Certamente não é um livro de escrita primorosa e sequenciada: truncado, com várias passagens repetidas e bastante superficial em alguns pontos, o pequeno livro O Ragtime e os caminhos do jazz, escrito pelo pianista mineiro Caio Vono, não constitui modelo de estilo, apresentando uma série de fragilidades quanto à estrutura crítica. Não. O principal valor da obra de Caio Vono, publicado em 1989 pela MusiMed, reside na paixão que o autor nutre pelo jazz, paixão despertada aos treze anos, quando recebe seu primeiro disco de ragtime de presente de aniversário, e manifestada ao longo do texto. Em sua melhor parte, o livro traz experiências vividas pelo próprio autor, seja como protagonista, seja como coadjuvante. São bastante interessantes suas atuações como pianista de ragtime, inclusive no Mistura Fina de Brasília, suas viagens pelos EUA e seus encontros com músicos e personalidades do jazz, como Johnny Maddox e Don Marquis. Vale destacar certas curiosodades trazidas por Caio, como suas primeiras aulas de piano - pagas com a renda proveniente da venda de garrafas e jornais velhos - ou quando testemunhou a entrevista concedida por Al Hirt à imprensa de New Orleans, em que, vejam só, o trompetista protestava contra a pornografia que se disseminava pelo French Quarter. Os caminhos do jazz propriamente ditos não são percorridos por Caio com passos firmes, salvo algumas poucas e confusas páginas dedicadas aos estilos New Orleans e Dixieland e breves parágrafos que tratam sobre os demais estilos do jazz - ao free jazz Caio dedica generosos três parágrafos - e de algumas breves anotações acerca de instrumentos e amigos músicos. A maior parte do texto é voltada mesmo para o ragtime, com ênfase para o trabalho de Johnny Maddox, mais conhecido como Crazy Otto, pianista responsável pelo ressurgimento do estilo na década de 1950 e que não deve ser confundido com o pianista alemão Fritz Schulz-Reichel, conhecido entre nós como Pau DÁgua ou Der Schräge Otto. Para os amigos fica a faixa The Crazy Otto Medley , gravada em 1955 por Johnny Maddox e The Rhythmasters. Uma obra que, apesar de tudo, pode ser indicada aos amantes incondicionais do rag, ressaltando seu caráter elementar e meramente subsidiário ao estudo do jazz.
8 comentários:
E aí, vai rolar aquele uísque de dezoito aninhos?
Nosso prezado Lester anda nos prometendo uma aguardado livro, de sua lavra, há três anos.Qual a situação dos manuscritos?
Mr. Lester,
Por favor, agora que soube, pelo Edú, que temos um livro na forma, dê-nos esse presente!!!
Tenho certeza de que será muito bem escrito, com um grande volume de informações, bom humor e respeito à inteligência dos leitores.
Abração!
rag nocivo
Prezado Salsa, você sabe melhor do que ninguém que, depois dos 40 só rola com mais de 21 aninhos.
E, amigo Edù, estou tentando preparar uma enciclopédia do jazz, com jeito de guia, o mais completo possível, de modo a lançar no mercado nacional o melhor produto disponível em português. Creio que se você e Mr. Cordeiro pudessem colaborar, o projeto tomaria forma mais rapidamente. Fica o convite, ok?
Grande abraço, JL.
Mr. Lester, você tá brincando, né?
O Edú é um conhecedor profundo do jazz, eu sou apenas um diletante que gosta de compartilhar com os amigos a paixão pela música.
Não jogo nem no juvenil, aliás, nem no dente-de-leite...
De qualquer forma, louvo a sua iniciativa e o que esse modesto escriba puder fazer para ajudar, estou às ordens.
Podemos aprofundar essa idéia. Meu e-mail é:
ericorenatoserra@gmail.com
Abração.
Fico na expectativa...tomara que não demore muito!
Livros sobre jazz são como discursos sobre artes plásticas, argh!
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