Quando Vovô Acácio foi convidado por Oscar Niemeyer para projetar Brasília, pouca gente poderia imaginar que deste encontro nasceria uma das mais acirradas polêmicas da história da arquitetura brasileira. Conforme já havia demonstrado no projeto de Welwyn Garden City, inaugurada em 1920, Vovô Acácio era um entusiasta do verde, da coexistência saudável entre árvores, construções, jardins e calçadas. Tendo orientado o arquiteto Louis de Soissons na construção da Welwyn Garden City, a segunda garden city da Inglaterra, Vovô Acácio colocou em prática sua ideia fixa de unir a cidade com o campo, tornando menos inóspita a paisagem urbana, suavizando-a com a presença constante da natureza. Dito isto, claro que seu encontro com o amante brasileiro do concreto foi um desastre. Após a breve reunião, Vovô Acácio perguntava para si mesmo: como é que um comunista pode beber seis garrafas de Château Latour 1934 durante a elaboração de um projeto arquitetônico e, o que é pior, propor a construção de uma cidade totalmente desvinculada de seu entorno?
Nenhum dos apelos de Vovô Acácio junto à imprensa foram ouvidos. Suas reuniões com Juscelino foram em vão. As súplicas ao Papa deram em nada. Brasília nasceu cinza, pesada, sem verde e sem qualquer conexão com os arredores, do que resultou na favelização horizontal da vizinhança, também sem verde e sem jardins, como numa metástase. Visivelmente transtornado, Vovô caminha com dificuldade até a velha estante, de onde retira uma surrada pasta com os projetos originais de Welwyn Garden City, construída quarenta anos antes de Brasília. E cochichava: veja Paulinha, olhe aqui a primeira casa ocupada da cidade jardim, nas vésperas do natal de 1920. Depois, retirando outra foto, disse: está vendo este bebê aqui, é Chris Barber, um dos maiores músicos de jazz da Inglaterra. Sabe onde ele nasceu? Exatamente, em Welwyn Garden City!
Colocando no toca-discos um desconhecido álbum de Chris e apertando entre os dedos a rolha de um dos Château Latour 1934 abertos por Niemeyer durante aquele terrível encontro, Vovô passou a nos contar um pouco mais sobre o músico inglês. Nascido na cidade jardim em 17 de abril de 1930, Chris iniciou os estudos de violino aos sete anos, passando para o trombone aos dezoito e, em 1949, forma sua primeira banda de Dixieland. Entre 1951 e 1954, Chris frequenta a Guildhall School of Music, em Londres, onde estuda trombone e contrabaixo. Nesse período, forma um quinteto e, com a chegada do trompetista Pat Halcox, um sexteto, com o qual se apresenta no Club Creole, também na capital inglesa.
Em 1953, Pat Halcox é substituído por Ken Colyer, talvez o mais importante divulgador do jazz tradicional na Inglaterra. No ano seguinte, com a saída de Colyer, Halcox retorna ao sexteto que, em pouco tempo, alcança grande popularidade e é reconhecido pela crítica especializada como um dos melhores conjuntos de Dixieland da Inglaterra. Em 1954, a cantora Ottilie Patterson passa a integrar a banda e, em 1959, casa-se com Chris, união que duraria até 1983, quando se divorciam. Na década de 1960, com o revival do jazz tradicional na Europa, a banda de Chris tem suas forças revigoradas, além de aproximar-se de outros estilos, como o Swing, o blues e o ragtime. São memoráveis seus encontros com grandes mestres norte-americanos, como Muddy Waters, Sonny Terry, Brownie McGhee, Albert Nicholas, Sidney De Paris, Edmond Hall, Hank Duncan, Russell Procope, Wild Bill Davis e Louis Jordan.
Também o rock e a música clássica são investigados por Chris, músico que já atuou ao lado de lendas como Eric Clapton, Mark Knopfler e Dr. John, além de compor um concerto para trombone e orquestra e gravar como solista com a London Gabrieli Brass. Enfim, um músico comparável ao vinho Château Latour: quanto mais velho, melhor! Nas faixas acima você ouve C Jam Blues (com Albert Nicholas), The Sunny Side of The Street (com Jools Holland), Ragtime Piece (com Mark Knopfler) e Do Lord, Do Remember Me (com Ottilie Patterson, Sonny Terry e Howard McGhee). Quem gostar, plante uma árvore.
Nenhum dos apelos de Vovô Acácio junto à imprensa foram ouvidos. Suas reuniões com Juscelino foram em vão. As súplicas ao Papa deram em nada. Brasília nasceu cinza, pesada, sem verde e sem qualquer conexão com os arredores, do que resultou na favelização horizontal da vizinhança, também sem verde e sem jardins, como numa metástase. Visivelmente transtornado, Vovô caminha com dificuldade até a velha estante, de onde retira uma surrada pasta com os projetos originais de Welwyn Garden City, construída quarenta anos antes de Brasília. E cochichava: veja Paulinha, olhe aqui a primeira casa ocupada da cidade jardim, nas vésperas do natal de 1920. Depois, retirando outra foto, disse: está vendo este bebê aqui, é Chris Barber, um dos maiores músicos de jazz da Inglaterra. Sabe onde ele nasceu? Exatamente, em Welwyn Garden City!
Colocando no toca-discos um desconhecido álbum de Chris e apertando entre os dedos a rolha de um dos Château Latour 1934 abertos por Niemeyer durante aquele terrível encontro, Vovô passou a nos contar um pouco mais sobre o músico inglês. Nascido na cidade jardim em 17 de abril de 1930, Chris iniciou os estudos de violino aos sete anos, passando para o trombone aos dezoito e, em 1949, forma sua primeira banda de Dixieland. Entre 1951 e 1954, Chris frequenta a Guildhall School of Music, em Londres, onde estuda trombone e contrabaixo. Nesse período, forma um quinteto e, com a chegada do trompetista Pat Halcox, um sexteto, com o qual se apresenta no Club Creole, também na capital inglesa.
Em 1953, Pat Halcox é substituído por Ken Colyer, talvez o mais importante divulgador do jazz tradicional na Inglaterra. No ano seguinte, com a saída de Colyer, Halcox retorna ao sexteto que, em pouco tempo, alcança grande popularidade e é reconhecido pela crítica especializada como um dos melhores conjuntos de Dixieland da Inglaterra. Em 1954, a cantora Ottilie Patterson passa a integrar a banda e, em 1959, casa-se com Chris, união que duraria até 1983, quando se divorciam. Na década de 1960, com o revival do jazz tradicional na Europa, a banda de Chris tem suas forças revigoradas, além de aproximar-se de outros estilos, como o Swing, o blues e o ragtime. São memoráveis seus encontros com grandes mestres norte-americanos, como Muddy Waters, Sonny Terry, Brownie McGhee, Albert Nicholas, Sidney De Paris, Edmond Hall, Hank Duncan, Russell Procope, Wild Bill Davis e Louis Jordan.
Também o rock e a música clássica são investigados por Chris, músico que já atuou ao lado de lendas como Eric Clapton, Mark Knopfler e Dr. John, além de compor um concerto para trombone e orquestra e gravar como solista com a London Gabrieli Brass. Enfim, um músico comparável ao vinho Château Latour: quanto mais velho, melhor! Nas faixas acima você ouve C Jam Blues (com Albert Nicholas), The Sunny Side of The Street (com Jools Holland), Ragtime Piece (com Mark Knopfler) e Do Lord, Do Remember Me (com Ottilie Patterson, Sonny Terry e Howard McGhee). Quem gostar, plante uma árvore.
5 comentários:
Gostei! Muito!
Beleza Paulinha, mais uma bela estória de Mestre Acácio!
É isso Paulinha, só quem bebe Chateau Latour no Brasil são os comunistas...
Grande abraço, JL.
Paulinha, não conhecia o Chris, mas certamente é um grande músico - senão, não pintaria no Jazzseen.
Pena que não pude conhecer o Vovô Acácio - ele deve ser uma figuraça...
De qualquer forma, a Inglaterra está muito bem servida de jazzistas - de Ronnie Scott a Tubby Hayes, de Gordon Beck a Derek Smith, de Tony Oxley a Dizzy Reece, a terra da rainha é pródiga em talentos.
Um grande abraço!
Prezada PAULA:
CHRIS BARBER é uma dessas figuras absolutamente simpáticas do mundo do JAZZ.
Costumo divertir amigos com o DVD "CHRIS BARBER - Jazz And Blues Band On The Road - A Documentary", em que CHRIS além de tocar com o seu grupo (Pat Halcox presente), nos mostra todo um mundo "in the road".
É um músico da melhor qualidade e sua postagem resgata um explorador do melhor.
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