20/01/2010

Георгий Гаранян (1934-2010)

Георгий Гаранян foi um dos primeiros músicos a chamar a atenção do ocidente para o jazz de qualidade produzido na Rússia. Tudo isso numa época em que o Partido Comunista censurava qualquer estilo musical que fugisse aos rígidos padrões oficiais. Integrante da primeira geração de músicos de jazz daquele país, destacava-se como instrumentista (saxofone alto), maestro e compositor, tendo liderado uma infinidade de importantes conjuntos, entre eles, nos últimos anos, a Moscow Big Band, uma nova formação do famoso Melodia e a Big Band Municipal de Krasnodar City, no sul da Rússia. Além disso, vinha atuando em inúmeros festivais de jazz na Finlândia, Índia, Indonésia, Cuba e Europa, entre outros, além de se apresentar em diversos países, entre eles Alemanha, EUA, Japão, Austrália, Suécia e França, sendo considerado pela crítica especializada um dos melhores músicos de jazz da Rússia, sem contar que foi o músico de jazz daquele país que mais gravou. Mais conhecido no oeste como George Garanian, nasceu no dia 15 de agosto de 1934, em Moscou. Embora o pai engenheiro insistisse que o filho seguisse seus passos, a mãe professora sempre o incentivou a seguir a carreira musical. Contudo, por volta dos vinte anos, encontrava-se matriculado no Instituto Tecnológico de Moscow. Nessa época, leva o saxofone de um amigo para reparos e, após o conserto, nunca mais o devolve. Após vários anos de prática, começa a tocar em bandas locais, até que é convidado a tocar na banda da TSDRI. Sob o comando do líder Yury Saoulsky, Garanian praticou horas diárias até tornar-se o primeiro saxofone da banda, o que sem dúvida o auxiliou a obter o segundo lugar no Moscow World Festival of Youth and Students, em 1957, chamando a atenção do público para o trabalho da banda da TSDRI e fazendo com que Garanian fosse convidado a tocar em diversos países, o que nunca aconteceu em função das proibições do governo soviético. Já com o diploma de engenheiro, Garanian passa a tocar em outras bandas, com destaque para a  banda de Oleg Lundstrem. Em meados da década de 1960, Garanian começa a se tornar popular, sobretudo em função de suas apresentações no rádio, em nível nacional, e com o auxílio do disc jockey e produtor Willis Conover que, com seu programa Jazz Hour, na Voice of America, executava as gravações de Garanian, combatendo a Guerra Fria com o som do jazz.
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Em 1973 Garanian assina com a maior gravadora da Rússia, Melodia, gravando com a banda de mesmo nome 25 álbuns, ao longo de 13 anos de vida. O grupo vendeu milhões de cópias por todo o mundo, obtendo um sucesso sem precedentes para um grupo de jazz encoberto pelas cortinas de ferro. Ao mesmo tempo, Garanian atua como líder da State Cinematic Orchestra, onde grava a música de grandes filmes da época e, em seguida, passa também a compor trilhas sonoras - mais de 30 - entre elas a do filme The recipee of her youth, recebendo o 'Oscar' russo de melhor filme musical de 1985. Ainda durante a década de 1970, Garanian 'jazzifica' uma série de composições, populares e clássicas, entre elas a Ave Maria de Schubert, os clássicos dos Beatles e do cinema, escrevendo um livro de arranjos que se tornaria modelo para os estudantes e profissionais da área, Arrangement for pop-vocal-and instrumental bands. Em 1989, Garanian recebe e aceita o inusitado convite para liderar o Circo de Moscou, apresentando-se ao redor do mundo e aproveitando a oportunidade para tocar jazz com diversos músicos de outros países. Dez anos depois, Garanian enfrenta novo desafio: vivendo em Moscou, aceita liderar a pouco conhecida big band de Krasnodar, cidade situada no sul da Rússia, transformando-a na melhor banda de jazz da Rússia, segundo o jornal Argumenty i fakty, e causando sensação com suas apresentações em Moscou e em diversos concertos e festivais de jazz. Outro projeto bem sucedido de Garanian foi seu duo com o pianista Denis Matsuev, vencedor do International Tchaikovsky Competition, numa bem entrosada combinação de jazz e música clássica: entre suas interpretações contam composições de Bizet, Duke Ellington, Gershwin e Schubert, entre outros. Em 2004, Garanian revive o sucesso da banda cult Melodia, contando com Victor Gusejnov, um dos fundadores da banda, e uma constelação de jovens instrumentistas. Inicialmente projetada para ser banda de estúdio, com o sucesso começa a se apresentar em público, além de gravar álbuns de grande sucesso. Adicionando 5 integrantes à banda Melodia, transforma-a em big band, que recebe o nome de Moscow Big Band. Suas apresentações não se limitam à Rússia, mas estendem-se à Ucrânia, Donezk e China e, em algumas ocasiões, são reunidas as duas big bands, a de Moscow e a de Krasnodar. Aclamado como artista, Garanian é o único músico de jazz a se apresentar regularmente no conceituado Great Hall do Conservatório de Moscou. Entre suas inúmeras atividades bem sucedidas, vale destacar a sua participação no álbum duplo Oregon in Moscow, gravado com o grupo norte-americano ao lado da Orquestra Tchaikovsky, sob sua regência, trabalho indicado ao Grammy. Outro trabalho notável foi o álbum Jazz in tuxedos, gravado com a orquestra Virtuosos of Moscow e com o pianista Denis Matsuev, reunindo arranjos notáveis para peças de Gershwin, Ellington, Mozart e Prokofiev. No dia 14 de janeiro de 2010, milhares de admiradores foram ao Tchaikovsky Concert Hall, em Moscou, para se despedir de Garanian, morto por um ataque cardíaco aos 76 anos, em Krasnodar, onde se apresentaria com o pianista Martial Solal. Garanian foi enterrado no cemitério Vagankovskoye, em Moscou. Para os amigos, fica a faixa Lover Man, gravada ao vivo em 2001 com o trio The Jazz Accord Ensemble, formado por Alexey Kuznetsov (g), Anatole Sobolevy (b) e Alexander Goretkin (d) e retirada do excelente álbum В гостях у Джаз-Аккорда. Garanian deixa uma mulher, três filhas e muitas saudades.
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12 comentários:

figbatera disse...

Parabéns, mestre Lester, belíssima biografia, excelente resenha.

Grijó disse...

Estou tentando me elmbrar em que entrevista o Sonny Rollins citou o som do Ganarian.


De qualquer forma, nunca o ouvi, mas depois dessa "aula", vamos às gravações.
Valeu.

thiago disse...

alfabeto sinistro

John Lester disse...

Prezado Mestre Tandeta, estivemos na Miguel Lemos recentemente, para arrematar a coleção de lp's da Help, esse fantástico e antológico antro de perdição que cede lugar à nova sede do MIS. As meninas desapareceram das cercanias, tornando inóspta a até então acolhedora esquina.

Bem, antes do carnaval certamente sorveremos um belo chop, quem sabe em pé no balcão do Carangueijo, famoso por suas empadas e escondidinhos de camarão.

Grande abraço, JL.

Internauta Véia disse...

Belo trabalho, gostaria de ouvir a Ave Maria de Shubert devidamente "jazzificada"...

Gostei muito do som do simpático Garanian!

Érico Cordeiro disse...

Mr. Lester,
Como é que se escreve R.I.P. em cirílico?
Bela resenha e que descanse em paz o Tovarich Garanian!
E quem sabe eu não apareço prá esse chop? Lamento pela ausência das meninas - aliás, ausência das meninas é sempre um fato a lamentar!!!
Abração!

Salsa disse...

Sinto-me em débito com o defunto. Não o conhecia. O sopro é bacana.

pituco disse...

master lester,

obrigadão pela aula...e o camarada garanian tem um sopro bacanudo mesmo...apesar do trio soar meio balalaika...rs

aliás, o hermeto disse certa feita que qualquer solo de pianista brazuca no jazz, soa como chorinho...hehehe

bom,
que descanse em paz...

I.V. disse...

Ou melhor,Schubert!

Tobias Serralho disse...

Bela e merecida homenagem ao mestre armênio.

Sergio disse...

Seu Lester, embora tenha ficado chateado com o mr., por nada ter dito em relação ao meu ídolo Timmons - esperava alguns depoimentos, seus, histórias bombásticas do mestre Raffaelli, etc... - O amigo como sempre me trouxe um novo alento com esse sax russo Garanian. Estou ouvindo um raro álbum e rara é toda a obra do sujeito, aqui na Rede. Mas é isso. 1/5 ponto contra (pelo Timmons) 9 a favor por Garanian.

Ah!, o álbum q ouço é altamente fusion, mas uma delícia. Chama-se George Garanian & Melodiya Ensemble Labirinth Melodiya de 1974.

Grato.

Abílio disse...

Querido amigo, tinha tempo que não vinha aqui. Nada mudou, boa música e boas resenhas. Um abraço!