Um pouquinho antes de vovô Acácio embarcar para a Espanha, onde lutaria contra a ditadura de Franco, ao lado de seu amigo Frederico Bravante, teve a oportunidade de assistir a um show de Harold Mabern, um dos mais brilhantes e esquecidos pianistas do hard bop. Tudo ocorreu num pequeno clube de Memphis, onde o jovem Mabern nascera e onde Frederico e Che guardavam armas e munições necessárias à ação na Ilha de São Simão, localidade em que o regime fascista mantinha deplorável campo de extermínio, similar aos de Hitler. Vovô, em lágrimas, recordava os primeiros acordes de Mabern ao piano, ainda criança de 4 anos, mas dotado daquele swing inerente aos grandes mestres do jazz. Repousado em sua empedernida poltrona de couro, segurando nas mão uma foto do amigo John Lester ao lado do pianista (veja aqui), vovô comentava: "Memphis foi, e ainda é, um formidável celeiro de grandes músicos de jazz, aí incluídos George Coleman, Sonny Criss, Lil Armstrong, James Williams, Phineas Newborn, Jr., apenas para citarmos alguns. Mabern é um desses frutos admiráveis do Tennessee, tornando-se um dos mais significativos pianistas do hard bop. Com 23 anos já substituía o pianista Muhal Richard Abrams no MJT + 3, grupo do baterista Walter Perkins, gravando em 1959 o excelente álbum MJT + III. No mesmo ano, muda-se para New York, onde trabalharia com diversos músicos, entre eles Jimmy Forrest, Lionel Hampton e com o Jazztet, grupo co-liderado por Benny Golson e Art Farmer, substituindo ninguém menos que o pianista McCoy Tyner. Na década de 1960 trabalha ainda com Donald Byrd, Miles Davis, Sonny Rollins, Wes Montgomery e Freddie Hubbard, sem falar de sua atuação como acompanhante de importantes vocalistas, como Joe Williams e Sarah Vaughan. A partir de 1968 desenvolve importante carreira como líder, gravando regularmente para os selos Prestige, Columbia, Sackville, DIW e Venus. Sempre atuante, trabalha com Lee Morgan e Stanley Cowell na década de 1970, além de gravar com diversos jovens músicos, com destaque para as colaborações com o saxofonista Eric Alexander, discípulo com quem gravou mais de 10 álbuns e com quem se apresenta regularmente em clubes de New York, como o Smoke, onde John Lester, sócio fundador do Clube das Terças, sempre pode ser encontrado." Para os raros e insistentes leitores do Jazzseen, deixo a faixa You Don't Know What Love Is , totalmente desfigurada pela arte maior de Mabern. Embora fraco e enfisematoso, vovô suplicou que ofertássemos a nossos leitores mais duas faixas desse que é um dos poucos álbuns de piano solo tolerados por vovó Tícia: Misty e Smoke Gets In Your Eyes , gravado em 20 de dezembro de 2008 para o selo Venus.
12 comentários:
Paula... Sempre linda, sempre exagerada. Quem resiste?
Obrigado por tudo, JL.
Ah, Paulinha, minha. Estivestes lá no meu pouso e rapidamente vim para conferir seu cheiro e seu sabor, que emanam de suas bem humoradas palavras. Ah, Paulinha, Paulinha, as garrafas de pinot noir ainda te aguardam. Call me.
Paulinha, Paulinha...
Mabern foi um dos veteranos músicos apadrinhados por Wynton Marsalis em 1995 e utilizando do prestigio pessoal do trompetista na época na gravadora Sony conseguiu a produção de uma serie de cds desses experimentados mestres.O disco do pianista pela Sony - The Leading Man -foi a única experiência de Mabern fora dos pequenos e independentes selos sendo miraculosamente “despejado” por aqui.Harold tem uma atrofia muscular na mão esquerda q torna mais admirável,ainda, seu pianíssimo.
3 player? sinistro
Piano e a delicadeza de Misty e Smoke Gets...caíram muito bem neste final de noite, começo de madrugada...
Muito bom, Paulinha!
Você cochilou, querida? VOVÓ ACÁCIA?
um piano ao cair da tarde...buuuummmm!
piadinhas à parte,esse piano caiu com a sonoridade dos bons tempos de 'happy hour'...valeô a postagem.
amplexosonoros
Paula,
Prá variar, mais um grande texto e mais uma ótima escolha. Tenho o Leading Man e é um álbum maravilhoso.
Ele está fabuloso no disco "All The Gin Is Gone", do Jimmy Forrest, que foi a primeira gravação do Grant Green.
Um afetuoso abraço (e Vovô Acácio deve estar orgulhosíssimo da neta).
Enfim, música!
Lindas músicas, num piano maravilhoso!
ps.: como o Salsa está "romântico", né?
O meu avo esteve num desses campos...
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