18/05/2011

Voz - Dorothy Dandridge


Após longas e desgastantes discussões com John Lester, eu e Paula Nadler conseguimos convencê-lo a postar resenhas sobre vocalistas no Jazzseen. Para quem ainda não conhecia o blog, é notória a aversão de Lester à voz, instrumento que, embora tenha sido o primeiro à disposição do ser humano, não lhe agrada nem um pouquinho. Sim, eu sei que é curioso, mas Lester considera a voz uma comparsa da poesia, distraindo o ouvinte e retirando a nitidez de cada instrumento durante a execução. Como ele sempre diz em suas conferências e workshops: "letras são tinta sobre papel e, portanto, devem ficar nos livros de poesia, não em execuções de jazz" ou ainda "a voz do músico de jazz é seu trompete ou saxofone". Coisa de doido, não é? Bem, auxiliadas por algumas belas garrafas de Vega Sicilia, o mítico vinho espanhol, eu e Paula aliciamos Lester com as fotografias de Dorothy Dandridge, vocalista que, se não canta como Ella ou Sarah, foi a primeira superstar negra norte-americana, sendo também a primeira atriz negra a ser indicada para o Oscar. Chegamos a pensar que sua beleza seria suficiente para aplacar os empecimentos impostos por Lester, mas não.

Lester quis ouvir todo o álbum Smoth Operator, gravado em 1958 para a Verve. Retorcendo o nariz faixa após faixa, nosso Editor-Chefe chegou a recordar a bela trajetória dos vinhos Vega Sicilia. Disse ele: Sim, esta é a bodega mais antiga e renomada de Ribera del Duero. Fundada em 1864, lançou sua primeira garrafa apenas em 1915, época em que ninguém sabia onde ficava Ribera del Duero. Sob o comando do vinicultor basco Domingo Garramiola, construiu ao longo do século XX o nome que hoje ronda os ouvidos de qualquer admirador de tintos com uva profunda e perfumada, além de inconcebível permanência. Em seu tempo, o vinho era mantido em tonel por mais de dez anos. Em 1966, ano em que nasci, o enólogo Mariano García reduziu o tempo em madeira, atenuando sua pesada influência mas sem permitir que o vinho perdesse sua concentração e caráter.

Em 1982, David Álvarez compra a bodega e sob o comando de Xavier Ausás, o velho barril de carvalho americano foi substituído pelo francês, de qualidade comprovadamente superior. Além disso, com a redução do tempo de permanência em barril, o Vega Sicilia de hoje já não é mais aquele gigante amadeirado dos tempos de vovô Acácio, embora ainda mantenha estrutura sólida e permita um longo envelhecimento em garrafa. Com apenas 200 hectares de cepas predominantemente antigas, o Vega Sicilia tem quase sempre 80% de tempranillo, o restante cortado com alguma Cabernet Sauvignon, Merlot e Malbec. Este Valbuena que acabamos de beber foi envelhecido em barril durante 30 meses, depois mais 30 em garrafa. E este lendário Único que estamos abrindo foi envelhecido durante 15 anos!

Terminando de ouvir o álbum com visível contrariedade, Lester finalmente decide autorizar a publicação desta resenha, ressaltando que tal graça seria concedida apenas em função dos músicos que acompanham a bela moça: Oscar Peterson (p), Herb Ellis (g), Ray Brown (b) e Alvin Stoller (d). Para os leitores deixamos a faixa Body and Soul  .

12 comentários:

pedrocardoso@grupolet.com disse...

Ainda que admire e ouça com frequência alguns(mas) vocalistas de JAZZ, definitivamente a bela DANDRIDGE não canta JAZZ.
Voz suave, com beleza, mas sem JAZZ, nessa faixa possível de ouvir com os acompanhantes.
É importante ressaltar que a bela criatura participou de filmes dignos inesquecíveis, que até hoje admiro.

Salsa disse...

precisavam ver Lester ouvindo este que vos tecla cantando no Wunderbar...
Momento que revelou a desprendida amizade do redator por este músico amador. Valeu, camarada.

John Lester disse...

Prezados, foi exatamente o que tentei argumentar com as meninas, sem êxito. Elas querem porque querem colocar este tipo de voz no Jazzseen.

Eu já disse e repito: a única cantora de jazz que conheço é Billie Holiday. O resto é o resto.

Grande abraço, JL.

PREDADOR.- disse...

Vocês querem que eu diga o que??? A única Dorothy Dandridge que conhecí foi "estrêla cinematográfica", inclusive participou de filmes premiados pela Academia Hollywoodiana, em 1954 "Carmen Jones" e 1959 "Porgy and Bess"(se não me engano com Sidney Poitier e Sammy Davis Jr). Pelo que sei essa Dorothy Dandridge nunca foi cantora de jazz e sim atriz e enganava como "cantora de música popular". Apesar da autorização do titular, esta postagem será "detonada" miss Naura Telles. Além do mais cinema e com o Blog do Grijó. Preferível deixar mr.Lester discorrer sôbre vinhos, que está dentro do contexto.

thiago disse...

massa

pituco disse...

oi naura,

apesar de ser 'canário', de certa forma concordo com master lester...contudo, valeô o post

abraçsons

Frederico Bravante disse...

Só o fato de termos duas mulheres no Jazzseen tentando falar sobre jazz já é uma vitória. Um dia elas acertam o passo, tenho certeza!

Claudia Paiva disse...

Olá! Gostei muito do seu blog! Obrigada por seguir o o meu http://vendertrocar.blogspot.com

Quero seguir os seus dois blogs (Naura Talles e Resenhas Jazzseen), mas está aberto apenas para leitores convidados. Se você puder me convidar, ficarei muito feliz!

Obrigada!

Bjs!!!

Claudia Paiva (Anunciando e Reciclando)

http://vendertrocar.blogspot.com

Nei Lima disse...

Olá, Naura!
Muito obrigado por sua visita.
Apareça sempre que puder!
PARABÉNS pelo blog.
Adoro ouvir Jazz!!!
Serei um visitante mais asssíduo aqui neste cantinho.

Beijocas cariocas!

Internauta Véia disse...

Bonita, a moça!

Marceli disse...

Adorei o post, Naura!

Bjinhos,

Marceli
http://dicadelivro.com.br/

Anônimo disse...

Tienes una página maravillosa!