09/10/2009

Livro: Glossário do Jazz

Por certo que não é fino, nem possui letras grandes: são quinhentas páginas que, pela qualidade do conteúdo, merecem uma terceira edição com letras imensas. Como sempre dizia Leon Tolstói, um livro de verdade deve ser capaz de ficar em pé sozinho e é exatamente este o caso do Glossário do Jazz, obra sem paralelos em nosso vernáculo, escrita pelo jazzófilo Mário Jorge Jacques. Na verdade, só conheço duas obras que se aproximam do glossário de Mário: Jazz A-Z, de Peter Clayton, Enfield, Middlesex: Guinness, 1986 e Jazz Lexicon, de Robert S. Gold, New York: Knopf, 1964, lançada mais tarde com o título Jazz Talk, Indianapolis: Bobbs-Merrill, 1975. É claro que outros dicionários e enciclopédias de jazz tratam de algumas gírias e expressões próprias do meio jazzístico, mas, em verdade, nenhum deles se aproxima do trabalho desenvolvido ao longo de 17 anos por Mário Jorge. Em seu glossário, além das gírias e expressões utilizadas no jazz, encontramos ainda diversos verbetes dedicados a gravadoras, termos musicais, clubes, ruas, festivais, sites, blogs e instrumentos - ficando clara aqui sua predileção pela bateria, instrumento tratado com mais detalhes que qualquer outro, mesmo o saxofone ou o trompete. É claro que sempre haverá aqueles que vasculharão a obra à procura de erros, inexatidões ou lacunas, alegando que Mário Jorge não citou o brotzophone, instrumento criado pelo saxofonista Peter Brötzman, ou que ele esqueceu de citar o selo Daffodil, criado pela cantora Blossom Dearie em 1974 ou, ainda, que citou o CJUB mas não citou o Jazzseen. Claro que tudo não passará de despeito e o que conta é que estamos diante de uma obra absolutamente pioneira em língua portuguesa, constituindo peça de consulta indispensável a qualquer curioso que decida ter um conhecimento sólido sobre jazz. A seguir, alguns detalhes sobre o autor (foto abaixo, à esquerda), por ele mesmo: Nascido a 23 de abril de 1941 no Rio de Janeiro, já na infância apreciava música escutando uma série de discos de sinfonias, concertos, óperas e alguns populares, incluindo um da Orquestra de Glenn Miller cujo tema era Anvil Choir (Coro dos Ferreiros). Esta execução soberba de Miller com intenso suingue e solos de saxofone tenor, trombone e bateria, instrumentos até hoje de sua preferência além do piano, foi o primeiro contato com a música norte-americana e com o Jazz e o tal disco rodou centenas de vezes.
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Em 1954 o filme High Society em que atuam a banda de Louis Armstrong e mais Frank Sinatra e Bing Crosby despertou de vez o gosto e o interesse pelo Jazz. Nos anos de 1958-59 um programa de rádio “Em Tempo de Jazz” liderado por Paulo Santos diariamente apresentava o melhor em música de Jazz. O próprio Paulo organizou um grupo chamado Octeto Em Tempo de Jazz, primeira audição ao vivo assistida em um clube do Rio. Daí em diante o Jazz foi parte incontestável de seu interesse iniciando pela pesquisa de gravações das décadas de 20, 30 e 40 difíceis de se conseguir no Brasil à época. Na pesquisa da história e origens do Jazz iniciou uma romaria pelas lojas de livros, discos e os tradicionais sebos. Em 1986, sendo um reiterado ouvinte do programa O Assunto é Jazz pela Rádio Fluminense FM de Niterói, compareceu ao programa por ter acertado um Jazz-teste e se tornou amigo do produtor e apresentador Luiz Carlos Antunes. Do seu grande interesse pelo Jazz Tradicional acabou sendo convidado a produzir a seção Museu de Cera onde apresentava gravações antigas e históricas desde a primeira sob a chancela de música de Jazz em 1917 e assim o fez durante 10 anos. Da comunidade de jazzófilos em torno desse programa com troca constante de idéias surgiu o Curso de Jazz patrocinado pelo Museu do Ingá de Niterói tendo sido então convidado a apresentar a palestra O Jazz No Início do Século historiando a música norte-americana desde os primórdios da colonização até a formação do Jazz no início do século 20. Foi um dos fundadores do Clube de Jazz do Museu do Ingá que se seguiu ao curso, hoje Clube de Jazz de Niterói, onde apresentou várias palestras com os temas: As Raízes e a Formação do Jazz também proferida na Universidade da Cidade no Rio, O Jazz de Chicago, Fletcher Henderson, O Blues, O Jazz e a Dança e Do Outro Lado do Jazz. Em 1991 participou como palestrante do Chorus I - Encontro dos Ouvintes de Jazz em Atibaia (SP). Colecionador de vídeos sobre música de Jazz durante 12 anos forneceu material para o “release” de imprensa que antecedia o Free Jazz Festival, atualmente Tim Festival.

Em 2006 passou a integrar a equipe de editores do blog CJUB - Charuto Jazz, sobre Jazz e Bossa Nova, produzindo a série Museu de Cera regularmente com texto e exemplos musicais. Editou a série - Do Outro Lado do Jazz em 25 capítulos com objetivo de apresentar alguns aspectos ligados de alguma forma à música de Jazz. Tem escrito também vários artigos para o site do Hot Club de Piracicaba. Engenheiro em Telecomunicações trabalhando em FURNAS CENTRAIS ELÉTRICAS se aposentou em 1992 e há 17 anos iniciou a pesquisa do Glossário do Jazz.
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A obra está à venda em dois endereços virtuais: Amazon e Seven Virtual Books. Compre logo o seu exemplar!

12 comentários:

Érico Cordeiro disse...

Caro Mr. Lester,
Obrigatório não apenas para quem gosta de jazz, mas para quem gosta de música em geral.
O livro é didático, muito bem escrito, com discrições abrangentes dos mais diversos temas ligados (direta ou indiretamente) ao jazz.
Não há, como muito bem enfatizado por você, paralelo com outras obras em protuguês, rivalizando (e até sobrepujando, pelo alcance da pesquisa) congêneres escritos em outras línguas.
Estamos todos de parabéns - o Mario, que com seu trabalho hercúleo e esmerado deu ao mundo essa obra-prima, você, por mais uma resenha primorosa e oportuna, e nós, ávidos leitores, que agora podemos nos deliciar e aprender com seus excelentes textos.
Abraços a todos!!!!

Augusto Carlos disse...

Grande dica Mr. Lester, já pedi o meu exemplar.

Salsa disse...

também estou providenciando o meu. Mário, pelo que vejo lá no cjub, entende do riscado.

Marília Deleuz disse...

Tô triste que o Mário não citou o Jazzseen. Mas mesmo assim vou comprar um pra mim, bju!

APÓSTOLO disse...

Com absoluta certeza MÁRIO JORGE JACQUES, o "Major", citará o "JAZZSEEN" na próxima edição, já que MÁRIO é um senhor garimpeiro e detalhista ao extremo, gostando de incluir em seus escritos e palestras o que há de melhor.
Importante, além do trabalho de MÁRIO que "fala" por sí, é a bela e precisa resenha de Mr. LESTER, conhecedor e valorizador da ARTE POPULAR MAIOR, o JAZZ.
Na foto da resenha temos MÁRIO à esquerda, com LUIZ CARLOS ANTUNES ("Lulla") ao centro e nosso querido e saudoso MAXWELL JOHNSTONE à direita, conhecedor maior do JAZZ e que, infelizmente já nos deixou.
MAXWELL era por todos conhecidos como o PHD em JAZZ, dada sua imensa cultura jazzística; como nos últimos anos de vida estava aposentado, intitulava-se "Por Hora Desocupado", com seu inesgotável humor britânico (ainda que desgostoso botafoguense).
Sempre é bom lembrar que MÁRIO JORGE é criatura de trato fino, que gosta e sabe cozinhar muito bem.
Parabéns Mr. LESTER ! ! !

John Lester disse...

Prezado Apóstolo, embora com algumas importantes perdas, nossa luta continua! Prova disso é o Glossário do Jazz, em segunda edição.

Grande abraço, JL.

Danilo Toli disse...

Depois dessa, vou comprar logo um pra mim. Valeu!

Abílio disse...

Beleza!!!

Roberto Scardua disse...

Notícia das boas John, obrigado.

PREDADOR.- disse...

O melhor disso tudo é que mr.Lester tem engatilhado, por quase uns dez anos, um glossário do jazz de A a Z. Só que demorou em sua finalização e o Mario Jorge passou na sua frente. Mas, ainda cabem mais publicações desta espécie. Vá em frente mr.Lester, publique-o, com as lacunas deixadas pelo Mario Jorge, ou seja Brotzman, Daffodil, Jazzseen e muitas coisas mais. Sei de sua capacidade com relação a esses assuntos jazzísticos. Não desanime!

John Lester disse...

Pois é Mr. Predador, há quem diga que John Lester associou-se a dois outros grandes escribas, no sentido de dar conta do Jazzseen Guide. Quem viver, verá.

Grande abraço, JL.

Cinéfilo disse...

E há quem diga que escrever sobre música é como dançar sobre arquitetura.
Uma frase de efeito que somente o saudoso Miguel Marvilla poderia reproduzir.

De resto, o Jazzseen sempre servindo e brindando-nos. Valeu, JL. Já encomendei o exemplar.

Quanto ao querido Miguel, que vá em paz.
Abraço.

FG