19/07/2006

Os cruzados

Uma visitante pediu que falássemos de algo mais mudernin e como esse blog é povoado por mentes abertas, espíritos livres e membros do movimento anarcojazz, não poderíamos deixar de fazê-lo. Mas começaremos falando de velharias. Sabe-se da influência do jazz sobre as outras formas de expressão musical desde que ele emergiu dos becos sórdidos do norte do novo mundo. Os jovens músicos que nasceram nos anos cinqüenta e levados pela irreverência e passionalidade do rock'n'roll logo descobriram que os seus tios-avós também partilhavam o mesmo espírito, mas com uma linguagem diversa. Não é surpresa, pois, a aproximação advinda. O problema é que isso mexe com o bom e velho fundamentalismo que habita a alma de uma boa parcela das pessoas: o novo, o diferente, enfim, algo que saia, mesmo que levemente, do lugar comum é criticado ferozmente. Parte do povo do rock'n'roll acha ruim e parte dos aprecadores do jazz também. Mas, como dizem por aí, os cães ladram e caravana passa. O fato é que, escreveu não leu, a gente ouve nas gravações pops aquela citaçãozinha básica do jazz em uma frase mais elaborada ou numa harmonizada pouco comum. Havia um grupo nos anos setenta do século passado que eu torci o nariz quando ouvi pela primeira vez (adepto xiita do hard rock, que eu era): tratava-se do The crusaders. Depois de algum tempo, rendi-me oa som da banda. Eu tenho alguns discos do grupo, mas gosto especialmente do Scratch. A união do funk com elementos jazzísticos, nesse disco especificamente, certamente reduziram minha inicial aversão ao jazz. A guitarra de Larry Carlton, o teclado de Joe Sample (foto), o naipe formado por Wayne Henderson (trombone), Wilton Felder (tenor, foto), mais Max Bennett (baixo) e Stix Hooper (bateria, foto) promovem uma boa fusão do pop com a linguagem jazzística. Outro fato que considero importante é que o som dessa rapaziada permitiu que uma grande quantidade de jovens músicos se aproximassem do jazz. Curiosos, eram forçados a buscar a fonte daquele som e acabavam se deparando com Coltrane, Wes Montgomery (inúmeros jovens colegas guitarristas ficam boquiabertos quando mostro-lhes algumas gravações), Monk e pronto: aí não tem mais jeito. A rapaziada fica contaminada pela sonoridade do jazz. Deixarei no meu gramophone a já clássica versão de Eleanor Rigby, um dos temas mais populares dos besouros de Liverpool.

4 comentários:

John Lester disse...

Cada olhar vê a paisagem de um jeito.

Anônimo disse...

Acho que o movimento da música por si só acaba levando os apreciadores mais apaixonados a buscarem novas expressões. E viva o jazz.

Anônimo disse...

Jimi Hendrix queria tocar jazz, mas morreu antes.

Salsa disse...

Prezado Lester, essa foi a paisagem que se descortinou ao meu olhar. A estória relatada é bastante pessoal: refiro-me a alguns colegas músicos e não-músicos que em conversas eventuais testemunham a aproximação ao jazz pela via do rock e do funk.
Em tempo: vai ensaiando "No better blues" pra você fazer uma graça na próxima terça.