
Como não agradecer a Mr. Lester? Com generosas mochilas às costas e todas as articulações perfuradas por mosquitos indomáveis, chegamos finalmente ao cume mais alto dos
Pontões Capixabas, recanto considerado por Burle Marx como uma das mais lindas manifestações aleatórias da natureza. Sim, há dezenas de pequenos e médios ‘pães-de-açúcar’ espalhados a esmo ao longo de um belo descampado recortado pelas águas do Rio Pancas, um dos afluentes do Rio Doce, nas imediações do município de Colatina. Enquanto acariciava as reticentes bolhas adquiridas durante a colossal caminhada, ouvi Lester comentar: “foi aqui, disse saudoso, que Burle Marx descobriu a bela e curiosa Merianthera burle-marxii, um arbusto atarracado dotado de flores violetas, pertencente à família das Melastomataceae (bocas-negras), a mesma das Quaresmeiras.” Retirando de sua mochila o clarinete, Lester inicia solene uma emocionante interpretação de Ave Maria em ritmo de samba. Uma homenagem, segundo ele, a essa obra de arte natural esquecida por Deus e maltratada pelo homem. Em 2002, a área foi transformada em Parque Nacional e, recentemente, em Monumento Natural, permitindo, assim, a manutenção dos moradores na bela região, hoje palco cafeicultor. Todas estas deliciosas e tristes recordações vieram fáceis enquanto eu ouvia o álbum
Worldbeat Bach, do clarinetista Richard Stoltzman, gravado em 1999 e que apresenta uma série de composições do barroco alemão em ritmo de jazz, samba e bossa nova. Além do domínio técnico exigido pelo rigoroso repertório clássico, que domina tranquilamente, Richard possui aquela rara sensibilidade do improvisador, que lhe permite frequentar o ambiente do swing ou do choro, graça concedida apenas a alguns poucos eleitos. Para os amigos fica a faixa Ave Maria
10 comentários:
Prezado Mr. Serralho, caminhante amigo, obrigado pela recordação em forma de resenha.
É como eu sempre disse: samba também é jazz.
Grande abraço, JL.
Caro Mr. Serralho,
Ao ler essa bela resenha, quase pude sentir as incômodas picadas dos indóceis mosquitos que povoam os Pontões Capixabas.
A descrição do roteiro deixou-me sem fôlego, como se tivesse eu mesmo acompanhado os destemidos viajantes.
Viajante, aliás, é a palavra adequada para definir o som de Mr. Stoltzman.
De uma forma semelhante, à sua própria maneira, o talentoso Seteve Kuhn também andou dando uma boa swingada no repertório clássico, interpretando fabulosamente peças de Mozart e Tchaikovsky, no excelente Pavane For a Dead Princess.
Abraço fraterno!
Alguns músicos eruditos gostam de tocar jazz, nos horários livres, para se divertir.Alguns deles nos divertem mais.Outros, nem tanto.Mas como me disse um professor da disciplina de instrumentos de sopro do Conservatório Musical de Tatuí : é humanamente impossível e racional servir a dois deuses.
Pouco passa das seis. Hora da ave maria. Sempre me emociono ao ouvi-la, mas dispensaria a batucada.
Quanto às formações rochosas do ES, o destino está traçado: paredes e pisos da europa e da américa do norte. De quebra, os 'córgos' da região estão sendo assoreados e envenenados pelo pó que sobra do polimento das rochas. As empresas encarregadas da extração estão se lixando.
Caros amigos virtuais Érico, Edú e Salsa, obrigado pelas palavras de retorno, sempre gentis e informativas. Só fiquei triste ao saber que o mármore de Carrara é daqui. Agradeço também a Lester, sempre generoso e paciente com esse pobre escriba.
Quanta beleza!
Nunca tinha visto fotos dessa região capixaba, que maravilha! E a música...linda em qualquer rítmo!
Parabéns, Mr.Serralho!
Post muito interessante e esclarecedor.Musica nem tanto ,mas valeu conhecer.
Abraço
Obrigado Internauta e André pelos comentários. Abraços!
Como comentou o sr.Edú, "servir a dois deuses é humanamente impossível e racional". Mr.Lester: samba não é jazz não, preste atenção! Ao sr. Serralho: "dormis cvm bispus".Amem!
Grande bobagem essa coisa de 'impossível servir a dois deuses ao mesmo tempo'. Poderia citar uma dúzia de músicos capazes de transitar bem tanto no jazz quanto no clássico, mas não vem ao caso.
É isso aí Tobias, valeu!
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