Antes de voltarmos a falar do jazz no Chile, precisamos apresentar aquilo que vamos denominar de ‘segunda fase’ de Stan Getz. Já sabemos que, entre 1943 e 1949, Getz passou por um importante período de aprendizagem com alguns dos mestres do swing: aos 16 anos toca com Jack Teagarden. Em seguida, com Stan Kenton, Jimmy Dorsey e Benny Goodman. Finalmente, parte para a banda de Woody Herman, com a qual produz duas importantes gravações: Four Brothers e Early Autumn. Considerado por muitos como um ótimo imitador de Lester Young, Getz percebe que, nesse dúbio elogio, encontrava-se também uma espécie de crítica mordaz em relação à sua capacidade inventiva e à sua personalidade própria. Disposto a mostrar que era capaz de vencer limitações e construir um estilo próprio, dotado de uma sonoridade personalíssima, parte em direção a um projeto que, mais tarde, lhe valeria a alcunha de The Sound, por ter estabelecido o som mais bonito que muitos já puderam ouvir de um sax tenor. A segunda fase de Getz, então, constitui-se do estudo, domínio e manuseio do bebop, o mais novo idioma negro produzido na costa leste.
A linguagem complexa desse novo estilo estava sendo definida por gente como Dizzy Gillespie e Charlie Parker, entre outros, como Kenny Clarke e Thelonious Monk, dois estilistas autônomos do movimento. O requisito básico da aventura bop era o virtuosismo, coisa que Getz detinha e outros não, como, por exemplo, Miles Davis. Depois de levar surras homéricas de Gillespie e Parker, Miles afundou-se na heroína e inventou o tal de jazz modal, um sistema onde até mesmo uma velhinha desdentada de 90 anos é capaz de improvisar horas a fio. Getz, ao contrário, encarou o desafio com os peso-pesados do bop, destilando frases complexas e velozes através de uma sonoridade etérea, sedutora e ímpar, imediatamente reconhecível. Em termos de gravações, podemos dizer que essa ‘segunda fase’ de Getz vai de 1949 – quando grava o excelente Stan Getz Quartets – até 1956, quando grava o emblemático álbum For Musicians Only, com Sonny Stitt (as), Dizzy Gillespie (t), Herb Ellis (g), John Lewis (p) e Ray Brown (b). Em breve, retornaremos a Getz com nova resenha. Por enquanto, deixo para os amigos a faixa Bebop do álbum For Musicians Only. Boa audição!
Bebop.mp3 |
15 comentários:
Beleza!
Ufa! Fiquei até sem fôlego...
ps: faltou o nome do batera.
Depois de ver Cuba lançar mais um sucesso, retorno ao Brasil para dar continuidade à turnê slim&light, no balacobaco.
Esse disco é excelente.
Olney, o batera é Stan Levey, um mestre do west coast.
Ma-ra-vi-lha! Obrigada!
eu tenho esse
Amigos do jazzseen, vocês perderam um grande momento na terça do Balacobaco. Confiram o post no mpbjazz.blogspot.com. Tem uma foto de alguns membros do clube das terças que passaram por lá.
"Miles afundou-se na heroína e inventou o tal de jazz modal, um sistema onde até mesmo uma velhinha desdentada de 90 anos é capaz de improvisar horas a fio"
hahaha...estimado colega, não é bem assim:
1º - quem inventou o Jazz Modal não foi Miles, mas o grande George Russel...o Miles só colocou em evidenciou o sistema
2º - a velhinha só improvisaria por horas a fio se ela tivesse criatividade e conhecimento para criar as variadas tensões harmônicas, já que o sistema modal ampliou exponencialmente as possibilidades harmônicas...
3º - O Stan Getz podia ser um ótimo dublê de Lester Young, mas não vamos endeusá-lo tanto quanto ao bebop, já que o próprio Sonny Stitt assustava até mesmo o Charlie Parker quando tocava o estilo ao sax tenor. E tem outros mais velozes e mais fascinantes no bebop: Sonny Rollins e, principalmente, Harold Land, o qual é um tanto esquecido...
mas, mais uma vez obrigado pelo post ! ótima dica !
Realmente a Jam no Balacobaco foi do "bórógódó". Muito bom mesmo.
Abraços
The Drumma!
Quem foi se deu bem. Quem não foi "si finou-se". A jam do Balacobaco, na última terça(23/10) estava demais. Salsa e Quarteto como sempre mais os Irmãos Castro(trombone e sax tenor), Bruno e Marcos Firmino (trumpetes). Um "somzão" de primeira. E, a maioria dos sócios"babacas"do clube das terças-feiras não estavam presentes. Enfiaram o rabinho entre as pernas e foram p'ra casa ficar sob o jugo da chibata das suas caras-metades. Eu, Arcemir e Fernando marcamos presença. Viva a LIBERDADE, viva o JAZZ !
Irmãos Rocha, João.
Prezados amigos, bom dia! Infelizmente Maria Clementina, minha noiva, não me concedeu licença para ouvir Mr. Salsa. Fiquei vendo novela...
Mas nem tudo é tristeza. Mr. Pitta, nosso mais novo visitante, mostra que tem feito a lição de casa. Já sabe até que George Russell utilizou o 'approach' modal em suas composições, em especial na sua Cubano Be, Cubano Bop, interpretada por Dizzy Gillespie em 1947 (veja, por exemplo, a lição de John Szwed em seu Jazz 101, pag. 167). Tenho certeza que Mr. Pitta trocará o buscador Google e partirá para leituras sérias. Recomendo consultar a obra Understanding Jazz, de Tom Piazza, pag. 128, onde aprenderá que Jelly Roll Morton já se utilizava do approach modal desde 1927, em sua célebre composição Jungle Blues. E não deixe de ouvir também, prezado Mr. Pitta, a belíssima faixa Love Chant, do álbum Pithecanthropus Erectus, gravado em 1957 por Charles Mingus.
Parta, então, esforçado amigo, para duas novas obras: Jazz, A History, de Frank Tirro, onde na página 17-18 verificamos que a modalidade já era encontrada nos cantos religiosos negros desde 1926. Mas nada substituirá, caro amigo, a leitura do didático Jazz Styles: history and analysis, de Mark Gridley. Nele, e em todas as demais obras citadas, verificamos que Milestones, e sobretudo Kind of Blue, ambos de Miles, são tidos como referências absolutas da abordagem modal no jazz.
E a tal velhinha desdentada está lá, prezado Pitta, tocando lado a lado com Miles, o maior gênio do jazz cujo único defeito era não saber tocar trompete.
Grande abraço e parabéns pelo comentário. Ganhou nota 7,5.
JL.
Lester,
Até que ponto esse pessoal tocou modal intencionalmente? Os lídios, os frígios e os dórios, antes de cristo, tocavam apenas o que conheciam como música. Se a gente procurar, encontra "modal" até nos caipiras. Quanto ao Miles, apesar de não ser "o" instrumentista, está milhas de "não saber tocar". Deixa de ser implicante, rapá.
Desculpem-me irmãos Rocha por ter trocado seus sobrenomes. Valeu Salsa.
Prezado Mr. Salsa, quem implica com minhas resenhas é você. Basta realizar um histórico no Jazzseen.
Quanto a mim, quando concordo com as suas, presto meu elogio. Quando discordo, calo.
Temperamento talvez.
Grande abraço, JL.
Postar um comentário