15/04/2009

Beger

Ele não consta de nenhum guia de jazz e isso não me parece justo. É verdade que, naquela fase em que nossos cérebros recebem doses cavalares de múltiplos hormônios, ele andou flertando com o rock, empunhando sua destemida guitarra em bandinhas alternativas e ouvindo bastante a irresponsável flauta de Ian Anderson. Coisas compreensíveis para quem nasceu na Turquia em 1959 e aos três anos de idade imigrou para Israel. É aí que começa estudos sérios de flauta com Uri Taplitz, o então primeira flauta da Orquestra Filarmônica de Israel. A recuperação completa de Albert Beger ocorre quando suas espinhas secam e ele conhece o jazz, que o atrai sobretudo em virtude da ampla liberdade de improvisação. Já integrando a cena jazzística de Tel Aviv, em 1985 ingressa na escola de música contemporânea Rimon e adota o sax tenor como seu instrumento principal. É ouvindo John Coltrane e Eric Dolphy que Beger debruça-se sobre o free jazz, abismo que o tempo cuida de nos afastar, embora alguns nunca mais consigam se livrar de alguns tombos e cicatrizes. Você se lembra do primeiro Gato Barbieri? Não?Nem do segundo Archie Shepp? E você tem acompanhado a música e a pintura de Ivo Perelman, um tenorista brasileiro que persegue abstrações semelhantes às de Beger? Bem, conforme sempre tenho afirmado, a maior parte do free jazz já produzido é horrendo ou, na melhor das hipóteses, chatíssimo. Raríssimas exceções podem ser apontadas e o álbum Listening, gravado em 2004, é uma delas. Responsável por todas as composições e arranjos, Beger utiliza saxofones Yanagisawa nesse trabalho dedicado a Steve Lacy. Com ele, seu quinteto formado por Yoni Silver (as, bcl, org), Yiftach Kadan (g), Gabriel Meyer (b) e Hagai Fershtman (d). Para apreciação dos amigos deixo a faixa título.

10 comentários:

Sergio disse...

Meu caro e paciente mestre, Lester, por falar em freejazz: talvez até tenha saído daqui a sugestão do nome de Steve Lacy, não estou bem certo. Mas o 1º álbum q encontrei dele foi EARLY YEARS, uma provável coletânea da obra, excelente. Daí, encantado, fui atrás de outras audições e foram
STEVE LACY (5 X MONK 5 X LACY) STEVE LACY (THE STRAIGHT HORN OS STVE LACY) 1961... E mais, Steve Lacy (Duets Associates), tudo, quase q praticamente uma piração complexa demais pros meus ouvidos. A pergunta: Aprecias esse Steve? E se aprecia, antes do cara cair no poço sem fundo do freejazz (se é que o que ele faz nesses supracitados é freejazz), vc conhece outros bons discos do Lacy?
Grtato.

thiago disse...

beger é sinistro

Vagner Pitta disse...

Minha opinião sobre o Free Jazz:


A estética do Free Jazz não era e não é pra soar agradável e nem "legalzinha" aos ouvidos acostumados a standards melodiosos. É uma estética pra soar chata mesmo, rangida, crispada, cacofônica, crua, sem grandes deleites melódicos e harmônicos, além da falta do "chão rítmico" que lhe é bem característico. A princípio o Free Jazz foi mais uma intenção de ruptura do que propriamente uma intenção de criação: "tocar com liberdade, espontâneidade, se libertando dos cânones da escrita e previsão musical" - esse era o lema dos freejazzers dos anos 60 e 70. Mas no caso específico de alguns músicos o free jazz se torna interessante pela expressividade e originalidade, a busca por novos freseados através da desconstrução das sincopes do bebop, a busca por novas sonoridades, a experimentações com combos estranhíssimos...enfim, não se pode desconsiderar o estilo apenas pelo estigma dele ser estranho, atonal ou "chato"...é uma proposta diferente, a qual as pessoas de ouvidos sensíveis precisam acostumar a ouví-la para entendê-la.

Atualmente, os músicos que tocam free jazz já dão uma nova "cara" ao estilo, uma roupagem mais "palatável": Jason Moran, Ken Vandermark, Vijay Iyer, Rudresh Mahantappa e Mattew Shipp, por exemplo, tocam free jazz de forma elaborada cheio de intrincamentos melódicos, rítmicos e harmônicos, estilizando-o e incorporando-o ao mainstream contemporâneo. Na minha opinião e na minha concepção como apreciador, ouvir free jazz é tão normal e tão tradicional quanto ouvir bebop: o bebop tem mais de 60 anos de criação (foi o início do jazz moderno) e o free jazz tem 50 anos de criação, portanto já é algo tão velho que nem se pode considerar vanguarda!


Apesar da minha opinião adversa, parabenizo Lester e sua troupe pela qualidade das indicações!

Abraços!

Andre Tandeta disse...

Mr. Lester,
o musico em questão,Albert Beger,tem inegaveis qualidades como instrumentista sendo a que mais me chamou a atenção foi o seu som no sax tenor,realmente muito bonito. Quanto a tal estetica do free jazz eu realmente não sou apreciador embora respeite e até admire alguns dos musicos que tem o nome ligado a esse estilo. Acho importante mostrar a produção de artistas de varios estilos e de varias partes do mundo ,como tão bem o Sr. e seus colaboradores do Jazzseen sempre fazem.
Abraço

Danilo Toli disse...

Condordo, em parte, com Mr. Lester e, também em parte, com Mr. Pitta. O free jazz é realmente chatíssimo e, se pararmos para pesquisar com acuidade, esse "estilo" não tem nada que possa caracterizá-lo como um estilo: cada músico do free jazz "toca" de uma maneira, não havendo qualquer elo ou continuidade de proposta entre eles. Talvez receba o nome de "estilo" por serem quase unanimemente chatos e desagradáveis de ouvir. Quanto às sincopes de Mr. Pitta, concordo que foram marca registrada do ragtime - estilo que influenciou o nascimento do jazz - do New Orleans, do Chicago Jazz e do Dixieland, todos estilos ligados ao nascimento do jazz. Mas, quanto ao bebop, o que observamos é uma absoluta revolução no conceito de síncope e, melhor dizendo, na concepção do ritmo, onde a síncope tradicional foi literalmente esmagada pela superposição de tempos, fusão de tempos, alteração de tempos e aceleração e desaceleração de tempos.

Em resumo, como diria Mr. Tandeta na adolescência: viva o free jazz!

Salsa disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Salsa disse...

Achei bacana o sopro do cara.

Andre Tandeta disse...

Sr. Tolli,
fiquei curioso sobre essa historia da sincope no bebop. Gostaria de saber do que se trata.
Abraço

John Lester disse...

Prezado Sérgio, infelizmente conheço pouco o trabalho de Lacy. Tenho apenas alguns álbuns do moço e gosto bastante do Reflections: Steve Lacy Plays Thelonious Monk, gravado em 1958. Creio ser uma boa indicação ao ouvinte iniciante.

Grande abraço, JL.

Sergio disse...

Grato, Lester. Album fácil de encontrar. Assim que ouvir te retorno. Tuas dicas, já sabes ou melhor, eu sei: nunca desfinam.