18/09/2007

Tudo é jazz III - O grande momento


Perguntaram-me sobre a sacola verde que eu portava na foto do post abaixo. Respondo: eu estava com dois pedaços de pedra-sabão (cf. foto). Há vinte sete anos atrás, lá mesmo, nas ruas de Ouro Preto, eu fazia pequenas esculturas de madeira e pedra para vender aos turistas. Deu-me vontade de fazer escultura. E as pedras estão carregando um saxofonista e um baixista - só falta tirar o excesso.
E por falar em saxofonista, encontrei um na porta do teatro. Magro e baixo, carregava o estojo com o sax, não permitindo que ninguém o ajudasse na tarefa. Carregava-o como se carregasse a própria alma. E era justamente isso: o sax é a alma de Joshua Redman. No palco, aquela figura aparentemente frágil mostrou-se um gigante. Pilotando o tenor e o soprano, o jovem saxofonista mostrou porque é um dos maiores instrumentista de jazz desse mundinho cão. Sua performance foi simplesmente arrebatadora, mostrando o mais puro jazz que um músico vivo ainda pode fazer. Para mim, Joshua honrou todos aqueles que dedicaram a vida ao jazz. Foi uma ode lúdico-amorosa como jamais presenciei antes. Não posso deixar de citar o também jovem baixista Matthew Penman, que encarou a dura tarefa de sustentar (mais do que satisfatoriamente, de modo eficaz e virtuoso) a harmonia por onde Redman passeou inconteste. Os patterns mantidos com vigor e precisão pelo baixista fizeram a platéia que lotava o Salão Diamantina se dobrar (aliás, os baixistas foram uma atração à parte do Tudo é jazz) . O baterista, contagiado, mostrou sua versatilidade e o peso de sua mão. Reinaldo, membro combalido e patrono do Clube das Terças, talvez não gostasse, mas ali, ao vivo e a cores, a presença de Gregory Hutchinson foi um elemento fundamental para compor a alegria que reinava. Emocionei-me, pois. De quebra, o também jovem pianista Aaron Goldberg (que merecerá comentário específico) subiu para participar de um tema .
Ao fim, um colega me perguntou: "Aprendeu, Salsa?" E eu respondi: Aprendi, sim. Jazz tem que ser tocado com alegria, como crianças que brincam, despreocupadas (a não ser com a própria diversão), nesse grande jardim que a música pode nos proporcionar. Foi isso que o trio de Redman me ensinou.

12 comentários:

Anônimo disse...

Salsa, estou curtindo muito o relato de suas peripécias turístico-jazzísticas(e o das de Lester também)enquanto ouço, por exemplo, o grupo do sax-barítono Bob Gordon, gravações de 1955 baixadas do e-music.

Não sei quando você volta, mas saiba que não vai haver reunião do Clube das Terças hoje. Dissidentes vão hoje à noite ao café literário do Hotel Majestic, onde Pedro Nunes mediará as arengas de Luiz Guilherme e do também sócio Francisco Grijó.

Quanto a Lester, deve ter recebido e-mail avisando.

Anônimo disse...

Sabotagem!

John Lester disse...

São por essas e outras que votei contra a admissão de Mr. Grijó para sócio-locatário do Clube das Terças. Mal chegou já bagunça nossas reuniões.

E meu voto foi aberto!

Anônimo disse...

Salsa, a única coisa q vc precisa aprender e q " há 27 anos atrás " é pleonasmo vicioso.Joshua Redman e o filho q todo pai gostaria de ter.Tendo ainda mais o pai q teve: o versátil saxofonista de vanguarda Dewey Redman , um dos poucos aliados de Ornette Coleman a ter uma sonoridade própria, não cansativa, não inclinado a reproduzir efeitos automotóres em seu sopro.Garoto prodigío das carteiras escolares, com bacharelado em História pela Universidade de Harvard, abandonou a bolsa de Direito em Yale ao vencer ,em 93, o prêmio Thelonius Monk de saxofone para se dedicar exclusivamente a música.Deixando na rabeira dois titãs do sopro como o "chapa" do Lester , Eric Alexander, e Chris Potter, terceiro colocado.È o sucessor do legado de Branford Marsalis, a dos grandes saxofonistas da última decada.Confirmada em minha opinião nas três apresentações suas q já assistí.E um sujeito de enorme simpátia e carisma, no breve contato q tivemos.Seu primeiro disco, meu predileto, e um primor de equilíbrio ao mesmo de maturidade para um estreante, a epóca com 23 anos.O seguinte,Wish, já vinha com uma constelação de estrelas como Billy Higgins,Charlie Haden e Pat Metheny como grupo de "apoio".Seu trabalho mais recente é uma especie de homenagem, a sua maneira e talento, ao maior saxofonista tenor de Jazz de todos os tempos, Sonny Rollins . Num trabalho de 57 , com Shelly Manne na bateria e Ray Brown no baixo escolheu temas mais "conservadores" da música country pra temperar com seu encorpado e espartano timbre essas melodias com swing.Talvez uma das primeiras ,senão a primeira, experiência em descontruir "standarts".Hoje uma febre epidêmica do jazz.Como saxofonista e presente ao evento, o Salsa teve a sutileza natural e artistíca em emitir sua opinião com sensibilidade.Destaco q pra mim não existe ruído mais abençoado q o das crianças do jardim da infãncia se divertindo num parque de manhã.E música dos deuses como a apresentação do Joshua ,nas palavras do Salsa, parece emitir.Edú

figbatera disse...

E foi logo após a apresentação do Joshua Redman - e ainda "hipnotizados" - que tive a oportunidade de conhecer pessoalmente o Luiz Salsa; no dia seguinte, durante o almoço no rest. "Bené da Flauta" conheci o André (Lester); foi um grande prazer conversar com os editores aqui do "jazzseen" que tem sido a fonte atual do meu aprendizado sobre o jazz.

Anônimo disse...

Lester, chama a polícia q um alter ego seu de nome André se identificou como Editor-Chefe do Jazz Seen em Ouro Preto.Edú

Anônimo disse...

Um vício socialmente aceito, pois não?

Alex W. Levine disse...

Hola John, te puedo recomendar los siguientes sitios:

http://www.theloniouschile.com/
http://www.miles.cl/
http://www.clubdejazz.cl/
http://www.elperseguidor.cl/

Esos son los sitios web de los mejores y más conocidos sitios para escuchar jazz en Santiago, ahí encontrarás más información sobre los músicos que se presentan y su ubicación. Además hace un tiempo, escribí en mi blog sobre algunos sitios, te invito a revisarlo:

http://simplementejazz.blogspot.com/2006/03/donde-cuando-y-como.html

Saludos y suerte en tu visita a nuestro país,
Alex Levine.-

Anônimo disse...

vc sr salsa vendia artesanato na rua em ouro preto? era hippie?

vinicius

Cinéfilo disse...

Caríssimo Luiz Romero, vem das ladeiras de Ouro Preto tua paixão por Tomás Antonio?
A paisagem bucólica, o aurea mediocritas, o carpe diem, a vidinha pacata? Tiradentes entregando Deus e o mundo na hora da morte, incluindo Pe. Toledo?
Andavas pelas ladeiras acompanhado de fantasmas árcades?

Anônimo disse...

Caro Gril,
O que eu acho interessante em Tomás (xará do meu filho) é a capacidade de, em suas alegorias, falar apaixonadamente da paixão. Sob o cenário bucólico e a pretensa aurea mediocritas há um turbilhão de volúpia, vício e sexo selvagem. Ninguém imagina que aquele casario antigo, campos com riachos cristalinos e ovelhinhas saltitantes seria capaz de guardar tanta esbórnia.

Anônimo disse...

queria ter visto o show...

vinicius