
Sempre que há morte, lembro de
Goeldi – existe algo de soturno em sua obra, ainda que ele fosse capaz de localizar um guarda-chuva vermelho na escuridão da noite. Goeldi dizia que podemos abandonar o mundo, mas o mundo não nos abandona. É mole? Se a gente pensar bem, a vida tem um quê de prisão, de folha de ponto, de suor agarrado no corpo. Certas horas, sobretudo quando o mês vai terminando e o salário já acabou, temos vontade de extrapolar nossa existência, alterá-la de alguma forma, sumir talvez, renascer, camuflarmo-nos, sair correndo em cima de um ônibus, dar cambalhotas na fila do supermercado, não sei bem. Quem me dera ser poeta, percorrer praias desertas recolhendo os robalos que saltam em meu colo, olhar para o sol e dizer: o que foi? Para os amigos que ainda se recuperam do grande salto no ar de
Miguel Marvilla, deixo a faixa Air
24 comentários:
Cheguei primeiro. Sabe, meu caro Lester, esse é justamente o contraponto sonoro necessário ao meu "estado d'alma" - a volúpia, a violência, o incontível. Um maremoto e o naufrágio.
Valeu o post.
mr.lester,
esse sr.cecil tá com tudo...gdes sacadas,inclusive a de que piano é instrumento percussivo e o som tem movimento como num ballet sonoro...sacação bacanuda mesmo.
preciso ouvir mais e ler sobre esse músico poeta...obrigadão pela dica
amplexossonoros
Bom post Lester.....a vida sempre nos dando a oportunidade do recomeço.
Acho o período inicial de Cecil maravilhoso, sabe. Digo do Jazz Advance até mais ou menos o Unity Sctructures...depois tem alguns razoáveis, mas confesso que Cecil nunca foi minha obcessão auditiva como é, por exemplo, Monk, o próprio Archie Shepp, Coltrane, Wynton Marsalis, o Vandermark Five e tantos outros(ótimo grupo de free jazz, por sinal).
Pra ser sincero, não vejo como argumentar sua abstração final, que parece ter sentido apenas pra ele mesmo e pros poucos admiradores da própria abstração.
No entanto, nos escritos acima, tú buscou supostas e boas fundamentações que pudessem dar sentido à música violenta e abstrata de Cecil.
É claro que algumas obras, mesmo quando abstratas, podem expressar um pouco da coerência artística e dos sentimentos que existem na alma do autor: afinal os próprios poetas são extremantes levados à abstração - uma abstração quase etílica, eu diria (rs). Mas, acho que em certo momento Cecil exagerou na dose de abstração e perdeu o rumo da sua própria arte.
Acredito que Van Gogh, Matisse, Picasso, Pollock...todos tomavam suas doses de cachaça, de absinto...mas acredito que eles iam até aquele limite onde o artista não perde o poder de direcionar e fundamenta - de forma empírica - sua própria arte.
Minhas condolências aos amigos do poeta falecido. E meus parabéns ao mano Jay Lester pela ótima resenha dedicada ao polêmico Cecil Taylor!
tecladas sinistras
O jazz tem uma cor: ela é naturalmente do belo.Sou fã incondicional de Cecil mesmo quando sua música me irrita.Afinal sua proposta é desacomodar o sentido auditivo com sua musica e o verbal com sua poesia.
O absurdo se encerra com a morte.
Não sei se Miguel gostaria de ser chamado de poeta Maratimba, mas já que nasceu em Marataízes, talvez caiba esse comentário.
Para quem tem Mar e Villa no nome, e exprimiu, como poucos capixabas, seus sentimentos e angústias, seus amores e temores, a música deve ter sim as cores indefinidas dos tempos.
Grande abraço,
Jorge Elias
Prezados argonautas, obrigado pelas palavras de solidariedade. Continuo acreditando que o poeta é nosso único elo com a beleza, aquela beleza grega do bom e do justo. Qualquer outra elaboração sobre o belo corre risco de perder-se nas notas emitidas pelo piano de Cecil Taylor.
Grande abraço a todos e um boas-vindas ao poeta Jorge Elias, cujo blog e livro recomendo.
JL
Não se brinca com a sensibilidade de cada um. Por isso, tanto a poesia de Miguel Marvilla, cuja obra não conheço, quanto a música de Cecil Taylor, que pouco ouvi, devem ser respeitadas porque, com certeza, comoveram leitores e ouvintes. As artes são a quintessência da comunicação sensitiva.
Capitão e demais tripulantes da bela-nave jazzseen,
Faço questão de repetir, enfatizar, repetir em uníssono:
"artes são a quintessência da comunicação sensitiva".
Belíssimo!
Como também é belíssimo o texto postado pelo Cap. Lester.
Taylor não é dos meus favoritos, mas merece nosso respeito.
Abraços a todos.
Dá até vontade de chorar, bju!
Obrigada pelo comentário.Não concordas comigo e eu concordo plenamente com você, escrevo sim na tentativa de modificar alguma coisa, ou pelo menos me fazer entender através do que escrevo.Não esquecendo:Seu blog é uma preciosidade para o resgate da música quase não ouvida, e da música que sempre estamos a ouvir!
Mais um detalhe, aquela pequena citação fiz a pouco tempo.O contexto me fez colocar aquelas palavras, ainda que eu defenda o contrário.Incrível complexidade do ser humano!
Não adianta buscar fundamentações que respaldem essa dita música de Taylor: agressiva, violenta, abstrata, irritante. Gosto de preservar meus ouvidos para escutar sòmente jazz.
Prezados Mestre Olmiro e Mr. Cordeiro, obrigado pelas visitas. O Jazzseen agradece.
E quero agradecer a nossa nova amiga, Olga, pelas palavras de carinho e incentivo. E, Marília, não chore não, ok?
Não podemos esquecer também do comentário simpático de nosso velho e alquebrado amigo Predador, o último do boppers.
Grande abraço, JL.
Afinal, o que acontecerá ( se já não aconteceu) com os boppers ?
Prezado Mestre Coimbra, os boppers ou estão mortos ou à mingua. Lamentável!
Carissimo Scardua:
Pietà.
Boppers, swingers, seja lá, it´s all jazz.
Nós é que estamos ficando mais vividos, seja o que for, somos tantos outros mais ouvidos.
Sr, Mr. Lester a coisa de uma semana, não paro de ouvir um trompetista, pelo visto não muito conhecido. Tiro essa conclusão pelos comentários – ninguém q comentou até agora disse q o conhecia bem - os seus discos bastante difíceis de se encontrar nas lojas virtuais, na própria modern sound daqui não há muita coisa... E muito provavelmente, o fato d’ele ter se auto-exilado na Europa, ainda em começo de carreira seja a razão para um músico com tamanho talento não estar em tanta evidência quanto merece. O nome do artista é Benny Bailey. Gostaria que desse uma passada pelo sônico e deixasse suas impressões, o q sabe a respeito do artista, etc... A minha intenção é postar, não digo a obra – embora esta esteja meio esquecida, mas pelo menos mais uns 2 ou 3 álbuns. Todos excelentes. E quando digo todos digo os que já ouvi – não exatamente em ordem cronológica:
“Angel Eyes” 1995 / “For Heaven's Sake” 1989 / “Island” 1976 / “The Satchimo Legacy” 2000 / “Big Brass” 1960 / “Four For Jazz & Benny Bailey (A Land Of Dolls)” / “The Balkan In My Soul” nem encontrei as datas destes... Grand Slam 1978 (postado) / Soul Eyes (postado) 1968. Como vês estou embalado em Bailey. Daí a minha curiosidade do que sabes sobre o moço. Por isso mesmo procurei uma postagem mais antiga pra não entrar com assunto totalmente diferente do q se trata.
Grato!
Ok Mr. Sônico. Seu pedido, aqui no Jazzseen, é uma ordem.
Grande abraço, JL.
Contente por decidir seguir o meu blog.
Sempre bom a música que escolhe.
o falcão
Voa Falcão, voa...
mais um espirito livre nos deixou...
Que ele esteja em otima companhia, excelentes textos, e boa musica
ML, ao pensar sobre o Marvilla, imaginei se o jazzseen tb nao seria uma especie de CÈU na in
ternet...
grande abraço
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