Após longas e desgastantes discussões com John Lester, eu e Paula Nadler conseguimos convencê-lo a postar resenhas sobre vocalistas no Jazzseen. Para quem ainda não conhecia o blog, é notória a aversão de Lester à voz, instrumento que, embora tenha sido o primeiro à disposição do ser humano, não lhe agrada nem um pouquinho. Sim, eu sei que é curioso, mas Lester considera a voz uma comparsa da poesia, distraindo o ouvinte e retirando a nitidez de cada instrumento durante a execução. Como ele sempre diz em suas conferências e workshops: "letras são tinta sobre papel e, portanto, devem ficar nos livros de poesia, não em execuções de jazz" ou ainda "a voz do músico de jazz é seu trompete ou saxofone". Coisa de doido, não é? Bem, auxiliadas por algumas belas garrafas de Vega Sicilia, o mítico vinho espanhol, eu e Paula aliciamos Lester com as fotografias de Dorothy Dandridge, vocalista que, se não canta como Ella ou Sarah, foi a primeira superstar negra norte-americana, sendo também a primeira atriz negra a ser indicada para o Oscar. Chegamos a pensar que sua beleza seria suficiente para aplacar os empecimentos impostos por Lester, mas não.
Lester quis ouvir todo o álbum Smoth Operator, gravado em 1958 para a Verve. Retorcendo o nariz faixa após faixa, nosso Editor-Chefe chegou a recordar a bela trajetória dos vinhos Vega Sicilia. Disse ele: Sim, esta é a bodega mais antiga e renomada de Ribera del Duero. Fundada em 1864, lançou sua primeira garrafa apenas em 1915, época em que ninguém sabia onde ficava Ribera del Duero. Sob o comando do vinicultor basco Domingo Garramiola, construiu ao longo do século XX o nome que hoje ronda os ouvidos de qualquer admirador de tintos com uva profunda e perfumada, além de inconcebível permanência. Em seu tempo, o vinho era mantido em tonel por mais de dez anos. Em 1966, ano em que nasci, o enólogo Mariano García reduziu o tempo em madeira, atenuando sua pesada influência mas sem permitir que o vinho perdesse sua concentração e caráter.
Em 1982, David Álvarez compra a bodega e sob o comando de Xavier Ausás, o velho barril de carvalho americano foi substituído pelo francês, de qualidade comprovadamente superior. Além disso, com a redução do tempo de permanência em barril, o Vega Sicilia de hoje já não é mais aquele gigante amadeirado dos tempos de vovô Acácio, embora ainda mantenha estrutura sólida e permita um longo envelhecimento em garrafa. Com apenas 200 hectares de cepas predominantemente antigas, o Vega Sicilia tem quase sempre 80% de tempranillo, o restante cortado com alguma Cabernet Sauvignon, Merlot e Malbec. Este Valbuena que acabamos de beber foi envelhecido em barril durante 30 meses, depois mais 30 em garrafa. E este lendário Único que estamos abrindo foi envelhecido durante 15 anos!
Terminando de ouvir o álbum com visível contrariedade, Lester finalmente decide autorizar a publicação desta resenha, ressaltando que tal graça seria concedida apenas em função dos músicos que acompanham a bela moça: Oscar Peterson (p), Herb Ellis (g), Ray Brown (b) e Alvin Stoller (d). Para os leitores deixamos a faixa Body and Soul .
12 comentários:
Ainda que admire e ouça com frequência alguns(mas) vocalistas de JAZZ, definitivamente a bela DANDRIDGE não canta JAZZ.
Voz suave, com beleza, mas sem JAZZ, nessa faixa possível de ouvir com os acompanhantes.
É importante ressaltar que a bela criatura participou de filmes dignos inesquecíveis, que até hoje admiro.
precisavam ver Lester ouvindo este que vos tecla cantando no Wunderbar...
Momento que revelou a desprendida amizade do redator por este músico amador. Valeu, camarada.
Prezados, foi exatamente o que tentei argumentar com as meninas, sem êxito. Elas querem porque querem colocar este tipo de voz no Jazzseen.
Eu já disse e repito: a única cantora de jazz que conheço é Billie Holiday. O resto é o resto.
Grande abraço, JL.
Vocês querem que eu diga o que??? A única Dorothy Dandridge que conhecí foi "estrêla cinematográfica", inclusive participou de filmes premiados pela Academia Hollywoodiana, em 1954 "Carmen Jones" e 1959 "Porgy and Bess"(se não me engano com Sidney Poitier e Sammy Davis Jr). Pelo que sei essa Dorothy Dandridge nunca foi cantora de jazz e sim atriz e enganava como "cantora de música popular". Apesar da autorização do titular, esta postagem será "detonada" miss Naura Telles. Além do mais cinema e com o Blog do Grijó. Preferível deixar mr.Lester discorrer sôbre vinhos, que está dentro do contexto.
massa
oi naura,
apesar de ser 'canário', de certa forma concordo com master lester...contudo, valeô o post
abraçsons
Só o fato de termos duas mulheres no Jazzseen tentando falar sobre jazz já é uma vitória. Um dia elas acertam o passo, tenho certeza!
Olá! Gostei muito do seu blog! Obrigada por seguir o o meu http://vendertrocar.blogspot.com
Quero seguir os seus dois blogs (Naura Talles e Resenhas Jazzseen), mas está aberto apenas para leitores convidados. Se você puder me convidar, ficarei muito feliz!
Obrigada!
Bjs!!!
Claudia Paiva (Anunciando e Reciclando)
http://vendertrocar.blogspot.com
Olá, Naura!
Muito obrigado por sua visita.
Apareça sempre que puder!
PARABÉNS pelo blog.
Adoro ouvir Jazz!!!
Serei um visitante mais asssíduo aqui neste cantinho.
Beijocas cariocas!
Bonita, a moça!
Adorei o post, Naura!
Bjinhos,
Marceli
http://dicadelivro.com.br/
Tienes una página maravillosa!
Postar um comentário