30/04/2011

O jazz morreu - Matthew Halsall

Quantos jovens têm olhos na nuca? Em sua Ilíada, Homero repreendia os jovens, saudando os velhos, por em geral não terem a capacidade de olhar para trás, decorrendo daí tantos e desnecessários tropeços em direção ao futuro. Sabedoria, sim, coisa típica dos anciãos, mas não exclusiva. Nascido no dia 11 de setembro de 1983, Matthew Halsall é já um dos trompetistas mais respeitados da Inglaterra. Além de sua técnica apurada, apresenta um sonoridade expressiva e, digamos assim, transcendental, espiritual, emoldurada num modalismo que ouviu o passado recente legado por John Coltrane e Bill Evans. Após uma apresentação de jazz assistida com os pais, Matt começa a estudar o trompete, aos 6 anos de idade. Aos 14, já estava tocando na França, Itália, Espanha, Rússia, Holanda, Kuala Lumpur, Singapura, Austrália e EUA. Em 2008, grava seu primeiro álbum como líder, Sending My Love, com estusiasmada aceitação da crítica. Em 2009, desenvolve uma frutífera parceria com o saxofonista, compositor e arrannjador Nat Birchall, do que resulta o brilhante álbum Akhenaten. É também em 2009 que inicia outra colaboração bem sucedida, dessa vez com o letrista, compositor e DJ Nitin Sawhney. A consitência de seu trabalho é reconhecida por Giles Peterson, que o convida a se apresentar no renomado Ronnie Scott’s Jazz Club, em Londres.

E Matt continua insistindo em olhar mais longe, olhar para os ensinamentos do velho jazz britânico, olhar para o Bebop de Dizzy Gillespie, como fica claro na faixa Music For a Dancing Mind , retirada do álbum On The Go, lançado em 2011 pelo selo Gondwana Records. Com Matt estão Nat Birchall (ss, ts), Adam Fairhall (p), Gavin Barras (b), Gaz Hughes (d) e, apenas na faixa 4, Rachael Gladwin (harp).


Se John Coltrane tocasse trompete, como seria seu som? Ou melhor, se Miles Davis soubesse tocar trompete, como seria seu som? Matt dá uma dica.

29 comentários:

Internauta Véia disse...

Lester, Lester...

Belo som na madrugada...

Naura Telles disse...

Lindo!

Salsa disse...

Clima, como bem notaste, coltraniano. Sem excessos. Valeu a dica.

pedrocardoso@grupolet.com disse...

Prezado JOHN LESTER:

Não conhecia o jovem, mas sem dúvida sabe das coisas.
Gostei muito do final da resenha (...se Miles Davis soubesse tocar trompete....).
Parabéns !

John Lester disse...

Mr. Cardoso, sempre antenado. Lembra até nosso amigo Edù.

E Salsa, até dia 7!

Grande abraço, JL.

Andre Tandeta disse...

Mr. Lester,
toca bem o rapaz , veremos o que tem a mostrar com o passar dos anos.
quanto ao infeliz comentario sobre Miles Davis : varios trompetistas que conheço admiram , e muito, o trompetista Miles Davis. Citarei nomes pra que não fiquem duvidas: Jesse Sadoc, Guilherme Dias Gomes,o saudoso Marcio Montarroyos e Altair Martins. Todos esses sabem ,e muitissimo bem ,tocar trompete. Então sou levado a crer que essa triste opinião e' fruto de gosto pessoal mas de total desconhecimento de causa. E' claro que pode-se não gostar dele tocando trompete mas dai a dizer essa sandice vai uma enorme distancia. Fique com o vinho, pode ser que talvez o Sr. entenda desse assunto. Talvez.

PREDADOR.- disse...

Como disse Mr.Tandeta (alô mr.Tandeta! estais sumido dos blogs de jazz): ..."toca bem o rapaz, veremos o que tem a mostrar com o passar dos anos"...Tenho a mesma apinião e vamos aguardar mais alguns anos. Agora, quanto a Miles Davis, não me meto nessa discussão nem que me "cortem o pescoço".

John Lester disse...

Prezado Mr. Tandeta, obrigado pela visita.

Quanto a Miles, basta ouvir a surra que levou nas sessões de 1945 para a Savoy para averiguar sua incapacidade técnica diante de músicos como, verbi gratia, Dizzy Gillespie, trompetista que, sabe-se lá como [(heroína fornecida para o líder (Parker)], foi colocado no piano nessas sessões. Quando o bicho pegou, ou seja, na impossibilidade de tocar a veloz Cherokee, Miles entregou o trompete a Dizzy e fugiu do estúdio dizendo que 'não via sentido naquela música'. Ele se referia ao Bebop.

Agora, se alguns dizem que Miles tocava bem, devem estar se referindo a Rock.

Grande abraço, JL.

Andre Tandeta disse...

Mr. Lester,
não tenho a pretensão de convence-lo que Miles Davis sabia tocar o seu instrumento. Acho,no entanto, que o Sr. erra ao tomar como referencia algumas gravações das decadas de 40 e inicio dos 50, ele afundado na heroina. Se o Sr. conhecesse a obra de Miles Davis poderia constatar que ele ,mesmo sem ser um prodigio de tecnica como Clifford Brown ou Freddie Hubbard, era um instrumentista original e com dominio de seu instrumento("Miles Ahead" e' um otimo exemplo). Existem em outros instrumentos musicos que mesmo sem um brilho tecnico excepcional são originais e conseguiram acrescentar alguma coisa a linguagem do jazz, algo que não depende so' de tecnica. E tambem sabemos que muitos musicos super tecnicos jamais alcançaram o nivel de grandes criadores . Paul Motiam, Horace Silver ,Thelonious Monk,Chet Baker, Hank Mobley e Paul Desmond são sem duvida algumas musicos de jazz fundamentais e nenhum deles e' um prodigio de tecnica.

Celijon Ramos disse...

Adorei o que ouvi. Mr. Lester obrigado pela apresentação!
Um abraço e muito bons vinhos!

LeoPontes disse...

Pelo visto está aberta a nova temporada dos "Gladiadores" Andrés.

Teremos nas proximas semanas UFCJazz 2011. Quem será o favorito ?

Graças a deus tudo em nome de 2 excelencias culturais de estilos diferentes.

Posso não ser muito querido por aqui. Porém sei admirar belas esgrimas intelectuais.

Som na caixa gente !

Abrçs a todos.

Andre Tandeta disse...

O Jazzseen e' um blog referencia para os que amam o jazz. Tenho uma grande admiração por Mr. Lester e gostaria de deixar bem claro que as divergencias se dão apenas no terreno das ideias. E eu sou apenas um esforçado baterista ,intelectual e' Mr . Lester e muitos dos amigos que por aqui comentam. Quanto ao jovem trompetista ingles eu acrescentaria que tem um belo som e ideias interessantes,tambem gostei bastante do baterista que atua nessas gravações.

John Lester disse...

Prezado Celijon, obrigado pela visita, sempre adicionando estímulo ao nosso trabalho.

Prezado Leo, você é sim muito bem-vindo aqui no blog. Só não foi recebido em Vila Velha com as honras que merece em virtude o acaso. Você sabe bem disso.

E prezado Mr. Tandeta, como bom músico que é, creio estar claro para todos que Miles foi um músico genial e, para mim, um trompetista simplório. Uma coisa não exclui a outra. Tal fato é comum no jazz e não deprecia ninguém: vejamos, por exemplo, Gil Evans e Duke Ellington, dois músicos notáveis e, no entanto, pianistas não mais que medianos.

Grande abraço a todos, JL.

John Lester disse...

Aliás, em tempo, o que poderíamos dizer de Ornette Coleman? Quem por aí aprecia seus garranchos no sax e seus arranhões ao violino?

E, no entanto, está lá: gênio!

Ora bolas, como diria o Predador, vá catar coquinho!

PREDADOR.- disse...

Vou "meter a colher" neste assunto porque fui citado e sòmente para dizer a mr.Lester: Miles Davis (apesar de minhas restrições) era melhor que Ornette Coleman e Duke Ellington muito melhor pianista e regente que Gil Evans.Vamos arranjar outro tipo de classificação: Miles Davis= de mediano p'ra bom; Ornette Colleman= de péssimo p'ra sofrível; Duke Ellington= de bom p'ra bom de boca cheia; Gil Evans= de regular p'ra mediano ou vice-versa ao contrário. Tem gosto p'ra tudo. De resto mr.Lester, meu lema não é "vá catar coquinho!" e sim "vá caçar um bode!"

Naura Telles disse...

Tadinho do bode!

pituco disse...

master lester,

qualquer instrumento musical que mr.miles tocasse, continuaria a ser genial...

abraçsonoros e saudosos

Andre Tandeta disse...

E', bem, vejamos, Mr. Lester, o que não ficou claro pra mim e' a quem o Sr. mandou ir catar coquinhos.
Quanto as comparações : elas são uma tentativa de comprimir e simplificar ao maximo um assunto que e' bastante vasto e profundo . Não contem comigo pra participar dessas comparações , são uma prova de como o assunto e' tratado , de forma absolutamente superficial .

John Lester disse...

Prezado Mestre Tandeta, sem imitação não surgiria a arte, sem parâmetros não haveria discurso e, sem preconceitos, o bebê não daria sequer o primeiro passo. Você mesmo, quando toca bateria, não faz mais que comparar sons e timbres, ora escolhendo o bumbo, ora o prato. E sempre haverá aquele que prefere o surdo.

A própria música nada mais é que um eterno esforço de imitação, imitação daquele modelo perfeito criado em nossa imaginação, a partir de nossa capacidade de ouvir, comparar, escolher e organizar os sons ouvidos no passado, de acordo com nossa vontade livre e presente.

Portanto, para elegermos John Coltrane como único, é preciso necessariamente compará-lo aos demais. Não tem outra saída. Sem as comparações, não haveria um Monk, não haveria um Krupa. E, o melhor de tudo, ninguém poderia comparar-me a Charlie Parker, aquele saxofonista das 90 notas por segundo que tem servido de parâmetro e modelo desde que assobiou as primeiras notas.

Se insistíssemos em ser bonzinhos e educados, os músicos seriam todos iguais, afinal, no mundo bonzinho é proibido comparações.

E quanto ao coquinho, tudo bem. Eu mesmo cato.

Grande abraço, JL.

Rogério Coimbra disse...

Como o Miles ainda incomoda. Impressionante. Nunca o esquecerão ? Aquele sopro inconfundível ? Quanta tortura por uma simples frase elegante, bem construída ?

Nobless Oblige: Miles não está nem aí para os inquietos.

John Lester disse...

Mr. Coimbra, que prazer revê-lo!

Bem, creio que Miles não era tão quieto assim. Principalmente quando ouvia Gillespie, Hubbard ou Fadis tocando.

E, observando melhor, a questão nem é essa. A questão é como Miles e Roberto Carlos, com sua voz de marreco resfriado, conseguiram se tornar reis...

Bem, nosso Congresso, com Tiririca e Romário no ataque, talvez possam nos dar algumas pistas sobre o voto popular e a escolha de nossos reis.

Ah, sim! Agora até Nelson Mota deu pra falar bem das duplas sertanejas... Depois disso, só falta ele negociar um elogio a axé music!

Grande abraço, JL.

Andre Tandeta disse...

Mr. Lester ,
como a discussão se tornou um duelo sobre quem manuseia melhor a lingua patria, e eu não tenho a menor pretensão de disputar com o Sr. nesse terreno que e' o seu campo preferido de embates, dou o assunto por encerrado. Torcer as palavras pra ca e pra la em nada avança com a discussão. Sabemos que as maiores bobagens do mundo soam aos incautos como grande sabedoria quando embrulhadas em pretenso discurso erudito. Quanto aos coquinhos, divirta-se.

Anônimo disse...

Gracias por tus palabras,

Saludos! :)

John Lester disse...

Mestre Tandeta, não desanime. Afinal, nada é tão ruim que não possa piorar.

Grande abraço, JL.

coloda disse...

Lester,
Muito bom som
Opiniões diferentes é o q enriquece nossas vidas...
TB ñ sinto muita emoçao ao ouvir M Davis...mas pelo menos ele tornou o jazz mais popular, talvez por ser mais barulhento...afinal tudo tem seu lado bom,

Andre Tandeta disse...

Mr. Lester,
retribuo o abraço, mas depois não va dizer que estou sendo bonzinho.

Carlos Jurandir disse...

Peguei o bonde andando, Mas vá lá. Tenho certeza de que Miles Davis foi um dos maiores trompetistas da história do jazz. Como saber disso? Basta ouvir os trompetistas. Joe Magnarelli, Jim Rotondi, John Swana, alguns dos que se destacam do cenário de Nova York, ou os italianos Fabrizio Bossi ou Flávio Boltro, o francês Fabien Mary, os japoneses Terumasa Hino e Tomonao Hara - todos têm algo de Miles. Tocam hard bop, mas em algumas notas e frases está lá o impressionismo que Mr. Davis imprimiu ao jazz. Isso também vale para saxofonistas, e até para pianistas: Bill Evans nunca mais foi o mesmo depois da gravação de Kind of Blue. O estilo de Miles é único. Miles Davis surgiu em plena era gillespiana, como, aliás, Clifford Brown e Lee Morgan. Três caminhos diferentes a partir do bop. Clifford tornou mais flexíveis as frases duras de outro cobra da época, Fats Navarro, caminho seguido mais tarde por outro bopista de primeira linha, Kenny Dorham, o rei sa suavidade. Já Morgan, ao contrário, "endureceu" bastante fraseado de Clifford, especialmente nos últimos discos. Digo tudo isso para mostrar o leque de opções com que se deparou Miles, ao perceber desde o começo que não teria paciência (não talento, isso ele tinha de sobra) para seguir a linha gillespiana. Optou, portanto, por uma sonoridade única, cujo ponto alto, a meu ver, são os cinco discos gravados na saída da Prestige, especialmente Round Midnight, e os solos do filme Ascensor para o Cadafalso. (Lembram Jeanne Moreau andando à noite sob o som de Miles? Pois é. Aquela cena não podia ser feita com outro som). Mas o homem não ficou só nisso: a sonoridade do disco Kind of Blue e as idéias harmônicas na maioria das gravações, mesmo as com Charlie Parker, são primorosas pela escolha rápida das notas, sempre com um caráter impressionista. Ufa! É só. Miles forever!

jorgecarrero disse...

Não sei qual o seu problema em relação a Miles Davis... Mas, lendo seus escritos, fica evidente algo de cunho patológico.

Anônimo disse...

Vim matar a saudade.