Não, eu não estou postando hoje para as mulheres só porque é o dia internacional da mulher. Por mim, se eu controlasse o tempo, todos os dias, tardes e noites de lua cheia seriam delas. É como já escreveu um amigo: “Entre as altas rochas vermelhas que mais parecem dragões, ondula a terra rasgada pela mão do homem: a região dos diamantes exala um pó de fogo que avermelha as paredes da cidade do Tijuco. Perto corre um arroio e longe se estendem as montanhas cor de mar ou de cinza. Do leito e dos rincões do arroio saem os diamantes que atravessam as montanhas, navegam do Rio de Janeiro a Lisboa e de Lisboa a Londres, onde são lapidados e multiplicam seu preço várias vezes para depois dar brilho ao mundo inteiro. Muito diamante escapa de contrabando. Jazem sem sepultura, carniça para urubu, os mineiros clandestinos que foram apanhados, mesmo que o corpo de delito tenha o tamanho do olho de uma pulga; e ao escravo suspeito de engolir o que não deve aplicam violento purgante de pimenta brava. Todo diamante pertence ao rei de Portugal e a João Fernandes de Oliveira, que aqui reina contratado pelo rei. Ao seu lado, Xica da Silva também se chama Xica que Manda. Ela é mulata, mas usa roupas européias proibidas para quem tem pele escura e faz alarde indo à missa de liteira, acompanhada por um cortejo de negras enfeitadas como princesas; e, no templo, ocupa o lugar principal. Não há nobre dessas bandas que não baixe o cangaço frente à sua mão cheia de anéis de ouro, e não há quem recuse seus convites para a mansão da serra. Lá, Xica da Silva oferece banquetes e funções de teatro, a estréia de Os encantos de Medéia ou qualquer outra peça da moda, e depois leva os convidados para navegar pelo lago que Oliveira mandou cavar para ela porque ela queria mar e mar não havia. Chega-se ao cais por escadarias douradas, e passeia-se num grande navio tripulado por dez marinheiros. Xica da Silva usa peruca de cachos brancos. Os cachos cobrem a testa e ocultam a marca feita a ferro, quando ela era escrava.”
Sim, Eduardo Galeano, autor do conhecidíssimo Veias Abertas da América Latina, também acha que todo dia é dia das mulheres. Por isso escreveu muito sobre elas, e escreveu com carinho, respeito, fidedignidade e paixão. Escreveu tanto que a editora L&PM reuniu num livro fino com letras grandes alguns de seus mais interessantes textos, selecionados por ele mesmo, sobre as mulheres. O título não poderia ser mais bonito: Mulheres. Na contracapa algum bobo diz que o livro traz textos sobre as mulheres da América Latina. Não é verdade. Galeano escreve sobre, por exemplo, Bessie Smith, a maior cantora de blues clássico de todos os tempos e que, salvo prova em contrário, era muito norte-americana. Mas talvez nada disso importe diante da beleza dos textos e da homenagem.
Para os amigos e amigas entregamos a faixa Devil’s Heart , com a pianista coreana Min Rager e seu quinteto. A faixa é de seu disco de estréia, Bright Road, lançado em 2005 pela Effendi, contando com Kevin Dean (t), Donny Kennedy (as), Alec Walkington (b) e Andre White (d), seu professor na McGill University, no Canada, país para onde se mudou em 1997, após tocar algum tempo em clubes de jazz coreanos. Mais informações sobre a menina aqui. E se alguma leitora curiosa quiser saber, afinal vocês vêem tudo, a pintura da capa é um detalhe do quadro Ochún vive en el río, do pintor cubano Manuel Mendive.
Sim, Eduardo Galeano, autor do conhecidíssimo Veias Abertas da América Latina, também acha que todo dia é dia das mulheres. Por isso escreveu muito sobre elas, e escreveu com carinho, respeito, fidedignidade e paixão. Escreveu tanto que a editora L&PM reuniu num livro fino com letras grandes alguns de seus mais interessantes textos, selecionados por ele mesmo, sobre as mulheres. O título não poderia ser mais bonito: Mulheres. Na contracapa algum bobo diz que o livro traz textos sobre as mulheres da América Latina. Não é verdade. Galeano escreve sobre, por exemplo, Bessie Smith, a maior cantora de blues clássico de todos os tempos e que, salvo prova em contrário, era muito norte-americana. Mas talvez nada disso importe diante da beleza dos textos e da homenagem.
Para os amigos e amigas entregamos a faixa Devil’s Heart , com a pianista coreana Min Rager e seu quinteto. A faixa é de seu disco de estréia, Bright Road, lançado em 2005 pela Effendi, contando com Kevin Dean (t), Donny Kennedy (as), Alec Walkington (b) e Andre White (d), seu professor na McGill University, no Canada, país para onde se mudou em 1997, após tocar algum tempo em clubes de jazz coreanos. Mais informações sobre a menina aqui. E se alguma leitora curiosa quiser saber, afinal vocês vêem tudo, a pintura da capa é um detalhe do quadro Ochún vive en el río, do pintor cubano Manuel Mendive.
12 comentários:
Ninguém vive sem, em minha opinião : a excelente literatura,a grande música - necessariamente, o jazz, na maioria das vezes - e a cumplicidade e carinho da mulher amada.
Nesse post faço questão de não ser apenas olhos e ouvidos aqui - tbm serei mulher. rs
Gostei do texto, adoro Galeano e estou curtindo a Min. Ah, e claro, não tinha deixado de ver a pintura do quadro, mas não imaginava que vc falaria dela no final.
Então, resumindo, esse post foi um deleite do começo ao fim. Eu agradeço! :)
Por essas e outras é tão bom ser mulher
delicia
Elas merecem!
Devil's heart
She got
it
Linda sua homenagem. Beijos.
Não gostei muito da música, mas adorei o texto.
Um homem pode viver sem ter contato com as mulheres de Bukowski; quanto às de Galeano, não. Amante das mulheres, do futebol e do bem-escrever, Galeano tem cadeira de honra na América Latina, com ou sem veias abertas.
Ao jazz, às mulheres e à prosa de Galeano, o brinde. Três, na verdade.
Valeu, JL.
JL, consulta a cx q preciso de uma informação importante de sua parte.Abraço.
um brinde ao seu bom gosto!
beijo
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