31/10/2009

Elas também tocam jazz: Melba Liston

Melba Liston, trombonista e arrajandora do Bebop e do Hard Bop, nasceu em Kansas City, Missouri, no dia 13 de janeiro de 1926. Aos 11 anos, muda-se com a família para Los Angeles, onde participa de uma banda de jovens, antes de iniciar sua carreira profissional como trombonista na orquestra de poço do Lincoln Theatre, aos 16 anos. Em 1943, passa a integrar a orquestra de Gerald Wilson e, sob seu incentivo, começa a escrever arranjos. Nesse período, grava como sidewoman duas faixas, Mischievous Lady e Lullaby in Rhythm, com Dexter Gordon, seu antigo colega de escola. As duas faixas fazem parte do álbum Complete Savoy and Dial Master Takes, de Gordon, e representam alguns dos melhores e raros momentos de Melba como solista competente, sobretudo nas baladas. Em 1948, quando Wilson desfaz sua banda, Melba aceita o convite para trabalhar com Dizzy Gillespie. No ano seguinte, sai em desastrosa turnê com Billie Holiday. Cansada com a vida nas estradas e desiludida com a indiferença do público, resolve colocar o jazz em segundo plano. Trabalhando como administradora escolar, toca eventualmente em alguns clubes e faz alguma renda extra participando de filmes, entre eles The Prodigal e The Ten Commandments. Em 1956 e 1957, retorna ao jazz, integrando a banda de Dizzy Gillespie que, sob os auspícios do Departamento de Estado Norte-Americano, parte em turnês pelo Oriente Médio, Ásia e América do Sul. Em 1959, vai à Europa, onde apresenta o show Free and Easy, sob a direção de Quincy Jones. Na década de 1960, Melba inicia uma longa e produtiva colaboração com Randy Weston, onde estabelece definitivamente sua grande capacidade como arranjadora, embora ignorada pelo grande público e até mesmo por boa parcela dos músicos. Nesse mesmo período, trabalharia ainda para Duke Ellington, Solomon Burke, Tony Bennett e Johnny Griffin. Na década seguinte, Melba dedica-se ao ensino, permanecendo seis anos na Jamaica, onde dirige a Escola de Música daquele país. Isso não impede que continue escrevendo para artistas importantes, como Count Basie, Abbey Lincoln e Diana Ross. No final da década de 1970, retorna aos EUA como a atração principal do primeiro Kansas City Women’s Jazz Festival, onde lidera uma formidável orquestra formada exclusivamente por mulheres. Com o passar dos anos, a banda recebe alguns componentes masculinos, o que não invalida o trabalho desenvolvido por Melba até 1985, quando sofre um derrame que a leva à cadeira-de-rodas. Nem por isso Melba desiste de trabalhar, passando a escrever seus arranjos com o auxílio do computador, até sua morte, em 23 de abril de 1999. Para os amigos, deixo a faixa Melba Blues e alguma sugestão discográfica.
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Melba Liston and Her 'Bones - 1958 - Fresh Sound FRS-CD 408 - Aqui estão as provas de que o jazz não era menos machista que qualquer outra atividade humana nas décadas de 1940 a 1960. Em apenas um cd estão todas as faixas gravadas por Melba Liston como líder. Foram apenas três sessões, uma em junho de 1956 e duas em dezembro de 1958, todas em New York. Com ela estão Frank Rehak, Bennie Green, Al Grey, Benny Powell, Jimmy Cleveland (tb), Slide Hampton (tb, tba), Marty Flax (bs), Kenny Burrell (g), Walter Davis Jr, Ray Bryant (p), Nelson Boyd, George Tucker, George Joyner (b), Charlie Persip, Frank Dunlop (d).

15 comentários:

Érico Cordeiro disse...

Mr. Bravante,
O arqueólogo do jazzseen, sempre a lançar luzes sobre os períodos de ouro do jazz.
Um historiador de grande sensibilidade e conhecimento, cujos estudos muito bem fundamentados são fonte digna e segura de pesquisa e deleite - deu vontade de comprar o cd!!!
Abração!

thiago disse...

'bone sinistro

Salsa disse...

Grande Lester,
A menina sabe pilotar o trombone. Mas a pin up ao lado...

APÓSTOLO disse...

Prezado BRAVANTE:
Adicione-se que tivemos o prazer de ter a grande MELBA LISTON entre nós de 07 até 12/agosto/1956, integrando a banda de Dizzy Gillespie e como parte da temporada perfeitamente citada em sua resenha.
No dia 07/agosto ocorreu recepção no Clube dos Seguradores e Banqueiros do Rio de Janeiro, pelo Adido Cultural da Embaixada dos U.S.A. (bons tempos em que JAZZ era recepcionado como cultura).
No mesmo dia 07 e no seguinte 08 de agosto, apresentações da Orquestra de Dizzy Gillespie na TV Tupí.
Nos dias 08, 09, 10,11 e 12/agosto, apresentações no Teatro República, sempre Rio de Janeiro.
No dia 12 de agosto encerramento da temporada no Brasil com apresentação no Country Club RJ.
Como é bom apreciar seu resgate de valores que tanto contribuiram para a ARTE POPULAR MAIOR ! ! !

edú disse...

Melba Liston foi cúmplice musical e principalmente afetiva de Randy Weston até o final dos seus dias.Randy foi o companheiro, marido e parceiro de todas as horas da música.Nessa excursão da orquestra de Dizzy patrocinada pelo Departamento de Estado, segundo o relato do pianista Moacyr Peixoto, se tinha na passagem pelo Rio de Janeiro um despretensioso Quincy Jones tocando trompete e o pianista Walter Bishop Jr.Caro JL, confira quando der que enviei uma sugestão.Abraço.

Frederico Bravante disse...

Prezados amigos, como é bom ler seus comentários.

Há algo de vital nos depoimentos de Mestre Apóstolo, como que denunciando ter sido ele uma testemunha ocular e auditiva dos fatos. E que fatos!

Pela direita, deixando dois zagueiros no chão com seu drible, temos Mestre Edù. Pela esquerda, nosso querido Machado de Assis do Jazz, Mr. Cordeiro, proprietário de um dos poucos blogs que me dão mais prazer que o Jazzseen.

Sozinho na banheira, um cansado Mestre Salsa, nosso Romário do Jazz. Não que o cansaço seja injustificado: foram muitos os barris de vinho sorvidos durante seu espirituoso show no Spirito Jazz. Só faltou a von Teese capixaba para temperar a noite boa.

E que blog sobreviveria sem os incisivos comentários de Mestre Thiago?

É.

APÓSTOLO disse...

Prezado EDÚ:

Efetivamente Quincy Jones veio com a banda de Gillespie, cuja formação era a seguinte:
Dizzy Gillespie, Emmett Perry, Carl Warwick e Quincy Jones(trumpetes), Melba Liston, Rod Lewitt e Frank Rehack (trombones), Phil Woods, Benny Powell, Benny Golson, Billy Mitchell e Marty Flax (palhetas), Walter Davis Jr.(piano), Nelson Boyd (baixo), Charlie Persip (bateria) e Austin Cromer (vocal).
Tive o prazer de assistir a 03 apresentações da banda no Teatro República, todas no mês de agosto (cursava então meu 1º ano na Escola Nacional de Engenharia da Universidade do Brasil, no Largo de São Francisco, a pouca distãncia do Teatro).

John Lester disse...

Boa bola Mr. Bravante, obrigado!

Grande abraço, JL.

Salsa disse...

Poxa, Bravantes, esqueci de agradecer a sua simpática presença no Spirito Jazz. Você, Lester e as digníssimas esposas foram uma presença especial. Tocar para os amigos é muito bom.
Abraços,

edú disse...

O Moacyr trocou as bolas – ou fui eu, talvez, quando lhe dei um cd de presente do Walter Bishop Jr.Leia-se - pela testemunha ocular e auditiva – o prezado Apóstolo - Walter Davis Jr.

Carioca da Vila disse...

E eu perdendo o Salsa no Spirito Jazz...!
Tb. quem mandou vir para o Rio e não conseguir voltar (Vitória sem teto!!!)

PREDADOR.- disse...

Sr.Bravante, tudo bem, que Melba Liston era uma grande trombonista ninguém duvida, que este album "M.L. and her 'Bones", cercado daqueles tantos "cobras", é muito bom, também ninguém contestará; mas, covenhamos, bom mesmo é a jazz band de Ronnie Magri e da estonteante Dita Von Teese. Jazz nú e crú. O melhor do jazz, atualmente, em toda galáxia. Coisa de louco!

John Lester disse...

Prezado Predador, cuidado com as coronárias, que elas já não são tão maleáveis e elásticas como outrora. E tome hidroginástica rsrsrs!

Grande abraço, JL.

figbatera disse...

Um lindo som de trombone!

APÓSTOLO disse...

Em tempo (se é que ainda há):

Podemos apreciar MELBA LISTON na banda de QUINCY JONES, na Bélgica e na Suissa em 1960, pelo DVD da JazzIcons.
Ainda que no todo das apresentações o grande destaque seja para o então jovem Phil Woods, MELBA lá estava.