

Lester, ainda sonolento e comendo um pedaço fumegante de bolo de laranja com grapete, aproxima-se e conclui que, então, somos todos parentes de Edward Hall, Sr., clarinetista nascido em 1875 na cidade de Reserve, Louisiana. Sim, é claro que somos todos parentes dele, confirmou vovô Acácio, contando que Edward pai tocou na banda Onward Brass Band, não a de New Orleans, mas a de Reserve. Produziu oito filhos, cinco dos quais se tornaram músicos profissionais. Edward Hall, Jr. (1905-?) tocou tuba em orquestras de dança. Robert Hall nasce em Reserve (1899-?) e, embora tenha começado com a guitarra, passa para o clarinete e os saxofones alto, tenor e barítono em diversas formações, entre elas as bandas de Hypolite Charles, Louis Dumaine, Gus Metcalfe e na famosa Original Tuxedo Orchestra, liderada primeiro por William ‘Baba’ Ridgley e, depois, por Papa Celestin, com quem grava em 1927. Clarence Hall (1903-?), também nascido em Reserve, começa tocando guitarra e banjo até que resolve dedicar-se ao saxofone. Após trabalhar com Kid Thomas, passa a integrar a banda do trompetista Kid Augustin Victor em Baton Rouge, atual capital da Louisiana e cidade onde se come atualmente um excelente filé no Chicago’s Steaks, Bar & Grill. Partindo para New Orleans, passa a trabalhar na banda de seu irmão Herb. Em seguida, integra a Original Tuxedo Orchestra de Papa Celestin para, mais tarde, associar-se à banda de Dave Bartholomeu, com quem realiza diversas gravações.
Herb(ie) Hall (1907-?) também nasce em Reserve e inicia a carreira tocando banjo na Niles Jazz Band. Mais tarde, torna-se um competente clarinetista e saxofonista alto, substituindo o irmão Clarence na banda de Kid Augustin, em Baton Rouge. Seguindo para New Orleans, trabalha com Sidney Desvigne e Don Albert. Na década de 1930, parte com Don Albert para San Antonio, onde permanece até 1937. Segue então para Pittisburgh, Cincinnat, Cleveland, Philadelphia, New York e Boston, onde toca com Doc Cheatham. Em seguida, parte em turnê pela Europa com Sammy Price. Retornado aos EUA, passa algum tempo em New York, trabalhando nos clubes de Jimmy Ryan e Eddie Condon. E as turnês prosseguem, primeiro em Toronto, com Don Ewell, depois com a banda World of Jelly Roll, de Bob Greene e, por fim, pela Europa novamente, dessa vez como solista.

Seja lá como for – na verdade Edmond dominava plenamente tanto o blues quanto o jazz clássico e o swing – em 1950 estava tocando no clube de Eddie Condon e, em 1955, passa a integrar o All Stars de Louis Armstrong, além de seguir tocando como freelance até sua morte. Enquanto Lester lia e relia na velha Larousse quanta compressão, tensão, flexão e torção suporta um batiscafo – sim, Lester era absolutamente obcecado pelo estranho artefato marinho – vovô Acácio colocava no toca-discos as memoráveis gravações feitas por Edmond em 1941, com Meade Lux Lewis na celesta, Charlie Christian numa raríssima intervenção na guitarra acústica e Israel Crosby no contrabaixo. Essas e outras gravações históricas - ouça aqui Night Shift Blues - estão contidas no cd da Classics The Chronological Edmond Hall 1937-1944, verdadeiro documento do estilo New Orleans e local onde podemos constatar o estilo “cantante” de Edmond, com seu vibrato dirty e curto e sua inventividade nata. Nisso chega vovó Tícia, com seu café forte e sua mais nova renda de bilro.
8 comentários:
clarinete sinistro
A ceia na casa do Vovô Acácio e da Vovó Tícia devia ser deliciosa! Café forte, bolo de laranja e no gramofone um delicioso 78 RPM a espalhar as maviosas notas do fabuloso Edmond Hall.
Mr. Lester, nascido em berço tão esplêndido, vem honrando a tradição do seu (nosso) ancestral Edward Hall.
Seu (Nosso) primo Edmond tem um fraseado prá lá de melódico, dos mais interessantes, capaz de rivalizar com o não menos talentoso Buddy De Franco.
Belíssimo texto, belíssima música postada, belíssimo músico homenageado. Se alguém ainda duvida da importância do blues como principal ingrediente naquilo que se veio a chamar de jazz, basta ouvir esta soberba gravação.
Parabéns Paula!
Um cordial abraço a você e a toda a tripulação do jazzseen.
Segundo nosso amigo Beto Kessel, do blog Cjub,o programa Milênio da Globo News - canal 40,na Net em SP - estará discutindo hj, dia 15 às 23:30 se o jazz esta morrendo.Vale uma conferida.Ou a presença de um balão de oxigênio de prontidão ao lado do leito.
Atenção tripulantes e passageiros da nave jazzseen: todos a postos em frente à máqquininha de fazer doido, pontualmente às 23:30.
Mr. Edú, folgo em vê-lo por aqui, mas tenho sentido a sua falta no JAZZ + BOSSA - parafraseando aquele antigo mandatário geral da república, "não me deixe só"!!!
Abração!
23:30h... Estará acontecendo o último set do jazz na curva da jurema. Se der, eu assisto.
Bluesão da melhor estirpe esse aí.
Valeu, Lester
Hoje (15/06) no programa Milênio da Globo News, às 23h30, o correspondente Lucas Mendes conversa com o crítico musical do New York Times, Ben Ratliff, sobre as transformações pelas quais passou o Jazz.
Mais no blog do programa:
http://especiais.globonews.globo.com/milenio
Diga aí, seu Salsa!
Cheguei por aqui agora e tomei um susto com a qualidade do blog. Mais ainda quando descobri que tocas aqui pertinho de casa.
Me diz: O Oleari ainda funciona? Quando? Onde?
Ávido por jazz de rua, despeço-me.
Prezados amigos, antigos e novos, o bolo acabou. O grapete não existe mais, creio. Só nos resta reduzir o quantum despótico através do jazz, esse fruto de gritos e suspiros desesperados.
23:30 então.
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