Charles Mingus não era apenas um homem imenso e descontrolado que surrava seus músicos quando erravam alguma nota (são clássicos os cascudos que deu em seu trombonista Jimmy Knepper). Ele também tinha um lado inegavelmente doce: não há sequer um registro policial de que tenha disparado sua arma, que levava na cintura em suas apresentações ao vivo, em algum ouvinte mais falador. É aquela coisa: todos queremos nos sentir protegidos, principalmente quando temos apenas 1,90m e 100kg. Além de sua gentileza, muito além, estava sua profunda e dilacerante ironia, não a ironia de um petista que conserta sua mesa de sinuca com um cartão funcional, mas a ironia rascante do gênio irrequieto. Em seu álbum Tijuana Moods, gravado no estúdio A da RCA de New York, entre 18 de julho e 6 de agosto de 1957, com Ysabel Morel (v); Lonnie Felder (fala); Shafi Hadi (as, ts); Clarence Shaw (t); Jimmy Knepper (tb); Bill Triglia (p) e Dannie Richmond (d), Mingus presta sua ‘homenagem’ aos cucarachos. Na terceira faixa do álbum, Tijuana Gift Shop, Mingus primeiro zomba afrontosamente com meia dúzia de lugares-comuns do latin jazz para, em seguida, misturá-los de forma assustadoramente criativa, produzindo, quem diria, jazz.
Foram raríssimos os músicos de jazz que se deram ao trabalho de manipular o material latino disponível de forma tão autêntica, criativa e convincente. Acredito que Mingus foi o músico do jazz que melhor soube dosar essa influência caribenha que sempre rondou o mundo do jazz e, apesar de despudoradamente explícitas as citações latinas, ao final todas soavam discretamente articuladas ao contexto jazzístico. Com incrível habilidade e talento, Charles exige de nós atenção aos detalhes e, sobretudo, senso de humor quando ouvimos a maioria de seus álbuns, sob pena de pensarmos estar ouvindo apenas mais um disco de jazz. Sua habilidade com a utilização do blues foi idêntica, mas fica para uma próxima resenha. Só é preciso registrar que, nesse álbum, Mingus põe Frank Dunlop, um dos melhores bateristas da época, tocando castanholas. Pode?
Foram raríssimos os músicos de jazz que se deram ao trabalho de manipular o material latino disponível de forma tão autêntica, criativa e convincente. Acredito que Mingus foi o músico do jazz que melhor soube dosar essa influência caribenha que sempre rondou o mundo do jazz e, apesar de despudoradamente explícitas as citações latinas, ao final todas soavam discretamente articuladas ao contexto jazzístico. Com incrível habilidade e talento, Charles exige de nós atenção aos detalhes e, sobretudo, senso de humor quando ouvimos a maioria de seus álbuns, sob pena de pensarmos estar ouvindo apenas mais um disco de jazz. Sua habilidade com a utilização do blues foi idêntica, mas fica para uma próxima resenha. Só é preciso registrar que, nesse álbum, Mingus põe Frank Dunlop, um dos melhores bateristas da época, tocando castanholas. Pode?
16 comentários:
pô, eu ia comprar, mas tiraram meu cartão funcional...
Tenho isso, com outra capa, naturalmente.
Não gosto muito, mas, claro, é disco para cortinas abertas.
Garibaldi regozijar-se-á.
E está aprovadíssima a capmpanha tabagista do Jazzseen.
Faixa dentro do contexto, mas chatinha de doer.
Essa é a capa original do LP,inclusive com o selo de 180 gramas padrão,peso de excelência do vinil.Tenho uma relação com Mingus próxima a que JL tem com Duke Ellington,Bill Evans,Art Tatum e , soube agora, Errol Garner.Edú
dispenso a castanhola
Texto divertido. Lembra a estória da Carla Bley procurando Paolo Fresu. Ela foi parar num clube boliviano onde tocava um grupo mariachi. Mariachis, insetos e bananas permeiam o périplo da maluquinha e seus comparsas.
Mingus é um alquimista que também sabia fabricar músicos. Ouvi recentemente o trombonista citado numa sessão com Benny Wallace. Seus solos me soaram bastante out.
Melhor ficar em silêncio...
Estou "boquiaberta" com o site. Não o conhecia.
Parabéns!
Raquel
Estou boquiaberto é com tanta porcariada que o sr. Lester coloca no "site". Mingus, embora excelente contrabaixista, fazia músicas complexas, de dificil assimilação. Com castanholas, nem Garibaldi aguenta!
Lester: Esse � um dos mais emblem�ticos discos do Mingus resultado de altas, e profundas, viagens ao M�xico, juntamente com o Richmond. � um Mingus indispens�vel.
É já a 2ª vez que escuto hoje. Mesmo a faixa das castonholas é muito boa. Quer dizer que o Knepper era movido a cascudo? Bem, teve um monte de gente boa que morreu preferindo fazer a cabeça de outras formas...
esse é dos melhores !!
um disco completo
tive em vinil, duplo
em CD não tem a faixa alternate da Ysabels Table Dance, o ponto alto do disco - uma pena, não entendi porquê tiraram essa faixa do cd
um disco obrigatório
mandou bem Mr.Lester
mais ...
Dannie Richmond não era baterista, ele pegou a bateria pra "quebrar um galho" e acabou ficando
um disco cheio de histórias, como o próprio Mingus relata
mulheres, drogas, tequila e tudo "do mal" cercaram o desenvolvimento desta obra-prima
Prezados Rogério, Sérgio e Guzz, bom ver vocês por aqui.
Rogério, sentimos sua falta ontem, no Clube das Terças. O Marcelo Bambam esteve por lá, contando sobre os pequenos e excelentes festivais de jazz na Itália, onde esteve recentemente.
E, Guzz, estamos aguardando sua apuração dos dez da ilha deserta.
Grande abraço, JL.
O cd duplo, com os "alternate takes", foi lançado em 2001.Acho que mais por oportunismo comercial do que por importância.Edú
Tenho ao menos 5 álbuns de Mingus que me apetecem mais. De qualquer modo, Mingus é Mingus, Mingus, Mingus, Mingus, Mingus, Mingus.
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