01/05/2009

Acknowledgment

Antes de mais nada gostaria de agradecer a todos os trabalhadores do mundo, esses homens e mulheres simples, quase sempre tementes a Deus, mal pagos e mal nutridos que tornam coisas como o Jazzseen possível. Afinal, todas as iniciativas artísticas exigem ócio e tranqüilidade, além de um generoso pedaço de parmigiano reggiano e uma ou duas garrafas de Peñalolen, aquele cabernet savignon que, como o povo, finge-se de honesto na esperança de, um dia, tornar-se igualzinho ao Alma Viva, seu primo rico que, segundo dizem, nunca herdará o Reino dos Céus. Sim, nossa resenha de hoje é dedicada ao povo trabalhador, essa gente que sorri com pouco e agüenta o tranco dos trens, das epidemias e das crises, tornando viável que pessoas como nós possamos prosseguir em nossa sorridente passagem pela Terra, comendo bem, bebendo bem e ouvindo jazz. Afinal, sem povo não haveria jazz, essa música nascida nos puteiros de New Orleans, inventada por desocupados, vagabundos e sonhadores. Não estivessem quase todos na estiva ou nas lavouras, o que seria de Buddy Bolden e do jazz? O que seria da poesia de Drummond sem aquele empreguinho público que manteve o poeta? Todos nós, escritores, músicos, burocratas e malucos precisamos agradecer diariamente àqueles que abdicam do prazer em vida, vertendo cada gota de seu suor em renda alheia. Em sua simplicidade quase genética, o povo trabalhador nasce, produz e morre, num pacífico e reconfortante ciclo que tem nos permitido gozar a vida numa boa. E, ao contrário daquela estória da cigarra e da formiga, qualquer criança sabe que, no final, quem se dá bem é a cigarra.

Trata-se do famoso Paradoxo de Guinle: o povo unido jamais será vencido; mas também jamais vencerá. A vitória é um atributo essencialmente individual em seu desfecho, e não quer saber de solidariedades nem de comunidades. Mas, voltando ao assunto. Acumulados os recursos necessários, o Jazzseen pretende se tornar, em futuro próximo, mecenas de todos aqueles que, abandonando a vida proletária, têm se dedicado ao jazz, essa arte que exige grau máximo de preguiça e boas doses de scotch. Brevemente nosso projeto Bolsa-Jazzseen “estará sendo” disponibilizado gratuitamente em todos os canteiros de obras, minas de estanho e fornos de carvão. Crianças grávidas e idosos abandonados terão precedência no recebimento dos vales, desde que assumam o compromisso formal de nunca mais cometerem a besteira de trabalhar em público. Os bolsistas que se destacarem no projeto receberão instrumentos descartados pelos músicos da Osesp e religiosamente recuperados pela Oficina Jazzseen. Por fim, só nos cabe agradecer a todos esses homens e mulheres com odores tão característicos, principalmente quando dividem de forma camarada o mesmo velho vagão de trem. E agradecemos com a faixa Acknowledgment , composta por John Coltrane e aqui executada pelo Turtle Island Quartet. O álbum é A Love Supreme: The Legacy Of John Coltrane, lançado pela Telarc em 2007. E, como poderia ter dito Millôr, o trabalho dignifica o patrão.

16 comentários:

bia disse...

Triste verdade.

edú disse...

Por falar em trabalhadores, não podemos esquecer que nosso considerado amigo e eminente baterista, André Tandeta, estará hoje ,dia 02, ás 20:30 e amanha, dia 03, ás 18:30 na sala Baden Powell(nome muito mais q apropriado) Av.Nossa Senhora de Copacabana 360, na cidade do Rio de Janeiro lançando o cd “Uma guitarra no Tom” ao lado do guitarrista Victor Biglione e do lendário contrabaixista Sérgio Barroso – membro do mítico trio Rio 65.JL, acho q tú retornou cedo demais para Vitória.Abraço.

John Lester disse...

Só deu tempo de constatar os preços absurdos dos cd's na Modern Sound e tomar um café no Allegro, ouvindo o comportado grupo Gente Fina e Outras Coisas, com o sopro de Zé Carlos Bigorna. Aliás, os preços desrespeitosos dos cd's da loja serão objeto de resenha em maio.

Grande abraço, JL.

anareis disse...

Estou fazendo uma campanha de doações para meu projeto da minibiblioteca comunitária e outras atividades para crianças e adolescentes aqui na minha comunidade carente aqui no Rio de Janeiro,preciso da ajuda de todas as pessoas de bom coração,pode doar de 5,00 a 20,00. Doações no Banco do Brasil agencia 3082-1 conta 9.799-3 Que DEUS abençõe todos nos. Meu e-mail asilvareis10@gmail.com

Internauta Véia disse...

Se vc.,for às ruas no horário de saída dos peões de obra, e olhar "vendo" aquelas pessoas, maltrapilhas, abatidas, com a bolsinha da marmita na mão e aquela sandalhinha, bem surrada (claro que não são daquela marca que conquista as mulheres mais maravilhosas, conforme diz a propaganda)e imaginar os prédios lindos, com apts. maravilhosos que eles constroem e a casa para onde estão voltando, geralmente paupérrima, num loteamento irregular, sem saneamento mínimo, sem escola, sem saúde...olha, é de desanimar...E os trabalhadores em regime de escravidão!!!e as crianças nos fornos de carvão...! e aquelas qoe sobem nos pés de Açaí, se não me engano...e...e...e...
Vergonha, tristeza, desânimo...

Andre Tandeta disse...

O dinheiro é o assunto.
1)CDs caros ,segundo Mr. Lester. Que alias esteve aqui e eu não pude dar-lhe a merecida recepção. Fica pra uma proxima vez.Creio ser bem dificil eu ir a Vitória mas nessa vida tudo pode acontecer.
2)Anareis, que quer fazer projetos sociais pra crianças e adolescentes, só aceita doações em dinheiro? Livros usados não servem?
3)e o tema do post . A humanidade vive na base do "pra ca o meu". A possibilidade de se comprar um eletro domestico em n+1 prestações tranforma proletarios("de pé ó vitimas da fome..." ) em burgueses,pelo menos no desejo.Freud anda dando de goleada em Marx. A revolução foi adiada.
A sério: excelente texto ,Mr. Lester. Vesti a carapuça.
Edú: muito obrigado.Interessante é que meus confrades do CJUB nunca vão ver a gente tocar. Em mais de seis meses no Barril 1800(voltamos, até junho)só o JoFlavio ,que nem mora no Rio,foi la dar uma conferida. Seria falta de ...dinheiro? Sempre ele.
Abraços a todos

Internauata Véia disse...

Eu não fui ver o Tandeta porque fiquei com medo de voltar sòzinha para o hotel...Por duas x estive para ir, nas como ele começa às 21:00 e não sei a hora em que termina, e com a minha idade avançada, desisti, mas com muita pena...

Salsa disse...

Fica triste não, internauta véia. Com o tal concurso jazzseen a gente 'pode estar conseguindo' uma sombrinha para curtir o famigerado ócio criativo. Eu já descolei uma antiga cadeira de praia e uma garrafa com café para encarar a fila de inscrição.
Depois, se rolar uma milhagem, vou estar indo ao Rio para assistir mr. Tandeta e asseclas quebrarem tudo nos botecos da zona sul.

Vagner Pitta disse...

...colegas, eu não estou conseguindo ouvir as faixas no player!

É algum tipo de boicote contra vizinhos blogueiros chatos? rsrs

É algum plugin que tenho que adquirir para que o player funcione pra mim?

Espero respostas! Abraços!

Andre Tandeta disse...

Carissima Internauta Véia,
venha nos ouvir. Estamos de volta ao Barril ,ficaremos até fim de junho,sempre aos sabados as 21 horas.Sera uma satisfação para nos,acredite. Garanto a carona da volta,se for pela zona sul, ou um taxi,na porta ao final,a levara sã e salva.
Mr. Salsa,
quando der venha . Estaremos esperando. Mas não quebramos nada. Tentamos,com muito esforço,fazer musica. Espero que o Sr. goste.
Abraços

John Lester disse...

Prezados amigos trabalhadores, agradeço as mensagens de todos.

E meu caro Vagner, você é sempre muito bem vindo ao Jazzseen. Infelizmente não sei diagnosticar o que há com seu navegador. Aqui no meu (Internet Explorer) a coisa tem funcionado normalmente. Já ouvi dizer que alguns amigos têm tido problemas com o Firefox.

E Mr. Tandeta, até pesquisei nos jornais sobre você, mas não encontrei nada nos dias 28 e 29 de abril, período em que estive por aí. Fica para a próxima.

Grande abraço, JL.

figbatera disse...

Puxa, Lester, nós "batemos na trave"; o show de lançamento do CD do Victor Biglione com o TANDETA (e Sérgio Barroso) no Allegro foi no dia 28/04 - e vc estava no Rio, né? - pelo que entendi, vc esteve lá (na M.Sound) no dia seguinte...
Eu tb voltei do Rio no dia 26, quase que deu.
Eu já assisti ao Tandeta Trio lá no Barril 1800 umas 3 vezes e, agora, com a prorrogação da temporada até junho, espero comparecer de novo. Mas a turma do CJUB - Tandeta tem razão - eu não vejo nem lá, nem no Allegro ou no Drink Café. Eles gostam ou não de jazz+bossa?

Salsa disse...

Tandeta, a rapaziada vitoriana costuma usar a expressão "quebrar tudo" para designar fazer um sonzaço. Isso, sim, eu tenho certeza que ouvirei quando aí conseguir estar. Em breve, espero.

edú disse...

Tornei-me um adepto do Mozilla pela agilidade q ele atende minhas necessidades.O Luiz Alves me disse q teve dificuldades de ouvir sua faixa.Porém ,quando acionei - como agora - ela tocava “nice and easy” junto com as outras “amostras”.A página do Jazzseen, contudo, parece se sentir mais “confortável” no Explorer.Mano velho, quando banqueiro reclama da falta de giro a gente não sabe se ri ou chora.Abraço.

Andre Tandeta disse...

Mr.Salsa,
é uma giria antiga,sabemos todos.Só quis lembrar que "we're in business time".
Irmãozinho,
como dizem em Minas quando o bicho pega:"debréia e joga na banguela".
CDs seguem em breve.
Abraços

Sergio disse...

Seu João Lester, o barato aqui, je parle pour moi, é curtir jazz na saúde ou na doença (financeira). Por exemplo, nunca esqueço outro dia mesmo, q peguei um Circular 574, Leblon/Praça São Salvador, ouvindo um tremendo Donald Byrd, "Black Byrd" e, sem exagero, me senti numa limo, com chofer, sem precisar fechar os olhos pra entrar no clima. Tudo bem q, fechasse, não veria o trocador, mas inteligente é focar na paisagem. Inda mais em se tratando de Rio de Janeiro. Então, com jazz sempre é-se mais feliz.

Infeliz de quem se contenta com Tati Quebra Barraco.

Por isso, não só apoio a campanha de inclusão do Jazzseen, como, cs sabem o tamanho da contribuição em terabites posso doar digratis, na saúde ou na doença... De preferência vivo, claro - oi tim.

Textaço, Lester! Parabens! Aquilo da vitória prescinde de solidariedade é tudo q faz a gente pensar e - quem sabe - não começar a rever nossos conceitos. Eu disse “quem sabe”.