27/06/2007

Francisco Tenório Júnior

Creio que Lester já comentou alguma coisa sobre Tenório Júnior, mas eu gostaria de frisar um pouco mais a obra e o drama desse fenomenal pianista que faleceu nas mãos da repressão ditatorial argentina. Embalo, o seu único disco, é uma obra de destaque que merece ser ouvido de cabo a rabo. O dicionário de Cravo Albin enfatiza: "Em 1964, gravou seu único disco solo, o LP instrumental "Embalo", como pianista e arranjador, registrando, entre outras, a faixa-título, de sua autoria. Ao seu lado, os músicos Sérgio Barroso (baixo), Milton Banana (bateria), Rubens Bassini (congas), Celso Brando (violão), Neco (guitarra), Pedro Paulo e Maurílio (trompete), Edson Maciel e Raul de Souza (trombone), Paulo Moura (sax alto), J. T. Meirelles e Hector Costita (sax tenor). Nessa época, atuou com freqüência nas sessões jazzísticas do Clube de Jazz e Bossa, a convite do crítico Ricardo Cravo Albin, que havia sido seu amigo desde a adolescência, no bairro de Laranjeiras, na Zona Sul do Rio de Janeiro. Enquanto vocês lêem o texto, ouçam Embalo, Nectar e Sambinha.


No site Tortura nunca mais, o verbete do nosso pianista destaca:


Desaparecido desde 1976, quando tinha 35 anos.
Músico que excursionava por Buenos Aires, acompanhando o violonista Toquinho e o poeta Vinícius de Moraes.
Tenorinho, como era conhecido, foi detido na noite de 18 de março de 1976, logo após ter deixado o Hotel Normandie para procurar uma farmácia em busca de medicamentos. Foi tragado pela rede clandestina da repressão oficial sem deixar pistas.
Vinícius de Moraes, Toquinho e mais alguns amigos, como o poeta Ferreira Gullar (exilado em Buenos Aires) mobilizaram-se inutilmente. Procuraram em hospitais e delegacias e buscaram ajuda na embaixada brasileira.
O governo brasileiro, em 1976, informou que nada sabia e o Itamaraty anunciou que "envidava esforços" para localizar o pianista desaparecido.
Em 1986, o ex-torturador argentino Claudio Vallejos, que integrava o Serviço de Informação Naval, em entrevista à revista Senhor (n° 270) menciona o destino de diversos brasileiros nas mãos da ditadura argentina: Sidney Fix Marques dos Santos, Luiz Renato do Lago Faria, Maria Regina Marcondes Pinto de Espinosa, Norma Espíndola, Roberto Rascardo Rodrigues e Francisco Tenório Jr. Em documentos apresentados por Vallejos diz-se:
"Do dia 20 de março de 1976 – quando o Capitão Acosta solicita ao Contra-Almirante Chamorro autorização ‘para estabelecer contato com o agente de ligação, código de guerra 003, letra C, do SNI do Brasil’, para que informasse a central do SNI no Brasil que o grupo de tarefa chefiado por Acosta estava ‘interessado na colaboração para a identificação e informações sobre a pessoa do detido brasileiro Francisco Tenório Jr.’"
Outro documento, em ofício assinado por Acosta é dirigido ao embaixador, em nome do "Chefe da Armada Argentina", e datado de 25 de março de 1976, quando a embaixada brasileira era comunicada sobre o seguinte:
"1) Lamentamos informar a essa representação diplomática o falecimento do cidadão brasileiro Francisco Tenório Júnior, Passaporte n° 197803, de 35 anos, músico de profissão, residente na cidade do Rio de Janeiro;
"2) O mesmo encontrava-se detido à disposição do Poder Executivo Nacional, o que foi oportunamente informado a esta Embaixada;
"3) O cadáver encontra-se à disposição da embaixada na morgue judicial da cidade de Buenos Aires, onde foi remetido para a devida autópsia."
Mesmo a embaixada brasileira tendo sido comunicada do assassinato de Tenorinho, no mesmo mês de março de 1976, o governo brasileiro jamais tomou a iniciativa de se comunicar com os familiares do músico, que não receberam sequer seus restos mortais.

6 comentários:

Anônimo disse...

Resenha sem foto? Não gostei!

Salsa disse...

Meu computador está com tpm. Não consegui fazer o upload da foto. Ouça a música que, com certeza, você fará uma boa imagem de Tenorinho.

Anônimo disse...

Mas no meu pc aparece foto sim

Anônimo disse...

Esses frequentadores do "jazzseen" são deveras engraçados! Ficam preocupando-se com existencia de fotos e outras bobagens, quando o que realmente interessa é o conteúdo do comentário feito pelo articulista , abordando a música e a saga de um dos maiores pianistas brasileiros, que nos deixou precocemente. Músico que inovou com seu toque alegre e inventivo, pianista de muitos recursos técnicos, deu uma contribuição marcante no campo da "bossa-jazz", com repercussão ,inclusive, fora do Brasil. Vamos então procurar conhecer o músico , seu trabalho e apreciar a sua música, sem preocupações com fotos e outras babaquices. É isso.

Anônimo disse...

Ui, que meda!

Anônimo disse...

Tem certos fatos que jamais devem ser esquecidos ou apagados de nossa memória, este é um deles.Eles aprofundam nosso estado de indignação e repúdio as inescrupulosas chantagens da vida.Edú