13/04/2011

Jazz na Fábrica

Reunir figuras lendárias a talentos mais jovens é um artifício manjado no mundo dos festivais de jazz. Para não fugir à regra, os americanos Archie Shepp, 73, Dee Dee Bridgewater, 60, e Christian Scott, 28, estão entre os escalados para o Jazz na Fábrica, que o Sesc Pompeia abrigará entre os dias 7 e 29 de maio. Mas quem deve incendiar o evento, com perdão do trocadilho, é o trio Fire!, liderado pelo saxofonista sueco Mats Gustafsson. Parceiro de Thurston Moore (Sonic Youth) em diferentes trabalhos, Gustafsson, 46, desembarca pela primeira vez no Brasil com sua música furiosa, salpicada de elementos de free jazz, rock e muita improvisação. Como classificá-la? "Não gosto de rotular minha música. Isso limita a experiência que as pessoas podem ter (...). O que espero é que soe como algo novo, que altere o foco e o rumo [do público]. Apenas abram ouvidos e mentes e nós faremos o resto", disse à Folha. O som do grupo transita de passagens de teor mais abstrato e hipnótico a ataques sonoros altamente ruidosos. "Comecei tocando em uma banda punk, na adolescência. Agora faço algo diferente, mas ao menos sinto que a energia e a entrega são as mesmas."

Multi-instrumentista, Gustafsson passeia por vários sopros, com destaque para os saxes tenor e barítono. Ao lado dele estarão no palco, no dia 13 de maio, o baixista Johan Berthling e o baterista Andreas Werliin. Também está programada a participação do grupo paulistano Hurtmold. O Fire! é uma das mais recentes investidas do músico. O trio, que lançou seu primeiro álbum em 2009, parte de uma base de sax, baixo e bateria, adicionando em alguns temas guitarra e teclados. O próximo disco está planejado para sair em maio.

MULTIPLICIDADE

Sendo um dos mais inventivos músicos da atual cena jazzística, o saxofonista sueco contabiliza em sua vasta e variada discografia mais de uma centena de álbuns. A multiplicidade de projetos e perspectivas com que está envolvido já fez com que fosse criticado por sofrer de falta de foco. "Eu faço o que tenho de fazer. O público decide se gosta ou não. O mais importante é um músico tocar com sua própria voz, sem concessões, sem querer se ajustar a toda nova onda que aparece", afirmou o músico. Habitual parceiro de nomes da velha guarda do saxofone, como Joe McPhee, 71, e Peter Brötzmann, 70, ele não poupa elogios a Shepp, que se apresentará no último final de semana de maio. "Ele fez algumas das gravações mais incendiárias da história."

Colecionador de discos de vinil, Gustafsson se mostra muito interessado em música brasileira e cita nomes como Tom Zé, Jorge Ben Jor e Caetano Veloso dentre os que ouve com frequência.
"Espero encontrar alguns LPs nessa viagem ao Brasil e também descobrir coisas novas", disse o saxofonista, aproveitando para convocar o público: "Tragam, por favor, belos e raros LPs para o concerto e poderemos fazer alguns negócios". (Fonte: Folha de São Paulo). Veja a programação completa aqui.