02/03/2009

Autodidata

Nosso amigo Tandeta, membro do excelente blog Charuto Jazz, parece não ter gostado de nossa defesa ao autodidatismo, expresso na resenha anterior sobre Urbie Green. Na referida resenha, Tandeta fez o seguinte comentário: "Mr. Lester, desculpe a sinceridade mas o texto é pura conversa mole pra boi dormir. Desde a decada de trinta os musicos de jazz tem sempre uma formação musical bastante solida,muitos sairam de universidades ou das escolas de musica das Forças Armadas,da Marinha principalmente.Esse musico autodidata e que toca totalmente de ouvido ficou la pra tras ,bem nos primordios. Caso haja duvida recomendo consultar "Early Jazz" de Gunther Schuller,paginas 292 e 293. Urbie Green é um músico excepcional e devemos ouvi-lo sempre, é um dos mestres do trombone. Otima essa faixa colocada aqui. Abraço." Em seguida, embora exausto e faminto, Mr. Lester respondeu ao ilustre visitante:
"Prezado e veemente Tandeta, obrigado pela participação, sempre contundente. Após bater uma laje, não poderei acordar o boi, mas faço uma breve anotação. Não faz muito, por um desses dissabores do destino, fui expulso por faltas da Universidade Federal do Espírito Santo, onde havia sido aprovado em terceiro lugar para o vestibular de música. Aulas pela manhã, você sabe, aparecia 11:30 para pegar a presença e não obtinha sucesso. Mas não há como negar o aprendizado obtido: confirmei que a universidade não faz a menor falta para o artista genial. Claro, ela pode ajudar o aluno dotado e inteligente a tornar-se um músico competente – instrumentista ou compositor. Mas o gênio sobrevive sem ela. Os musicalmente medíocres, como eu, saem de lá executando de forma singela alguma peça mais simples ou compondo coisas como atirei o pau no gato. Mas o gênio, esse prescinde do academicismo e talvez até se favoreça sem ele.

Quanto às fontes, é bom lembrar que a Bíblia tem mais de 20 interpretações, cada uma delas de acordo com a visão cristã que determinada seita assume. Por isso, não baseio minhas opiniões apenas no que leio, citando a fonte, mas comparando-a com as demais disponíveis e igualmente confiáveis para, ao cabo, formar opinião própria, coisa rara nas esquinas e raríssima na net. É claro, e concordo com você, que Gunther Schuller é uma figura importante do jazz, nem tanto como tocador de tuba, nem tanto como compositor, nem tanto como regente, nem tanto como professor, mas sobremodo como crítico, estudioso e historiador do jazz.

Também por uma dessas vontades do destino, possuo a obra completa já publicada de Schuller, em inglês (pela Oxford) e em francês (pela Parenthèses). E, já que você citou o moço, ele mesmo não se cansa de pedir desculpas pelos erros mais crassos que comete em seus livros. Por exemplo: em seu livro The Swing Era: The development of jazz, 1930-1945, Ed. Oxford, 1989, p. 327, ele mesmo escreve: “I fear that I misjudged the pré-Calloway Missourians somewhat in Early Jazz. While admiring their elemental, fiery drive, I also suggested that they worked primarily in clichés. Cliché is probably too strong word.” Como se não bastasse, ele afirma, na mesma página, que "The twelve sides recorded by pre-Calloway Missourians are virtually unique in jazz-recording history and contain, in their particular idiom, at least a couple of masterpieces”. Ou seja, sua fonte, prezado Tandeta, é, no mínimo, sincera ao assumir e corrigir as próprias bobagens que fala enquanto os bois dormem.

E, nesse item Schuller, vale lembrar as palavras do crítico Blair Johnston: “Like American music itself, however, Schuller has not always steered clear of controversy — the very masses that admire him have sometimes been baffled by his uncompromising attitudes and blunt statements.”
Por isso, sempre consulto mais de um livro antes de emitir opinião própria. Só não poderei me prolongar nesse tema em virtude da terrível fome de Joana, minha bassê, que puxa ferozmente minha camisa para que eu lhe dê a ração noturna. Mas, prometo, voltarei ao assunto self-taught, citando críticos honestos e respeitáveis que admiram e exaltam o autodidatismo.

Reafirmo apenas que considero o autodidatismo saudável sim. Precisamos de pessoas capazes de transcender o arsenal acadêmico disponível, trazendo à tona descobertas, invenções, arte e tecnologia que a grande maioria dos universitários jamais foi e jamais será capaz de produzir. Vide Van Gogh e vide Charlie Parker.

Precisamos dos Bix Beiderbecke, Ornette Coleman, Lester Young, Ruby Braff, Trevor Watts, Errol Garner, Mary Lou Williams (como compositora), Krzysztof Komeda, John Zorn, Max Roach e tantos outros que nos fizeram e nos fazem coçar a cabeça quando tocaram ou quando tocam.

E, prezado amigo, não deixe escapar a oportunidade de ler na íntegra a esclarecedora entrevista concedida pelo crítico Gene Lees, onde há o seguinte trecho:

JJM You have stressed the educational background and technical knowledge that's necessary to be a good jazz musician.
GL Part of the myth of jazz, because it's an improvised music and requires improvisation, is that these guys were ignorant of music. There have been a very few jazz musicians who played pretty much by ear - which doesn't mean you have no talent, it means you don't even need the written note, you can hear it. A few guys like Errol Garner and Wes Montgomery could not read music, but by and large, most jazz musicians have had very good schooling, which is to say that jazz musicians have almost all had classical training, whereas classical musicians have not had jazz training. That is why the jazz musicians, such as Andre Previn, are able to go on to be symphony composers and conductors. Mel Powell, the stride pianst James P. Johnson and Earl Hines all had very good knowledge of the classical repertoire. Something else to be kept in mind, "self-taught" does not mean "un-taught." There are two or three composers, like Gil Evans and Robert Farnon, both of whom happen to be from Toronto, who trained themselves. They got scores and read them and studied them, and believe me, they know those scores as thoroughly as anybody from any conservatory. Farnon told me once, when he was first writing at age 15, he would write one part at a time, lining it up on the floor with papers spread all around him. He met Don Redman, who asked him if he had ever heard about writing on a single sheet of paper as a score. So when you say he was self-taught, sure, up to a point he was, but somebody showed him something along the way.

JJM There is a similar story about Benny Carter learning arranging by laying out parts on the floor…
GL Yes. You know, a lot of guys did that! It's a not uncommon phenomenon. (íntegra: http://www.jerryjazzmusician.com/mainHTML.cfm?page=lees.html ).

Ou seja, ser autodidata em música não significa não saber música. Aurélio e Houaiss deixam isto claro.
Quanto ao autodidatismo no jazz atual, a coisa continua fluindo normalmente, com diversos músicos sem qualquer formação acadêmica ou que largaram as universidades após alguns meses ou anos de estudo, sem concluírem seus cursos. Quanta saudade do Vitor Assis Brasil hein?"

E você, amigo leitor, o que acha do autodidatismo no jazz?

24 comentários:

Marília Deleuz disse...

Porque o Tandeta não gosta de quem aprende sozinho? Eu adoro!

Salsa disse...

Lembro-me do workshop com Aaron Goldberg, em Ouro Preto. Ele disse que para tocar jazz é necessário ouvir muito e tentar "tirar" as músicas de ouvido. Eu questionei, porque ele tem uma longa formação erudita, que lhe permitiu uma técnica considerável. Ele redarguiu afirmando que isso não facilitou grande coisa quando se tratava de tocar jazz: ele teve que esquecer, ou deixar de lado, um monte de coisas da academia que só atrapalhavam.
Eu, cá com meus botões comigo mesmo, acho que eu deveria estudar um pouco, conhecer algumas manhas do instrumento, exercitar algumas daquelas escalas chatas e tediosas. O fato é que, às vezes, os colegas mostram pequenos detalhes que fazem uma enorme diferença na hora de tocar. Bem, como disse o Lester, ser autodidata não significa não estudar. Mas também conheço um monte de estudiosos cujas almas se perderam em exercícios de escalas.
Papo complicado, esse.

John Lester disse...

Prezado Bravante, antes de tudo gostaria de deixar transparente minha admiração pelas opiniões e pelas resenhas do amigo Tandeta.

Em segundo, eu meu texto original, fiz anotar que "É certo que hoje o academicismo tem sobrepujado gradativamente o autodidatismo, mas sempre haverá no jazz aquele espaço para a invenção destemida que, por sorte, vez por outra nos brinda com um genial improviso, fruto da mais irresponsável vontade de fazer essa música instantânea que é o jazz."

E a questão está exatamente aí: há uma gama importante de críticos e músicos que analisam exatamente a "academização" do jazz, ou seja, a perda de sua espontaneidade, de seu senso criativo instantâneo, tudo em virtude da criação das chamadas universidades de jazz, sobretudo a partir dos anos 1950' na Costa Leste. E não sou apenas eu quem diz que o tema vale uma boa resenha, mas gente como Wynton Marsalis, Tom Piazza (Understanding Jazz), Ted Gioia (West Coast Jazz), James Lincoln Collier (Jazz: The american theme song) e mais uma infinidade de apreciadores sinceros do jazz.

Grande abraço, JL.

Anônimo disse...

Pelo contrario, autodidata e aquele que se instrui por si mesmo, sem professores...estuda, pesquisa, corre atras, le ou ouve tudo que for possivel...um estudioso, em ultima analise!

John Lester disse...

Perdão amigos, eu quis dizer, no comentário acima, "a partir dos anos 1950' na Costa Oeste".

Desculpem a falha, JL.

Anônimo disse...

Eu gostei da resenha, o texto e bom de ler e tranquilo, expondo uma situação real, uma breve consideraçao sobre musicos e apreciadores do Jazz...!
Quanto a mim,fiquei bem acordada, lendo e ouvindo as postagens e faixas musicais que o Jazzseen nos proporciona...

Anônimo disse...

nociva a foto da resenha

Anônimo disse...

E eu q pensava q tinha a primazia das polêmicas do blog(rs,rs,rs).Tem varias vertentes para um papo complicado como esse q se referiu o Salsa - músico profissional de oficio.O decano dos pianistas brasileiros de jazz, Moacyr Peixoto, me confessou diversas vezes q se arrependia muito por não ter tido uma formação acadêmica q lhe permitisse ler e conhecer melhor música de forma teórica.Errol Garner - q não lia nada e intuía tudo - é o pianista favorito de Nelson Freire – maior pianista clássico brasileiro de todos os tempos.Hoje, os métodos de ensino de música sofreram um aperfeiçoamento , segundo o pianista Amilton Godoy (considerada a melhor leitura à primeira vista dos músicos paulistas ) ,fazendo com q se demorava para desenvolver em meses para aprender se assimila em dias, basta interesse.Meu amigo Jeff Gardner escreveu o que é considerado o mais completo tratado mundial sobre ás técnicas do piano no jazz.Uma apostila em forma de calhamaço de mais de trezentas páginas q comprei e passei para frente por achar q estava “léguas” distante de minhas pretensões como pianista de “final de festa”.A realidade é q o músico preparado por uma questão de mercado e oportunidades tem melhores condições de sobrevivência nos dias aterradores em q sobrevivemos possuindo uma base acadêmica mais sólida.Se isso é um desfavor a sua espontaneidade criativa e se reverte em melhor inspiração não tenho certeza.Todavia, tenho convicção q é inadmissível a não “tradução livre” desses longos trechos citados em inglês(rs,rs,rs) .

Danilo Toli disse...

É aquilo que o Lester disse, se você quer tocar 'atirei o pau no gato' numa churrascaria, é claro que um banco de faculdade cai bem. Mas jazz não é isso, eu creio. Jazz é feito por gênios e, concordo com Lester, os melhores são os autodidatas. Só pra complicar, vejam só:

Frank Zappa certa vez causou polêmica ao dizer: "Drop out of school before your mind rots from exposure to our mediocre educational system. Forget about the Senior Prom and go to the library and educate yourself if you've got any guts. Some of you like Pep rallies and plastic robots who tell you what to read."
Friedrich Nietzsche, o mais revolucionário filósofo do século XIX, quem diria, nunca estudou filosofia em colégios ou universidades.
Mark Twain certa feita disse: "I have never let my schooling interfere with my education."
Os diretores de cinema a seguir nunca fizeram faculdade de cinema, ou a largaram antes de terminar: Steven Spielberg, Quentin Tarantino, Robert Rodriguez, Paul Thomas Anderson, David Fincher, Stanley Kubrick, John Huston, Woody Allen and Steven Soderbergh
Outros autodidatas que me vêm à lembrança foram: Sócrates, Avicenna, Benjamin Franklin, George Bernard Shaw, Feodor Chaliapin, Abraham Lincoln, Thomas Alva Edison, Malcolm X, Walter Pitts, Frank Bender, Srinivasa Ramanujan, Gottfried Wilhelm Leibniz, Oliver Heaviside, Michael Faraday, Alfred Russel Wallace, Henry Walter Bates, Thomas Henry Huxley, Herbert Spencer, Moshe Feldenkrais, Gerda Alexander, Heinrich Jacoby, Jonathan Lamdan, John Boyd, Joseph Campbell, August Wilson, Arnold Schoenberg, Joachim Raff, Georg Philipp Telemann, Edward Elgar, John Bunyan, George Fox, Rodney "Gypsy" Smith, Penn Jillette, Vincent J. Schaefer, Ameer Hamza Shinwari, Robert Lewis Shayon, David Bowie e Kató Lomb.

Das centenas de músicos autodidatas do jazz atual cito apenas o pianista Bill Charlap, que largou a faculdade para estudar por conta própria. E essa informação eu não li em lugar nenhum, mas ouvi do próprio Bill, em NY.

Anônimo disse...

Prezado Toli,

todos os cineastas americanos vivos citados por ti , coincidentemente, consideram Martin Scorsese o maior deles.Scorsese é graduado pela NYU.Como vc conversou pessoalmente com Charlap,e ciente de sua origem brasileira , capixaba, inevitavelmente soube q ele é alucinado por Tom Jobim.Sendo ,inclusive, diretor artístico do 92nd Street Y Jazz in July com um dia dedicado exclusivamente a sua obra.Jobim não cansava de mencionar a importância de Kolreuter e Lírio Panicali como seus mestres.Não tenho uma opinião fechada sobre o assunto, mas um dia dividindo uma conversa com Fernanda Montenegro num vôo lhe mencionei qual era sua opinião sobre a necessidade da formação superior nas Artes Cênicas.Ela disse q considerava absolutamente essencial para ator ou atriz.Insisto pela tradução de qualquer citação em tela.

John Lester disse...

Prezados amigos, segundo os Estatutos do Jazzseen, art. 441, adotamos a opção democrática quanto às traduções dos textos publicados no blog em vernáculo alienígena. Cada um do povo que faça a sua e, não conseguindo, que peça ao Lula uma bolsa-tradução.

É que, não sendo tradutores com formação acadêmica, os membros do Jazzseen não se consideram aptos a divulgar publicamente suas versões canhestras de semelhantes textos.

Eu mesmo, John Lester, aprendi inglês com um velho dicionário numa mão e várias edições da HQ Heavy Metal na outra, o que depõe rigidamente contra toda e qualquer tradução que eu possa realizar.

É pedindo desculpas por nossas limitações em letras que nos despedimos, não sem antes citar as sábias e belas palavras de Marcus Pomponio Marcello: Tu, Caesar, civitatem dare potest hominibus, verbis non potest.

Grande abraço, JL.

Anônimo disse...

Em primeiro lugar quero agradecer a Mr.Lester e ao Sr. Bravante pela tanta importancia aos meus pitacos. Realmente o Jazzseen é um espaço democratico.
Por partes:
1)Gunther Schuller foi o autor que eu tinha a mão para embasar meus argumentos,tivesse outros eu os usaria com certeza.Ninguem é perfeito ou dono da verdade e sabemos todos que o ideal é sempre buscar diferentes visões e opiniões.A de Schuller não é pior que a de ninguem.Como alguem que pesquisou o jazz por decadas creio ter ele alguma autoridade no assunto. Não entendi a tentativa nada sutil,grosseira mesmo, e pueril de manipulação ao dizer que Schuller reconhecia que escrevera bobagens tambem. No caso de musicos que a partir dos primeiros anos do sec.XX estudaram musica mais seriamente creio se tratar de informação factual e não de interpretação ou achismo . Muita gente gosta de fazer apologia da ignorancia. Não sei se é esse o caso mas esta documentado em fontes confiaveis que um numero estatisticamente relevante de musicos de jazz foram estudar em escolas de musica.
2)concordo que as escolas de jazz não formam realmente grandes criadores.A pasteurização atraves de formulas foi o metodo encontrado para passar adiante uma cultura e um conhecimento que levaram muito tempo para serem construidos e o foram "de ouvido".Porem por musicos que eram treinados tecnicamente em seus instrumentos atraves de estudos da musica classica.Charlie Parker estudou e muito pra chegar na genialissima ideia do bebop.Coltrane,Cannonball,Bill Evans,Duke Ellington,Louie Bellson e tantos outros foram a escola e aprenderam o que deveria ser aprendido.Na epoca deles não havia estudo sistematizado de jazz mas saber musica eles sabiam e muito.Escolas não formam musicos,ensinam musica para que aqueles que tem real talento ,o que é raro,se tornem melhores musicos.É dificil de entender ou preferem que eu desenhe?
3)Foi criado um falso dilema entre ser auto didata ou estudar em uma escola de musica.Quem conhece o assunto sabe que todo e qualquer musico é sempre um pouco auto didata,justamente porque escolas não formam musicos,nem escolas de medicina formam medicos ,eles tem que correr atras de conhecimento que não esta na academia.Eu ingressei em uma escola superior de musica a partir dos 40 anos, quando ja tinha mais de 20 anos como profissional,me graduei aos 46.Afirmo que me acrescentou muito. Tive alguns ,poucos é verdade,excelentes professores e alguns tipicos da universidade brasileira:finjo que ensino e voces fingem que aprendem. Mas pra mim o saldo foi super positivo e creio que quem me conhece tocando ha muito tempo percebeu a diferença.
4)Nada tenho contra o autodidadismo de quem quer que seja . Cada um tem mais ou menos curiosidade,mais ou menos ambição,é mais ou menos inteligente. Tecnicas e conhecimentos são ferramentas.Se posso ter uma caixa de ferramentas mais bem equipada não vejo porque deveria abrir mão e me aferrar a ditadura da ignorancia ,que é a verdadeira prisão do ser humano.
5)Por mim podem sempre postar textos em ingles. Nisso sou quase autodidata ,aprendi muito lendo a "Down Beat" e livros tambem, claro, num lugar chamado USACenter que havia em Copacabana 30 e tantos anos atras,mantido pelo consulado americano.
6) quando ouço musica não fico pensando se quem esta tocando ou compos estudou ou não.Gosto ou não gosto. E gosto de intuitivos como Cartola e Nelson Cavaquinho e de eruditos como Radames Gnattalli ou Guerra Peixe. O que não gosto,na verdade não tolero, é a tal apologia da ignorancia.
Continuo achando que o texto anterior,sobre o grande Urbie Green é totalmente conversa pra boi dormir, um caso tipico ,alias.
Abraços a todos

LeoPontes disse...

Olá pessoal. Mestre JL é muito eficaz em seus comentarios e extremamente polido e democratico.Quero acrescentar que todos os generos musicais aceitam improvisações e se tivermos as nossas cabeças totalmente livres de quaisquer preconceitos nos ajoelharíamos a Sinfonia nr 5 de Bethoven como o inicio de tudo.Felizmente não havia criticos de "Jazz" naquela época.
Por outro lado estudar musica é treinar e criar, aonde voce estiver e seja com quem for. Não há estudo melhor do que tocar em grupo, seja com partituras, em cifras ou sem elas. Há que ensaiar bastante pq isto disciplina os musicos, ouvir muito de tudo e arriscar-se bastante. É no risco que nos tornamos autodidatas porque aprendemos todos os dias de nossas curtas vidas.

Abçs

figbatera disse...

Como monoglota, sem nenhum orgulho, tb gostaria que as citações viessem "traduzidas" para uma melhor compreensão dessas polêmicas resenhas e comentários.

O Lester, esse gozador, ainda põe mais lenha na fogueira e nos despeja o seu latim...

E como disse a "internauta véia" autodidata não é "ignorante", mas aquele que estuda (e muito) sozinho. O Tandeta - excelente músico, um pouco renitente, né? - continua com o entendimento um tanto "enviezado", eu acho, com todo respeito, do que aqui foi dito.
É claro que o melhor é poder juntar todo o conhecimento disponível (teórico, técnico, acadêmico ou não) ao talento nato.
Nem todos podem ou conseguem, mas os verdadeiros "gênios" - parece - já nascem sabendo tudo.

John Lester disse...

Prezado Tandeta, trazer à tona o fato de Gunther Schuller escrever bobagens num livro e se corrigir em outro, posterior, não tem nada de grosseiro. É apenas um fato.

Além disso, não esamos fazendo apologia à ignorância. O autodidatismo não é sinônimo de ignorância. Muito ao contrário. Há autodidatas estudiosíssimos e universitários que não querem nada com o estudo.

Quanto aos médicos práticos, estou de acordo com você: nunca faria uma cirurgia com o Dr. Fritz.

Mas não esqueça: medicina é ciência e música é arte. E arte não se ensina, arte se aprende.

Grande abraço, JL.

Anônimo disse...

Na minha obra só tem pião com canudo!

Anônimo disse...

"Parole,parole ,parole..." ja dizia a insuportavel canção italiana.
Mr Lester ,
por toda a consideração que o Sr. me merece vou explicar o que escrevi. Por favor não se acostume.O Sr. não entendeu absolutamente nada.Repito a sugestão:quer que desenhe?
A referencia a seu comentario sobre Schuller é porque o Sr. fez,ou tentou fazer,uma grosseira,no sentido de primaria,pobre ,tosca,manipulação, que só se eu fosse um perfeito bocó não teria percebido. E nesse comentario ai em cima ainda da uma de "joão sem braço".
Sobre a medicina eu apenas tentei mostrar que em qualquer profissão o conhecimento exigido de um profissional vai muito alem do que um curso universitario ensina. Nada a ver com medicina pratica nem Dr. Fritz.
Eu ,como qualquer musico,aprendi e aprendo muitas coisas sozinho,isso é normal ,fato trivial.E tambem aprendi com meus professores de instrumento,desde os 15 anos, e na universidade . Sou uma mistura de autodidatismo com formação, digamos, formal. Como a maioria dos musicos. Isso não quer dizer que uma coisa seja melhor que a outra,são diferentes e ,como ja disse,complementares.
Uma escola de musica não forma musicos. Eu ja era musico profissional desde os 18 anos, e bastante "rodado" quando entrei pra escola de musica da UNIRIO(Instituto Villa -Lobos)com 40 justamente para aprender as coisas que na rua eu não aprenderia. Pode-se aprender tecnicas e conhecimentos teoricos mas quem não nasceu musico jamais se tornara um,estude onde estudar,ate mesmo os autodidatas,tão venerados pelo Sr., podem ser mediocres.Existem boas escolas e escolas ruins,eu frequentei uma que pode-se dizer que é boa. O Sr. mesmo sem ter frequentado as aulas faz varias afirmações que se pretendem definitivas sobre a escola de musica da UFES.Um perfeito exemplo de "action at a distance".
Sinto muito Mr. Lester mas o Sr. hoje deu uma de cocoroca,como diria nosso idolo Stanislaw Ponte Preta.

John Lester disse...

Prezado Tandeta, pescamos, eu e meu saudoso pai, muitas cocorocas na Ilha do Governador, no Rio.

Creio que seria melhor você realmente desenhar seus textos porque, a meu ver, não há nenhuma concatenação lógica entre as coisas que digo com as coisas que você entende. Um exemplo? Quando utilizamos "universidades" num texto não estamos nos referindo à Universidade Federal do Espírito Santo, de onde tenho orgulho de ter sido expulso, o que demonstra a seriedade da casa com relação à frequência mínima de seus alunos. Há quem "desenhe" que é a frequência que importa numa universidade.

Por sorte na UERJ e na UFRJ, universidades em que também estudei, a coisa era mais bagunçada e, por Netuno, consegui pegar os canudos sem ir a muitas aulas.

Assim, veja o desenho: quando digo "a universidade não faz a menor falta para o artista genial" não me refiro à UFES. Me refiro ao fato de que o gênio musical de, digamos, um Art Tatum (essencialmente autodidata que largou a escola de música após alguma aulas), não está nem aí para as universidades. Ou você realmente acredita que Tatum, o maior pianista do jazz, estava preocupado com as universidades de música como você?

E não adianta espernear, nem rabiscar opiniões desconexas no guardanapo: contra fatos não há desenhos.

Se, ainda assim, resolver desenhar, não precisa cursar a universidade, ok? Pegue lápis e papel e deixe a arte te levar.

E os demais amigos? O que dizem do autodidatismo no jazz?

Grande abraço a todos, JL.

Anônimo disse...

Mr. Lester ,
achei ,erradamente como se ve,que o assunto estaria mais do que esgotado.
Dou total razão ao senhor quando diz que não estamos nos entendendo. Isso acontece,é da vida.
Não sou tão a favor das universidades como o senhor pensa.Passei a maior parte de minha vida longe delas. Entrei com 40 anos ,sai com 46 e nunca mais pus os pes em uma. O Sr. tem uma experiencia muito maior que a minha nesse assunto.
Ja dizia um grande ,sabio e veterano musico e professor:um bom musico sera bom com professor,sem professor e apesar do professor.
Jamais me compararia a um genio como Art Tatum. O Sr. deve me achar uma besta quadrada por não saber diferenciar genios ,como Tatum,de musicos apenas esforçados e medianos. Acho que o Sr. tem razão.
O Sr. sabe que gosto muito do Jazzseen e que o admiro como o comandante do barco,sempre com respostas afiadas e um humor inteligente e sarcastico que eu tambem gosto muito.
Estou ,assim como o Sr., aguardando as opiniões de nossos amigos sobre esse assunto. Eu só vou ler ,ja falei demais.
Abraços

Anônimo disse...

Estou com o Lula: universidade para todos!

Somando isso ao bolsa-família, é a maior compra de votos oficial que já se viu na história defe país.

Anônimo disse...

O que a Internauta Véia disse aí em cima, resume o que eu penso à respeito do autodidata.
Autodidata é o cara que estuda por conta própria. Mas, é o cara que estuda mesmo, lê, troca informações com outros músicos, tem sua "aula" de prática de conjunto na vida real, ao invés do auditório da escola. E muitas vezes, é um cara que pode ter mais conhecimento do que um universitário desinteressado.

Como o próprio Tandeta citou: " A Faculdade não faz o profissional...etc" Quantas vezes não ouvimos essa bendita frase ?

Entendo que exista uma diferença enorme entre o autodidata e o sujeito que realmente não sabe nada de teoria musical e que nunca estudou nada à respeito de música. Esse último tipo pode ser um gênio, daqueles que parecem ter nascido sabendo tudo, ou, pode ser uma besta quadrada que pensa estar fazendo algo revolucinário quando, na verdade, está tocando algo que já se tocava na Idade Média. Acredito que talvez sejam esses os ignorantes musicais que tanto incomodam o Tandeta...

Anônimo disse...

Sr. Tandeta, existe um mal entendido, Lester nao comparou absolutamente o Sr. a Art Tatum, muito menos demonstrou achar o Sr. uma "besta"...calma!( estou apenas pedindo calma, e nao afirmando que ele nao teria considerado o Sr. uma "besta calma", o que poderia suscitar a ideia de que ele o considera uma "besta nervosa", pelo amor de deus,chega de mal entendidos!!!)
Gosto de passar aqui no Jazzseen, ler todos vcs.,e aproveitar a seleçao de faixas, que, muitas vezes,encantam meu dia...ou madrugada!
Carinho por todos vcs...

Anônimo disse...

Prometo que é só mais esse.
Querida Internauta Veia,
não se preocupe que aqui tudo se resolve em paz.
Nunca pensei que o nosso comandante,Mr. Lester, me considerasse uma "besta nervosa". Besta quadrada ,talvez, e não haveria problema algum, afinal bestas podem gostar de jazz tambem. O meu vizinho com quem tive uma discussão ontem a noite diz ,e provavelmente pensa, coisas infinitamente piores de mim e teremos que continuar a conviver pois não pretendo me mudar.
Peço desculpas por ter assustado voce. Sou de paz apesar de gostar de discussões com pessoas inteligentes e interessantes como são a maioria dos amigos daqui do Jazzseen.
Voce tinha dito que iria assistir meu trio tocando la no Barril 1800. Estou aguardando sua visita,sera um prazer tocar pra voce. Estaremos la ate fim de abril.
Abraço

figbatera disse...

Acho que, agora, o assunto aqui já se esgotou.
Viva a música; viva o jazz!

ps.: e o Tandeta aproveitou e fez a sua própria reforma ortográfica, abolindo todos os acentos...
Hehehehehe!