20/06/2006

Muito lixo, pouca lixeira


Vivemos numa época onde a produção de lixo humano bate todos os recordes históricos. Não há mais espaço para esconder esse resíduo vivo do capitalismo moderno combinado com o descaso governamental: há presos saindo pelo ladrão. Num local onde cabem 200 elementos, são colocados 800. Organizados como larvas incômodas, os condenados começam a degolar companheiros e incendiar ônibus. O governo decide construir presídios em áreas de preservação ambiental e a Microsoft, que recolhe pelo mundo crianças geniais para seu quadro de funcionários, fornece mais alguns milhões de dólares para fundações beneficentes alfabetizarem crianças retardadas. A população, assustada com tanto fedor, pede rigidez na limpeza. Afinal, se todos nós somos bons homens, obedecemos nossos patrões e aceitamos viver uma vida cheia de privações e desigualdades, por qual motivo os marginais podem roubar banqueiros gananciosos e desafiar governos corruptos? Seria admirável se pudéssemos desaparecer com todas essas larvas que ameaçam nossa bela sociedade. Nos bons tempos podíamos matá-las com certa facilidade: Jesus, Che Guevara, Lúcio Flávio, todos passageiros da agonia devidamente assassinados. Seria perfeito se tivéssemos degolado também Billie Holiday, Thelonious Monk, Chet Baker e mais uma centena de grandes músicos que estiveram na prisão. O mundo seria tão azul quanto o Windows Beta e ouviríamos somente Kenny G em nossas tranqüilas residências sem grades. Infelizmente, aqui no Gramophone Jazzseen, somos obrigados a ouvir um representante da lixeira humana: Art Pepper, um saxofonista que passou mais tempo na cadeia do que em estúdios de gravação. Agora, só nos resta lembrar saudosos das profiláticas Narrenschiffs, aquelas naus dos loucos de que nos fala Foucault em sua História da Loucura, que passavam de cidade em cidade recolhendo todo o lixo humano por preços justos, enviando loucos, drogados e criminosos para algum lugar bem distante de nós.

11 comentários:

Salsa disse...

Falou, tá falado. A folha corrida do Art Pepper é de dar inveja. AS gravações ao vivo são espetaculares. Lá no meu gramophone tem summertime.

Anônimo disse...

É isso aí. As políticas institucionais de inclusão social são atestados de incompetência. Como diz o delegado Nunes: inclusão social de c* é rôla! Em outubro: pimenta neles!

Anônimo disse...

John, não conheço esse do Pepper. Se vc puder passe os dados. Obrigado.

Anônimo disse...

Prezado Augusto, a faixa que você ouve no Gramophone Jazzseen é do álbum Blues For The Fisherman, gravado em 1980 no Ronnie Scott. A turma que toca com Pepper é: Carl Burnette (d), Tony Dumas (b) e Milcho Leviev (p).

Um abraço, JL

Anônimo disse...

Nada como almoçar ouvindo Pepper e Leviev.

Anônimo disse...

Que tal um tempero brasileiro nesse blog tão chegado ao Tio Sam?

Anônimo disse...

Para atender Avaliador de Blogs, que tal " Minha" , de Francis Hime, e,
"Dolphin", de Luiz Eça, ambas com BILL EVANS ? Tempero leve, na medida.

Anônimo disse...

Tantos blogs por aí para serem cuidadosamente avaliados e Alá nos brinda com um Avaliador de Blogs xenófobo. É mole ?

Anônimo disse...

O cinismo ácido do texto só faz realçar a triste condição humana.

Adorei seu texto André. Saudades.

Anônimo disse...

Mas que som cacete, pô !

Anônimo disse...

Falei do Tomato Kiss, um som cacete de verdade, mas o Salsa já limou. Que confusão este site. Estou jazzseen da silva.