22/02/2010

Pandeiros

Davi, ao retornar de seu espetacular combate contra Golias, o gigante filisteu, foi recebido pelas mulheres de Israel ao som de flautas e pandeiros (a melhor tradução para toph segundo Roland de Candé, em sua História Universal da Música, São Paulo: Martins Fontes, 1994). Sim, amigos, pandeiros! E não sou eu quem o diz, mas Samuel, em 18, 6. Há outros resquícios de rufares de tambores na belíssima história dos hebreus, desde que Abraão parte de Ur em direção à Canaã. Exemplos? No livro da Gênese (31, 27) verificamos que na época de Jacó, os membros da tribo tinham o saudável hábito de percorrer um trecho da estrada com aquele que estava partindo, acompanhando-o ao som de pandeiros. Uma delícia. Em Êxodo (15), logo após a passagem pelo Mar Vermelho, a profetisa Míriam, irmã de Arão, canta e toca pandeiro. Em Juízes (11, 34), as moças recebem seus homens com danças, acompanhando-se com pandeiros. Com Samuel (2), último dos Juízes, verificamos um desalinhado rei Davi dançando com o povo ao som de pandeiros. Muito danado da vida, Deus, que não era surdo nem nada, mandou que Isaías (5, 12; 16, 11; 23, 15-16), Ezequiel (26, 13) e Jó (21, 12; 30; 31) colocassem um fim nessa escandalosa balbúrdia, calando os pandeiros, para a felicidade dos crentes e descrentes, entre estes eu, John Lester, um eterno postulator fidei et advocatus diaboli dos pandeiros e agogôs. Claro que sempre haverá os pecadores, muitos deles especializados em promover o rufar dos tambores, contribuindo assim para a ira divina.


 Não é outro o caso de Osie Johnson, baterista injustamente ausente da Virgin Encyclopedia of Jazz, 2004, revista e atualizada, e do The Rough Guide to Jazz, 3rd Edition, também de 2004. Nascido em Washington, no dia 11 de janeiro de 1923, morre jovem, no dia 10 de fevereiro de 1966, em New York. Aos 18 anos, após estudar teoria e harmonia na Armstrong High School, onde teve como colegas Frank Wess e Leo Parker, Osie abandona os estudos secundários para se dedicar profissionalmente à música. Após um breve período em Boston, com o grupo de Sabby Lewis, Osie presta o serviço militar, tocando na banda da marinha, onde conhece Clark Terry e Willie Smith. Em seguida, parte para Chicago, onde trabalha como baterista e arranjador freelance. Na década de 1950, integra a banda de Earl Hines, além de tocar no Minton’s Palyhouse com o quarteto de Tony Scott. Em 1954, após ser eleito o melhor baterista do ano pela revista Down Beat, Osie parte em turnê pela Europa, acompanhando o saxofonista Illinois Jacquet. Na volta, passa a trabalhar com o trio da pianista Dorothy Donegan, no clube Embers, com Dan Terry, no Birdland e com Lou Stein, no Basin Street. A partir de 1955, embora integrasse os grupos de Clark Terry, Bob Bookmeyer, Al Cohn ou Zoot Sims, Osie torna-se quase que exclusivamente músico de estúdio, trabalhando para a televisão e participando de centenas de sessões de gravação, ao lado de músicos como Joe Newman, Frank Wess, Johnny Hodges, Coleman Hawkins, Dinah Washington, Jimmy Raney, Wes Montgomery, Sonny Stitt e Ben Webster. Em sua curta carreira, Osie ainda demonstrou sua habilidade na confecção de arranjos, sem falar na utilização eventual da voz.


Para os amigos fica a faixa Flute to Boot, retirada do álbum Osie’s Oasis, lançado pelo selo Original Jazz Classics, onde estão reunidas duas sessões gravadas para o selo Period em New York, ambas em fevereiro de 1955, mesma época em que a banda de Count Basie passava pela cidade. Com Osie estão Frank Wess (f), Benny Powell (tb), Dick Katz (p) e Eddie Jones (b).

15 comentários:

John Lester disse...

Nota da Redação: na primeira foto, Mestre Pituco tocando Brasileirinho no tarol japonês.

pituco disse...

hahaha...sr.editor, justifico esse meu flagrante primata...rs

isso foi numa época em que eu ainda não havia descoberto o jazzseen e seus correlatos piramidais...nem desfrutava os prazeres da blue note junto aos acepipes virtuais.

abraçsons pacíficos
ps.essa modalidade de 'taikô'(cujo nome específico não recordo) é utilizado apenas no teatro 'onoh'.

bia disse...

delicia...

Érico Cordeiro disse...

Que rufem os tambores, Seu Mr Lester!
E o Osie Johnson também não está no Penguin Guide!!! Isso é que é blasfêmia!!!
E a foto do Pituco ficou sensacional!!!!

Carioca da Vila disse...

Muito gostosa a faixa,bateria discreta e agradável...ótima para 3 da madruga...

Paula Nadler disse...

Melhor ainda para as 4. Beijo.

blog disse...

Sensacional, JL.
Após ler suas resenhas, e também as do Érico e do Salsa, vou, aos poucos, conscientizando-me de que jazz é para se ler e ouvir - e, no meu caso, não escrever.

Valeu.
Abraço

Grijó

John Lester disse...

Aguardamos as manifestações de nossos amigos bateristas.

Grande abraço, JL.

Danilo Toli disse...

Oi, legal mas senti falta das receitas, ok? Valeu!

Internauta Véia disse...

Muito bom, como sempre,Mr.Lester!

As resenhas do Jazzseen são muito esperadas, adoro quando tem postagem nova...

E Mr. Edú, por onde anda?
Já pensamos( eu e outros visitantes do Jazzseen )que o querido correspondente paulista tenha ido ouvir Chet Baker "ao vivo"...se for possível usar esta expressão...

Andre Tandeta disse...

Mr . Lester,
escolha e resenhas sensacionais!
Osie Johson na decada de 50 ao mais Hank Jones e Milt Hinton formavam uma seção ritmica que participou de milhares de gravações. Não só de jazz mas de musica popular.Frank Sinatra ,por exemplo, só querian gravar com eles.
Osie Johson é o baterista que esta na trilha sonora do filme "West Side Story",composta por Leonard Bernstein . Essa trilha é um momento historico na musica.
Ve-se claramente que o homem não era "um qualquer",muito pelo contrario.
Abraço

John Lester disse...

Prezados amigos, obrigado pelas visitas. E, Mestre Tandeta, apesar de toda minha campanha contra os tambores, há que se fazer justiça para com músicos como Osie, um mestre esquecido pelos guias.

Grande abraço, JL.

pituco disse...

signores jazzófilos e especialistas,

desculpem o assunto off post...

baixei um cd piramidal...mulgrew miller trio live at yoshi's II...procurei informações nos marcadores aqui do blog e não encontrei...há resenha sobre?

obrigadão e abraçsonoros

Anônimo disse...

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John Lester disse...

Mestre Pituco, infelizmente nossos recursos são escassos, o que impede a contratação de redatores para a realização de todas as resenhas que gostaríamos de oferecer aos milhares de visitantes do Jazzseen.

Aguardamos sua contribuição, escrita, é claro, sobre o músico e álbum citados.

Grande abraço, JL.