18/01/2007

Dia 02/01/07 - A Caminhada De Simão

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O dia 2 de janeiro de 2007 amanheceu mal humorado, nublado e ameaçando chuva. Mas nada que um café com roscas no Starbucks não resolvesse. Nesses dias, o casaco impermeável é essencial para manter o corpo seco numa caminhada de trinta gelados quarteirões, da 42nd St. até a casa de Charlie Parker, na Avenue B, entre a nona e a décima. Durante o agradável percurso, a gente pode dar uma olhada nos edifícios Chrysler e Empire States, além de conferir o fantástico acervo renascentista da Pierpont Morgan Library, instalada num palácio construído em 1902. Descendo mais, chegamos a mais dois prédios famosos, o Flatiron e o Edison.

Seguindo para o leste, em direção ao East River, notamos que, depois da 1st Avenue, vêm as avenidas A, B, C e D, que formam a denominada Alphabet City. Nessa época do ano, anoitece cedo, por volta das 17h. Passando por uma agradável praça, chegamos ao número 151, onde Charlie viveu de 1950 até sua morte, em 1954. Com ele viviam sua namorada, Chan, e sua filha, Kim. Não fosse seu gênio e a heroína, talvez tivesse passado o resto da vida na confortável vida de classe média, comprando boas roupas para Chan, dando bom dia para os vizinhos e passeando no parque com a filha. O próprio Parker confessou certa vez que gostava dali. Logo na entrada, duas placas, uma federal e outra estadual, homenageiam o maior instrumentista do jazz de todos os tempos, criador do jazz moderno, apelidado bebop.

Entre fotografias e contemplação, passaram-se boas duas horas de uma espécie de encontro espiritual com Parker. Com a sensação de dever cumprido, voltei ao hotel, agora de táxi, para um banho ligeiro. Mais tarde será preciso retornar ao Blue Note, dessa vez para ouvir Delfeayo Marsalis, um dos inumeráveis irmãos de Wynton, família dona do legado musical de New Orleans. Eu ainda não sabia, mas durante o show percebi que o trabalho de Delfeayo não se alterou muito desde seu excelente álbum Pontius Pilate’s Decision, de 1992. Mais conhecido como produtor, Delfeayo demorou a gravar seus álbuns por motivos óbvios: ele é irmão de Wynton e Branford, dois dos maiores músicos do jazz tradicional da atualidade.
Dentro do conceito denominado de neo-tradicionalismo, todos três, e cada um a seu modo, têm estudado e retrabalhado as heranças de Armstrong, Eldridge, Parker, Gillespie, Rollins e Cia. E quando você pensa que já conhece a família toda, Delfeayo anuncia que o endiabrado baterista que o acompanha é Jason, Jason Marsalis, o caçula da inexplicável prole de Ellis. Para os amigos navegantes, deixo a faixa Simon’s Journey. Se você gosta de J J Johnson, vai gostar de Delfeayo.

10 comentários:

Anônimo disse...

O cara toca hein!

Salsa disse...

Lester será o nosso cicerone em 2009/2010.

Anônimo disse...

É isso aí, Salsa. Já pensou o clube em peso prestando homenagem reverente ao fantasma de Charlie Parker na casa onde ele morou? Acho que até João Luiz, que não é ou finge que não é muito chegado ao som de Parker, ficaria arrepiado. E, pra você, a pergunta: teria coragem de sacar do coldre o Antenor e sit in com os caras do Birdland?

Anônimo disse...

Que bela caminhada...

Salsa disse...

Prezado Rey,
É claro que eu iria. Nem que fosse apenas para sair na foto. Imagine eu fazendo parte da história do Birdland: "há muitos anos por aqui passou um rapaz que pagou um mico antológico, mas não perdeu o rebolado etc. e tal, mesmo quando arremessaram não só o prato da bateria, mas também os instrumentos de sopro e tudo que estava ao alcance dos músicos participantes da jam"

Salsa disse...

PS - Ficaria parecendo o desenho The three little bops.

Anônimo disse...

Prato jogado por prato jogado, Bird tbm já pagou esse mico.

Salsa disse...

O tempo suficiente para saber que preciso estudar.

Anônimo disse...

gostei do tal de delfeayo! que nome hein!

John Lester disse...

A jornada prossegue incólume!

Vinicius, depois me diz se a nova Radiola Jazzseen tá funcionado.

Valeu, JL.