A véspera não anunciava a noite de lua que agora invade a minha janela. A vida é assim: cheia de surpresas. Nem sempre agradáveis, nem sempre ruins. Eu, medroso que sou, evito arriscar-me. Gostaria de mais garantias, mas, diz-me o escritor mineiro: "Salsa, viver é perigoso e risco maior é ficar submerso nas santas convenções dos hábitos estadados". Às vezes eu me lembro disso e permito-me alguns arroubos aventureiros. Dane-se o perigo. Fui, então, à estante e peguei um daqueles discos que a gente fica olhando de banda (e vice-versa) e acaba esquecendo que existe. Sapequei o danado na radiola e uma voz quente emergiu, envolvente como um edredon numa noite fria. Nenhum ganido, nenhum scat despropositado, nenhuma afetação. Assim é a voz warm & sweet de Jeanne Lee. Emoldurando-a, surge o som do piano de Ran Blake, com aquele toque avant garde, criando progressões harmônicas inusitadas para os standards (ouve-se Laura, Summertime, Lover Man, When Sunny gets blue, Lover man, além de uma versão de Blue Monk que deixaria o autor orgulhoso). Um disco mais que equilibrado e muito bom de ouvir que, se não fosse pela inspiração da lua, poderia ter ficado mofando na discoteca. Despeço-me e agradeço à Fortuna ao som da prece He’s got the whole world in his hand, interpretado à capela por Jeanne Lee. Não tem como não dormir bem após essa experiência. Ôpa! Eis o nome do disco: Jeanne Lee & Ran Blake - the newest sound around.
6 comentários:
bota uma faixa no gramophone salsa !
Já está lá. Sapequei Blue Monk,mas tem muito mais. Em outra oportunidade rola outra.
Delícia de seleção.
:-)thanks
oi mariana :)
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