do Predador que ele enlouquece de vez.
Queremos mais Elas...

figbatera disse...

Minha cara Andréa, eu só quis fazer uma saudação àquelas que sabem se expressar através de um instrumento. (rs)
Adoro todas vocês...

Salsa disse...

Eu ficaria feliz se conseguisse tocar assim. A japa sabe das coisas - gostei principalmente porque ela trafega na região média e baixa do instrumento, sem aquela gritaria dos agudíssimos.
Sabes quando ela destilará o sax-appeal em alguma revista especializada?

Anônimo disse...

Prezado JL, já esta enviada.Confira - assim q possível - a cx.Uma dica de boas refeições nas 24 horas do dia e para os q não dormem cedo :padaria bella paulista.Endereço - Haddock Lobo 354.Fica próximo ao "albergue".Abraço

Anônimo disse...

Pois é... a japa toca muito sim ! E é linda ! Pra que tudo isso ?...rsrs.
E, caramba, ela só tem 21.


Complementando:

Richard Wyands: piano
John Webber: baixo
Jimmy Cobb: bateria

Abs !

ReAl disse...

também gostei. A carinha de molequinha também me agradou.

Rogério Coimbra disse...

Lester : esse foi mais um luxo do jazzseen. A menina toca bem mesmo, e daí ? E esse pessoal prodígio gosta de muito nota, como aquele garoto russo que esteve em Vitória (esqueci o nome). Mas fiquei pasmo mesmo com Jimmy Cobb, que completou dia 20 de janeiro 80 anos ! Fantástico. Um mestre. E quando ele morde a baqueta ? Só o jazz, só o jazzseen para unir uma fedelha japonesa e Mr. Cobb.

Danilo Toli disse...

Aprovada, com louvor!

Anônimo disse...

Eldar Djangirov é nome do pianista prodígio quirquistanês.Jimmy Cobb vem em maio tocar em São Paulo no Bridgestone Music Festival e continua gravando excelentes discos como líder como Cobb´s Groove (Milestone 2003) e Cobb´s Córner (Chesky 2007).

Rogério Coimbra disse...

Santo Deus, Mr. Cobb vai a São Paulo ??!!
Jimmy Cobb esteve entre nós, aqui em Vitória,quando estivemos na produção do show de Sarah Vaughn no Teatro Carlos Gomes, em 1978.
Rolou muita coisa com a turma. Walter Booker, o bass, ficou mais coma gente. Ela era casado com a irmã da mulher de Wayne Shorter, Maria, brasileiras, ela que morreu naquele acidente de avião que caiu em NY.
Mas MR. Cobb era uma figura. Chamei-o de Mr. COMB pois sempre sacava de um pente do bolso da camisa para acariciar o cabelo.
Walter adorou Vitória e os nossos discos. Ele disse que se sentia em casa.
Também...
Quem poderia dar detalhes sobre a apresentação de Mr. Cobb em SP ?

Marília Deleuz disse...

Tem coisa mais sensual que uma mulher tocando sax?

ReAl disse...

Você, Marília, não precisa de adereços.

Anônimo disse...

Ana Maria era o nome da mulher de Wayne Shorter, homenageada em vida com um tema dedicado pelo marido, morta naquele trágico acidente aéreo.Shorter ,inclusive, entrou com ação indenizatória contra a companhia aérea.Cobb estará em São Paulo entre 14 e 16 de maio se apresentando no Citibank Hall (antigo Palace) no Bridgestone Music Festival.Será um projeto homenageando o cinquentenário do álbum de Miles Davis “Kind of Blue”.O grupo é denominado Kind of Blue@50 e se encontra em excursão mundial nesse presente momento tendo Cobb como líder,Vincent Herring(sax alto) e Javon Jackson(sax tenor),Buster Williams (contrabaixo acústico),Wallace Rooney(trumpete) e Larry Willis (piano).

Anônimo disse...

Perdão, respeitosamente, o contrabaixista não séria Walter Brooker?

Anônimo disse...

Eu nao digo que ele sabe das coisas? E so perguntar que ele responde...E bem educado!
Gostei muito da Saori Yano, agradavel de ver e de ouvir, adorei o lance de Mr. Cobb com a baqueta nos dentes...Legal!

Anônimo disse...

Não Edu, o contrabaixista é o John Webber mesmo...

O vídeo não tá com uma qualidade 100%, mas o Walter Brooker é bem mais velho... Além disso, John Webber é sideman do Jimmy Cobb.

John Lester disse...

É... Só mesmo Mr. Nakamura para ensinar alguma coisa a Mr. Edù.

E obrigado a todos pelos comentários. Em breve retorno à Vila Velha e retomo os trabalhos no Jazzseen.

Grande abraço, JL.

Anônimo disse...

Acho que o Edu estava se referindo ao comentario do Coimbra, quando da estada de Jimmy Cobb em Vitoria, la pelos idos de 1978...e nao ao contrabaixista do vídeo da gatinha japonesa...

Anônimo disse...

Obrigado,Internauta Veia,vc foi minha porta-voz.Me referia ao ano de 1978,mencionado na visita de Sarah Vaughan a Vitória ,Daniel.JL, acho q vc aprendeu nesta estadia paulista q viver nessa cidade caótica custa bem caro(rs,rs,rs).By the way, eu aprendo com todo mundo querido.

Rogério Coimbra disse...

Nessas horas, invejo os paulistas e sua cidade. O Rio tá fraquinho, fraquinho.E o último show, com a Gambrini e Roy Hargroove foi para sepultar o Mistura Fina, aliás, a programação do MF. Agora lá é pagode, pode ?
Belo grupo para homenagear o Kind Of Blue.

Anônimo disse...

Gambarini, melhor dizendo.

Maria P disse...

Coimbra, eu também. O Rio jaz...