13/03/2007

È Vero

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Os italianos sempre estiveram, desde o início, profundamente envolvidos com o jazz. Prova disso é o trabalho do controvertido trompetista Nick LaRocca. Nascido em New Orleans mas de origem italiana, Nick já fazia jazz por volta de 1905, aos quinze anos de idade. Apesar de sua tonalidade satisfatória, Nick nunca foi considerado um grande improvisador, embora a noção de improviso, naquela época, seja bastante diferente daquela trazida por Armstrong em 1924/1925. Bem, o fato é que Nick sempre reclamou seu lugar entre os inventores do jazz, assim como o fez Jelly Roll Morton. Quanto a isso, nunca chegaremos à uma conclusão definitiva. O fato é que Nick fundou e liderou a Original Dixieland Jazz Band, primeira banda de jazz a realizar uma gravação (isso foi em 1917). Embora muitos critiquem essas primeiras gravações de jazz – principalmente pelo fato de que a Original Dixieland Jazz Band era toda formada por músicos brancos – ninguém pode negar que Nick causou grande estardalhaço em Chicago, em New York e na Europa, contribuindo de forma significativa para a divulgação do jazz naqueles primeiros tempos. Ok: é quase certo que o lendário trompetista negro Buddy Bolden teria sido, segundo consta em inúmeros depoimentos da época, o verdadeiro inventor do jazz, com sua sonoridade prontamente identificável, sua potência inigualável (seus solos podiam ser ouvidos de uma ponta a outra de New Orleans) e com seus improvisos até então nunca ouvidos nem imaginados. Mas, até onde sabemos, Buddy morreu louco e infelizmente nunca gravou nada.

Outro mestre negro do jazz, atuante na mesma época de Nick, foi o trompetista Freddie Keppard, considerado o herdeiro musical de Bolden. Contam os livros que Freddie teria sido convidado a gravar em 1916 mas, com medo de que outros músicos copiassem suas idéias, recusou a oferta. Diz a lenda que Freddie cobria as válvulas de seu trompete, evitando assim que outros músicos roubassem sua técnica. Resultado: Nick entrou para a história do jazz e Freddie caiu no quase esquecimento, não fossem suas gravações de 1923/24. Mas voltemos à Itália: seja lá como for, o fato é que os italianos sempre estiveram, desde as origens, presentes na configuração do jazz. Muitos críticos radicais os acusam de usurpadores e oportunistas brancos, responsáveis por simples contrafações dessa arte musical originalmente negra. Esse tipo de discussão, acredito, nunca terá um fim no jazz. O que posso dizer, e com certeza, é que na Itália de hoje está se produzindo o melhor post bop que conheço, melhor mesmo do que aquele produzido nos EUA. Trompetistas como Aldo Bassi, Alberto Mandarini, Paolo Freso, Enrico Rava e Pino Minafra, saxofonistas como Carlo Actis Dato, Stefano Di Battista, Eugenio Colombo, Maurizio Giammarco, Mauro Negri, Roberto Ottaviano, Gabriele Mirabassi, Alberto Pinton, Massimo Urbani, Gianluigi Trovesi e Mario Schiano, trombonistas como Giorgio Giovannini, Gianluca Petrella, Giancarlo Schiaffini e Sebi Tramontana, guitarristas como Francesco Barberini, Franco Ceccante, Cláudio Cusmano, Guido Di Leone, Fabio Mariani, Nicola Mingo e Enzo Rocco, pianistas como Stefano Battaglia, Stefano Bollani, Antonio Farao, Luca Flores, Giorgio Gaslini, Enrico Pieranunzi, Umberto Petrin, Guido Manusardi e Walter Gaeta, entre muitos outros, têm produzido um dos melhores jazz da atualidade.


Aqui você encontra sim uma pitada daquele neo-bop da escola de Wynton Marsalis, calcada na rica tradição dos mestres. Mas existe, pelo menos na minha orelha, uma grande diferença: os italianos, talvez por se considerarem menos responsáveis do que os negros pela manutenção dessa arte negra, são muito mais livres e criativos que os neo-tradicionalistas norte-americanos. Não sentem medo de experimentações mais agressivas e não se preocupam muito em estabelecer limites à criatividade. Resultado: sua música soa mais espontânea, mais rica e mais excitante do que aquela produzida pelos sonolentos young lions. Para os amigos navegantes deixo uma faixa do excelente saxofonista italiano Rosario Giuliani, sem dúvida um dos melhores altos do jazz contemporâneo. Se você um dia sonhou em ouvir uma mistura de Charlie Parker com John Coltrane ou de um Eric Dolphy com um Wayne Shorter, acredito que vai apreciar muito o som de Giuliani. É logo ali, no Gramophone Jazzseen.

4 comentários:

Anônimo disse...

Apesar de moderno demais para o meu gosto, o camarada toca muito.

Aproveito para agradecer ao Lester e ao Salsa por nos manter atualizados sobre o que acontece no jazz.

Anônimo disse...

Prezado Augusto Carlos,
De fato, Lester é o garimpador de novos talentos. Comparado com ele, como diria o meu amigo filósofo, sou mais ortodoxo que pinico de esmalte.

Anônimo disse...

PS: O duo baixo e sax foi muito bom.

Roberto Scardua disse...

Excelente o carcamano!