Sim, após quase seis meses de espera - prazo nunca antes transcorrido nas compras via Amazon - e duas remessas do mesmo produto: The Penguin Guide to Jazz Recordings, Ninth Edition, finalmente o fornecedor desistiu de enviar-me o produto, sugerindo que eu realizasse nova compra com endereço distinto, devolvendo-me o numerário correspondente. Seria a crise? Afinal sou cliente assíduo da Amazon desde 1999 e nunca havia passado por situação semelhante. Desconsolado, desisti do guia na semana passada. Quando foi ontem, recebi do correio uma notificação para recolher uma entrega - que eu supunha ser a coleção Complete Works of Wolfgang Amadeus Mozart, com singelos 170 cd's, lançada pela Brilliant Classics em homenagem aos 250 anos de nascimento do compositor - completados em 2007 - e, vejam só, em seu lugar lá estava meu Penguin Guide, são e salvo. Talvez as autoridades policiais e os órgãos de Inteligência tenham revirado a encomenda em busca de algum indício contra John Lester, o homem mais procurado da Barra do Jucu depois de Martinho da Vila. Ou sei lá, talvez seja apenas incompetência dessas novas franquias concedidas pelos Correios, com queda sensível na qualidade dos serviços prestados. Seja lá como for, iniciei a leitura do guia imediatamente, enquanto dirigia, bebia uma coca-cola, falava ao celular e fumava, sem que os pedestres e veículos adversários pudessem supor o risco a que estavam expostos. Nos semáforos vermelhos podia conferir detalhadamente alguns pormenores: primeiro que o número de páginas continua aumentando - de 1534 na oitava edição para 1646 na atual. As coroas - ingleses adoram essas coisas - permanecem alocadas aos álbuns que os autores - Richard Cook e Brian Morton - consideram marcos absolutos do jazz.
Outra boa surpresa é constatar que o primeiro verbete do guia fala de Froy Aagre, saxofonista holandesa da qual nunca ouvira falar nem tocar. Em seu site a oferenda de pequenos trechos de suas gravações não permitem uma análise adequada de sua performance. Mas no site Musik encontramos uma excelente coletânea promocional do jazz holandês absolutamente gratuita, o que nos permite avaliar a moça na execução da faixa Last Waltz , constante dos 3 generosos cd's lá ofertados. Trata-se de música séria, pouco indicada aos tradicionalistas de um lado ou aos baladeiros de outro. Numa linguagem atual, Froy demonstra não apenas o domínio do sax soprano, como também fica à vontade com os ensinamentos de John Coltrane e Steve Lacy. Pitadas de cor local dão à faixa o clima de tolerância tão característico desse país repleto de cidades modernas e campos de tulipa.
Na contracapa, à guisa de publicidade, consta o excerto da International Record Review: "The leader in its field. If you own only one book on jazz, it really should be this one." Exagero, por certo. Ainda prefiro o All Music Guide to Jazz por uma série de motivos. Um deles é que, também na contracapa do Penguin, consta "Artist biographies", o que só pode ser considerado o mais puro humor britânico quando lemos, por exemplo, a pequeníssima biografia de Froy Aagre: "Talented Norwegian, whose main outlet is the group Offbeat." ou a minúscula biografia de Kris Bauman: "New Yorker with ambition." ou a de Carolyn Hume: "Limpid minimalist." As biografias do All Music são muito mais honestas e consistentes. Outro motivo seria a ausência do guitarrista Eddie Duran e muitos outros músicos e álbuns, todos constantes do All Music Guide to Jazz, tomo que se caracteriza por quase esgotar as gravações existentes de cada artista. Mas o Penguin tem lá seus méritos e, para mim, o principal deles é a alta qualidade dos inteligentes e por vezes divertidos comentários dos álbuns que apresenta. Recomendo como terceira compra, depois do The New Grove Dictionary of Jazz, disponível em um ou três volumes.
E deixem minhas encomendas chegarem em paz!
Na contracapa, à guisa de publicidade, consta o excerto da International Record Review: "The leader in its field. If you own only one book on jazz, it really should be this one." Exagero, por certo. Ainda prefiro o All Music Guide to Jazz por uma série de motivos. Um deles é que, também na contracapa do Penguin, consta "Artist biographies", o que só pode ser considerado o mais puro humor britânico quando lemos, por exemplo, a pequeníssima biografia de Froy Aagre: "Talented Norwegian, whose main outlet is the group Offbeat." ou a minúscula biografia de Kris Bauman: "New Yorker with ambition." ou a de Carolyn Hume: "Limpid minimalist." As biografias do All Music são muito mais honestas e consistentes. Outro motivo seria a ausência do guitarrista Eddie Duran e muitos outros músicos e álbuns, todos constantes do All Music Guide to Jazz, tomo que se caracteriza por quase esgotar as gravações existentes de cada artista. Mas o Penguin tem lá seus méritos e, para mim, o principal deles é a alta qualidade dos inteligentes e por vezes divertidos comentários dos álbuns que apresenta. Recomendo como terceira compra, depois do The New Grove Dictionary of Jazz, disponível em um ou três volumes.
E deixem minhas encomendas chegarem em paz!
9 comentários:
É por isso que eu fico longe do Jazzseen: mulher tentando tocar jazz dá nisso, uma porcaria só!
Hum... lá vêm os preconceituosos; é só falar sobre alguma talentosa jazzista, a "guerrinha" começa. Que coisa, né?!
Não sei se estou noticiando o que todo mundo já sabe, e, não tem nada a ver com o assunto abordado por mr.Lester, mas só tomei conhecimento agora: o falecimento de Bud Shank, no final da semana que passou. Mais uma perda lamentável para o Jazz.
vim aqui justamente para ver o necrológio de Bud. Ainda bem que eu pude assistir o show de Ouro Preto.
Lester,
Seu bom humor salva o dia.
holandesa sinistra
Impressionante (e triste) como a empresa, que ja foi considerada "melhor prestadora de serviço", tenha se deteriorado a ponto de nao ter sequer material como os envelopes do Sedex, ou simplesmente a fita adesiva para lacrar essas embalagens...E impressao minha ou tudo esta piorando "nestepais"?
Eu tb. prefiro o All Music Guide to Jazz...
Gostei da holandesa talentosa!
Não é "nestepaís" IV, é "nefipaiz". Afff!
otimo texto original, e ao mesmo tempo bem humorada!o q. tem sido cada vez mais dificil encontrar...
Estranha este hollandjazzwoman, mas c/ toques " inofador" ...Acho q. esta ñ é o cara!
Mas tentarei ouvir outros holandeses, afinal a terra dos queridos genios Rembrant e Van Gogh, e ainda Mauve, e Vermer,tambem deve dar musica boa. Adora este jazzseen cada dia mais.
Richard Cook e Brian Morton merecem ser reverenciados num busto em praça pública pelos apreciadores de jazz.Num exercício biênio colocam um “tijolão novo” que se aproxima das duas mil páginas no mercado editorial procurando ,insanamente, abranger todos os lançamentos de jazz dos mercados estadunidense e europeu.Tenho da segunda edição ( na época era um guia apenas de lps) até chegar a transição definitiva ao cd, sétima edição.Pela capa da nona , retiraram o limite do meio físico na forma de cd das gravações para modernizar-se.Já perdi as vezes q coloquei o tijolão debaixo do braço e fiquei vasculhando páginas amparado em pilhas de discos nas melhores e piores lojas do mercado.
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