
Uma visitante pediu que falássemos de algo mais
mudernin e como esse blog é povoado por mentes abertas, espíritos livres e membros do movimento anarcojazz, não poderíamos deixar de fazê-lo. Mas começaremos falando de velharias. Sabe-se da influência do
jazz sobre as outras formas de expressão musical desde que ele emergiu dos becos sórdidos do norte do novo mundo. Os jovens músicos que nasceram nos anos cinqüenta e levados pela irreverência e passionalidade do
rock'n'roll logo descobriram que os seus tios-avós também partilhavam o mesmo espírito, mas com uma linguagem diversa. Não é surpresa, pois, a aproximação advinda. O problema é que isso mexe com o bom e velho fundamentalismo que habita a alma de uma boa parcela das pessoas: o novo, o diferente, enfim, algo que saia, mesmo que levemente, do lugar comum é criticado ferozmente. Parte do povo do
rock'n'roll acha ruim e parte dos aprecadores do
jazz também. Mas, como dizem por aí, os cães ladram e caravana passa. O fato é que, escreveu não leu, a gente ouve nas gravações
pops aquela citaçãozinha básica do
jazz em uma frase mais elaborada ou numa harmonizada pouco comum. Havia um grupo nos anos setenta do século passado que eu torci o nariz quando ouvi pela primeira vez (adepto xiita do
hard rock, que eu era): tratava-se do
The crusaders. Depois de algum tempo, rendi-me oa som da banda. Eu tenho alguns discos do grupo, mas gosto especialmente do
Scratch. A união do
funk com elementos jazzísticos, nesse disco especificamente, certamente reduziram minha inicial aversão ao
jazz. A guitarra de
Larry Carlton, o teclado de
Joe Sample (foto)
, o naipe formado por
Wayne Henderson (trombone),
Wilton Felder (tenor, foto), mais
Max Bennett
(baixo) e
Stix Hooper (bateria, foto) promovem uma boa fusão do pop com a linguagem jazzística. Outro fato que considero importante é que o som dessa rapaziada permitiu que uma grande quantidade de jovens músicos se aproximassem do
jazz. Curiosos, eram forçados a buscar a fonte daquele som e acabavam se deparando com
Coltrane,
Wes Montgomery (inúmeros jovens colegas guitarristas ficam boquiabertos quando mostro-lhes algumas gravações),
Monk e pronto: aí não tem mais jeito. A rapaziada fica contaminada pela sonoridade do jazz. Deixarei no meu
gramophone a já clássica versão de
Eleanor Rigby, um dos temas mais populares dos
besouros de Liverpool.
4 comentários:
Cada olhar vê a paisagem de um jeito.
Acho que o movimento da música por si só acaba levando os apreciadores mais apaixonados a buscarem novas expressões. E viva o jazz.
Jimi Hendrix queria tocar jazz, mas morreu antes.
Prezado Lester, essa foi a paisagem que se descortinou ao meu olhar. A estória relatada é bastante pessoal: refiro-me a alguns colegas músicos e não-músicos que em conversas eventuais testemunham a aproximação ao jazz pela via do rock e do funk.
Em tempo: vai ensaiando "No better blues" pra você fazer uma graça na próxima terça.
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