05/02/2009

Velhacos

Quem, afinal, tem 85 anos de idade, eu ou Mr. Lester? Não posso acreditar que, em pleno século XXI, alguém com inteligência mediana não participe do rico experimentalismo que o jazz está vivendo em todo o mundo, exceto, talvez, no Lincoln Center e no Jazzseen. E, o que é pior para Mr. Lester e seus seguidores acústicos, muito desse experimentalismo não brota de New Orleans nem de New York, nem sai da boca de Wynton Marsalis nem de James Carter, mas da Alemanha, da Dinamarca, do Japão, da Noruega, do Canadá, da Austrália e d’outros lugarejos onde o jazz vai bem, obrigado. Seguindo a herança lastreada por gente como Joe Zawinul, Wayne Shorter ou Miles Davis, jovens livres e sem pudores estão por aí, associando jazz à eletrônica, enfrentando a realidade como ela é, e não como alguns gostariam que ela fosse, num saudosismo reumático que dói mais que todos os ossos reunidos de meu velho esqueleto. Exemplo? Pegue o trabalho de um Thomas Siffling, competente trompetista alemão que vem mesclando o jazz acústico com a chamada electronic groove music e produzindo um som repleto de energia, contemporâneo e acessível a um público vasto e jovem. Em seu trabalho, Thomas resgata os modelos eletrônicos da década de 1970, o wah wah trumpet, o delay, além de elementos do Cajun e da percussão africana, entre outros, produzindo um dos mais atuais electronic groovy jazz. Como se não bastasse, Thomas ainda aprecia muito a culinária, do que resultou em seu álbum Kitchen Music, um convite para ouvidos e paladares. Para os velhacos, deixo a faixa Southside , retirada do álbum Human Impressions, lançado em 2005 pelo selo Phazz-a-delic.

22 comentários:

Paula Nadler disse...

Som gostoso, Fred.

Beijo!

Anônimo disse...

Senhor Bravante,
otima tentativa .Tambem acho que tem musicos em todo o mundo fazendo musica hibrida,influenciada pelo jazz e com o uso de elementos eletronicos bastante interessantes. Se o vocabulario melodico dos solistas for jazzistico ate podemos chamar de jazz contemporaneo.
Esse exemplo aqui eu estava gostando muito ate que entrou uma bateria com aquela batida na caixa no segundo e quarto tempos,o chamado backbeat,ai ficou insuportavelmente chato. Se não conseguiram encontrar uma levada ritmica, tanto faz se nova ou velha ,sem esse recurso tão chato e primario (estamos falando de jazz,ou não?)realmente fica dificil falar em inovação. Bem intencionado mas superficial e sem suingue.
Sem a menor cerimonia e com muita pretensão sugiro irem a minha pagina no myspace:myspace.com/andretandeta e ouvir minha composição "Perto Longe". Aceitarei de otimo grado todas as criticas mesmo as mais depreciativas. Ouçam e tirem suas conclusões.
Abraço

Vagner Pitta disse...

Desculpe, se meu comentário não te agradar Frederico, mas essa sonoridade não tem nada de experimental, é uma recriação, um revival ao som de Miles Davis ou Donald Byrd da década de 70. Tu escreveu a resenha como se essas sonoridades de jovens mais "descolados", por assim dizer, fossem os únicos sons que pudessem ser chamados de contemporâneo. Felizmente estamos uma época onde tanto o jazz acústico de James Carter (que tem muito de avant-garde e uma energia própria surpreendente) como o jazz cheio de eletrônica de Thomas Siffling, podem ser incluídos dentro do rótulo de "jazz contemporâneo". E como eu disse, é preciso reconsiderar que esses "experimentos" não são novos: a música eletroacúsita, o free jazz e as sonoridades mais "grooves" já estão indo para meio século de existência, mais ou menos. Então, o que esses jovens de hoje estão fazendo - inclusive James Carter também faz muito disso - é assimilar e misturar tudo o que já foi experimentado nas décadas passadas. É preciso considerar que os EUA só passa por essa fase de revalorização do jazz acústico, das tradições e cultura afro-americana, porque nas épocas mais experimentalistas os músicos de avant-garde foram tão além que destoaram por completo a música chamada jazz, sendo que muitos deles renegaram até o rótulo de jazz, dizendo que eles apenas faziam "música criativa" - o que em certos casos foi uma contradição porque de um lado começou a imperar as produções comerciais e do outro lado o abstracionismo sem o mínimo de criatividade explícita. Então foi legítimo que uma nova geração surgisse para defender que o jazz tem uma indentidade e uma tradição aliada à cultura americana, mesmo sofrendo inúmeras influências externas e estando em vários lugares do mundo.

O uso da eletrônica em instrumentos acústicos é realmente uma grande tendência, mas não é algo novo: na década de 70 já existiam pedais de efeitos e, mais recentemente, Jane Ira Bloom passou a ser a pioneira em usar efeitos em seu sax soprano, desde o início da década de 90. Mas, felizmente, o conceito de pós-modernidade ou contemporaneidade está, hoje, associado tanto a músicos que atualizam as técnicas e tradições impostas pelas vanguardas históricas como também à músicos como Erik Trufazz e Thomas Siffling que estão começando a usar experimentos descobertos em décadas mais recentes, como a música eletrônica e eletroacústica.

não se pode desconsiderar o reduto norte-americano e considerar um reduto europeu, até porque em nova iorque também há muitos músicos que fazem jazz com eletrônica e hip hop - a maioria foram descobertos por Wynton Marsalis, inclusive: Branford Marsalis, Nicholas Payton, Roy Hargroove, James Carter, Christian McBride só são alguns que usam hip hop e música eletrônica em seus discos.

Mas valeu aí por apresentar novas possibilidades de audição neste espaço onde é mais comum o jazz tradicional - que eu venero com o mesmo ímpeto que o jazz contemporâneo, sem desconsiderar a riqueza e importância de ambos!


abraços!

figbatera disse...

Eu também sou "velhaco" e prefiro o jazz clássico (tradicional), mais acústico.

Don Oleari disse...

De cara pergunto:

os poderosos chefões do jazzseen - um dos dois meus linkados permanentes - vão aceitar a sugestão do autor e iniciar uma coluna ou tornar rotina um espaço para o jazz contemporâneo ou que nome tenha?

Reforço a sugestão.
O autor, Frederico Bravante, demonstra no seu ótimo texto que é do ramo e tá sacando uqui rola na periferia.

Por que não ele, já colaborador, se encarregar da tarefa?

Pelo trumpetista alemão aí, vê-se que ele anda ouvindo coisas que valem a pena - e eu falo como velhiço rebelde, que jamais, mesmo velho aos 19 anos, teve medo de encarar os novos sons.

E encarei Lennie Tristano, quando gravadoras nem queriam pagar ao pianista seus experimentos...Ou Eric Dolphy, ou Ornette Coleman, ou a fase eletrônica de Miles Davis, que passei a curtir, como o curtia acústico...
Não sou um entendedor, nem especialista em nada. Mas, meu zouvido são muito bons, falsa modéstia à parte.

Em tempo: voltei agora, pela quarta vez, para conferir o som do alemão aí. Fico com ele, sem problema. Vou pesquisar o disco para experimentar mais.

Valeu, BrAvante! Avante com a idéia de mostrar a velhos e novos uquitem de novo na praç deste mundim globobalizado.
Abraço a todos. Valeu pelas lições e informações.
Do Oleari.

Don Oleari disse...

Um anexo:
Tomo a liberdade de perguntar ao Frederico Bravante uqui ele acha do trabalho desenvolvido atualmente pelo saxofonista Marcelo Coelho e seu MC+4 em sampa e periferia - foi festejado adoidado em Buenos Aires outro dia.
Do Oleari.

John Lester disse...

Democracia tem dessas coisas: somos obrigados a engolir a opinião estapafúrdia de amigos como Mr. Bravante.

Curioso que, quando estive na Espanha, em companhia do ancião andaluz, só fomos a clubes que tocavam o melhor jazz acústico de Madri.

Que conversa é essa Fred? O alemão parece um Miles Davis em Doo-Bop, gravado faz 18 anos!

De qualquer forma, obrigado pela colaboração, JL.

Anônimo disse...

Fico com Mr. Lester,


O panorama cultral atual é, salvo raras exceções, um deserto de homens e idéias. Há muito pouca vida intelegente na indústtria cultural (ou seria escatológicultural). O bom e velho som acústico de caras como Ahmad Jamal, Ray Brown, Bill Evans e outros gênios acaba sendo um dos últimos refúgios de quem curte música de qualidade.
As tentativas de traçar novos rumos para o jazz - sobretudo com a mistura de instrumentos acústicos com batida eletrrônica - não me atraem. Prefiro um bom e velho (taí ma ótima combinação - bom e velho ou velho e bom) jazz acústico.
Não me empolgo com "o novo pelo novo". Curto o novo se, além de "novo" ele também for "bom". O "novo e ruim" não me sensibiliza.
Diga-se que não achei ruim o som do Sr. Siffling - seu toque é delicado e sua sonoridade tem personalidade, o que revela um músico bastante competente (decerto, lembra muito Miles Davis). Mas o instrumental eletrônico - que no caso do alemão até que foi usado com inteligência e parcimônia - não me parece casar bem com o jazz e a mistra, na imensa maioria das vezes, se revela incaapaz de emocionar ou de surpreender.
Se eletrônica pressupõe programação, programação pressupõe planejamento matemático e planejamento pressupõe controle do resultado final, então a eletônica guarda, em seu nascedouro, uma certa incompatibilidade ontológica com o jazz, que nada mais é que "o som da surppresa". Sem surpresa, sem jazz.
No mais, essa discussão perde todo o sentido se você, Bravante, identificar nessa música algo sem o qual não consegue viver (parafraseando o Rilke de Cartas a um jovem poeta).
Nesse caso, essa música de certa forma controlada e pprevisível vai ser jazz, pois tem o condão de emocionar - como somente o jazz conegue fazer.
Quanto à qestão geriátrico-paleontológica, invoco a ancestral sabedoria popular: panela velha é que faz comida boa.
Abraços a todos

Salsa disse...

Rs, gostei da análise ontológica do camarada Cordeiro. Lembro-me de, há muito muito tempo,ter usado um overdrive na minha velha clarineta. Parei ali.
O som do alemão é levim, frapê. Não compraria.

John Lester disse...

Como matemático, preciso advertir Mr. Cordeiro que o caos também é nosso negócio. Além da popular geometria dos fractais - que chega a ser bela em alguns de seus resultados - há uma gama variada de campos onde o caos, o inusitado, a surpresa, são tratados matematicamente. É o jazz, vejam só, açambarcando a linguagem mais pura e precisa que o homem inventou.

Como definiu Euclides, "A point is that wich has no part". Logo depois vem Martianus Capella e propõe: "Punctum est cuius pars nihil est" (Thirteen Books of The Elements (Vol. 1, Londres: Dover, 1956, p. 155).

O ponto não tem parte ou a parte do ponto não é nada?

Grande abraço, JL.

Anônimo disse...

Uma boa diga pra me continuar no meu cantinho, já que existe muitas cabeças cheias de teorias vas e continuar engolindo mosca e cuspino camelo nesta esta chamada jazz. desagradavel ver situações como essa onde o insplicavel justificar algo que na luz da razão esta claro pra quem quer ver.Vejo que o jazz esta cominhando nas trilhas da musica classica onde o individualism (não de quem compoe mas de quem ouvi e ouvi de forma errada)esta separando algo que de inicio e de regra não caminha sozinho.Não sou contra o jazz experintalista e nem dos loucos que toca cha cha cha em sua latas de 18 litros dos restos das construções da vida e chama de jazz. Sou contra dos absordo que ouvimos de que a parentimente é cheio de teoremas e conceitos sem nexos achando que a razão esta do lago de lunaticos que escreve sem ao menos ler depois o que escreve. Desculpe o meu desabafo mas é hilario abrir seu computador e acesssar uma pagina respeitada como essa e ver bate estaca por algo que se resume numa unica coisa:despreso.Lamentavel senhores criticos de mesa de boteco.

Anônimo disse...

Esse negócio de contemporâneo, revalorização do jazz não existe. Jazz é alma, sentimento, improvisação, dentro de um padrão e extruturas musicais organizados. O que se está rotulando de jazz contemporâneo não tem nada a ver com jazz, o clássico e velho bom jazz. Fusion, Free, grooves, experimentos eletrônicos, percussões, foram introduzidos por alguns músicos ditos e não ditos de jazz, para se promoverem e ganharem dinheiro. Podem ser chamados de tudo, mas, tenham paciência, não é jazz. Rotular este tipo de música como sendo jazz é que está errado. Aliás, muitas misturas são detestáveis. Não conheço tango free, bolero fusion, samba salsa, etc...Há quem aprecie, tudo bem, cada um tem seu gosto musical pessoal, idoso ou jovem. Os posts mais objetivos sobre este assunto, com alguns senões, foram os do sr. Vagner Pitta e Érico Cordeiro, e, abaixo a idéia do meu "velho" conhecido, jornalista, radialista, produtor e conhecedor musical O.Oleari de se criar um espaço/coluna para esse maldito "contemporâneo ou que nome tenha". Apesar de estarmos numa democracia, relembro-os que este blog é de JAZZ. Além do mais, não podemos e não devemos continuar com esta discussão "besta", tentando explicar o inexplicavél. "Cataclisma mundis fuderam est".

John Lester disse...

Muita calma meus amigos, lembrem que toda equação de grau n possui n raízes. Ou não?

Além disso, nosso correspondente em Madri, tenho quase certeza, deve ter exagerado na Tempranillo.

Grande abraço, JL.

Anônimo disse...

É Mr. Lester "elas tão descontroladas"(sic).
Calma ,meninas,ta voando muita pena e pelo que voces escreveram dai é que não sai nada mesmo .
Se espremer bem sai muito pouco caldo.
Mr. Lester ,meus respeitos, o Sr. merece uma estatua ou um feriado(municipal no minimo) pela sua infinita paciencia com esse bando de chatos,me incluo nesse grupo ,é claro.
Abraço

ReAl disse...

O anônimo usou um tradutor? A sua bronca ficou hilária.
E o povo tá que gasta o latim.

Anônimo disse...

Jazz é isso mesmo, muita discussão, muitas discordâncias, pontos de vistas completamente divergentes. Será que chegaremos a alguma conclusão ? Certamente que não, opiniões sobre jazz assemelham-se a duas paralelas e, como dizia o falecido presidente do Corinthians, Vicente Matheus: "quem está na chuva é p'ra se queimar". Aguenta mr.Lester!

Anônimo disse...

Não Vinyl, não usei tradutor. Apenas um desabafo, somente um desabafo em ver tamanha hilaria como vc disse sem latin

Don Oleari disse...

Voltei só pra conferir a contenda. Boa contenda, acho, pois discutir e divergir civilizadamente, negar, renegar, contestar, "vocês vão ter que me engolir", essas coisas, acho muito saudável.
E só possível entre caras inteligentes e informados quinemqui oceis. Acrescetando à lembrança do João Luiz, o curintianu Vicente Matheus dizia sempre também: "o jogo só termina quando acaba". Abraços a todos.

figbatera disse...

Isto aqui tá ficando até engraçado mas um pouco confuso também...

Anônimo disse...

E lembrando figura importante e respeitadissima de nosso meio cultural, em passado recente, o Chacrinha tb. dizia, em relaçao a Discoteca:" Um programa que acaba quando termina..."
Erudiçao e com nois mermo!

Anônimo disse...

Musica muuuuito chatinha....Melhorzinho o trompete, mas como vem com o resto....nao da! MUITO CHATA!!!

Marília Deleuz disse...

Achei gostosa. Bju!